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Com orçamento 21% menor, UFSCar avalia suspender atividade

Caso não haja revisão orçamentária, poderão ser interrompidos 65 cursos de graduação nos 4 campi que deixarão de atender 18,4 mil alunos

16/05/2021 05h42 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
Com orçamento 21% menor, UFSCar avalia suspender atividade Fotos: Divulgação

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) sofreu com a redução no orçamento global projetado para este ano, de 21%, o que representa uma perda de aproximadamente R$ 9 milhões.

“A universidade corre o risco de fechar em setembro, por não conseguir manter os serviços ativos”, afirma a reitora da UFSCar, a professora Ana Beatriz Oliveira.

Em 2021, explicou ela, o governo federal repassou apenas 40% do orçamento geral. Entretanto, na sexta-feira, 14, houve a liberação de crédito suplementar feita pelo Ministério da Economia e o percentual atingiu 60%. “Essa verba nos dará fôlego até o meio do próximo semestre”.

A Reitoria prospecta, caso não haja uma revisão orçamentária, que interromperia 65 cursos de graduação, nos quatro campi, o que deixaria de atender 4.226 alunos nos programas de pós-graduação e 14 mil alunos de graduação no âmbito do ensino.

No segmento de pesquisa, serão mais de 700 estudos que estão em atividade que podem ser impactados com a suspensão das atividades da universidade. “Só projetos que estudam a Covid-19 serão 250 pesquisas que correrão o risco de suspensão”.

Ana Beatriz ainda elenca que uma série de atendimentos em saúde promovidos pela UFSCar e Hospital Universitário está na lista de suspensão de atividades, caso não haja a possibilidade de manter a universidade viável.

CAIXA – Para o funcionamento integral da UFSCar, segundo a Reitoria, necessita-se de um orçamento de R$ 50 milhões. Com o corte da verba federal para custear serviços e bens de consumo, a universidade recebeu R$ 41 milhões, sendo cerca de R$ 8 milhões para o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e R$ 32 milhões para custeio das atividades do campus em São Carlos (SP) e os três campi localizados em Sorocaba, Lagoa do Sino e Araras.

“Vamos chegar a um ponto que não poderemos escolher o que cortar. Já estamos com uma série de meses de atraso na energia. Se não conseguirmos manter este pagamento iremos perder, por exemplo, pesquisas com financiamento internacional, que dependem de refrigeração”. A universidade paga em torno de R$ 4 mil mensais de energia.

A reitora elencou ainda o serviço de limpeza e manutenção predial que precisa ser mantido como forma de combate à pandemia do novo coronavírus. “Qualquer percentual de corte orçamentário, por mínimo que seja, impacta diretamente no ensino, pesquisa, extensão e inovação e outras atividades realizadas pela UFSCar”, explica.

Segundo a reitora, o orçamento vem caindo desde 2015, entretanto os cortes mais volumosos ocorreram nos últimos quatro anos. “As atividades já foram sendo adaptadas a um enxugamento. Contudo, qualquer corte a partir deste momento deixa de impactar somente a administração e passa a interferir na atividade fim da universidade”.

Ana Beatriz revela: “Talvez não teríamos dado conta de manter os serviços se as atividades fossem presenciais. A gente só sobreviveu a este período porque o ensino remoto trouxe alguma economia”. A UFSCar está com as aulas e cursos à distância desde março de 2020.

A realidade vivenciada pela universidade federal de São Carlos é a mesma que as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) vem sofrendo com os cortes sistêmicos no orçamento nos últimos anos. “De 2019 para 2020, a queda nos recursos da UFSCar foi de 8,64%. Para 2021, a redução já chegou a 21%, em comparação com 2020”.

“É fundamental esclarecer que, mesmo se o orçamento de R$ 41 milhões for liberado, não é suficiente para custear todas as atividades da UFSCar, o que implicará em ainda mais corte de gastos, inviabilizando diversas atividades essenciais para o funcionamento da instituição”.

PRIORIDADES – De acordo com a reitora, o corte de atividades essenciais terá implicação direta no aumento do desemprego e agravamento da crise atual. “Cabe ressaltar que os recursos discricionários da universidade são, em sua maioria, destinados para pagamentos de pessoas, de tal forma que contribuem para a movimentação da economia”.

Porém, mesmo com o quadro pautado pelo corte de verba e suspensão de projetos e atividades, Ana Beatriz diz acreditar que a universidade irá voltar para uma situação de maior prosperidade.

A Reitoria adotou uma postura desde abril e, diante da falta de recursos, passou a priorizar os pagamentos para atender as demandas consideradas essenciais para a instituição. As bolsas e auxílios financeiros de assistência estudantil e demais bolsas concedidas aos estudantes estão no rol de prioridades da universidade, como as despesas com assistência estudantil como aluguel, gás, energia e água das moradias.

Outro segmento incluído entre as prioridades da UFSCar é a manutenção do pagamento de pessoas físicas, estagiários, das notas fiscais de empresas que prestam serviços terceirizados com dedicação exclusiva de mão de obra como forma de não afetar empregabilidade e subsistência dessas pessoas.

“A nossa política será de, enquanto os contratos estiverem vigentes, não iremos cortar postos de trabalho, pois entendemos que afeta diretamente a vida dessas pessoas. Os postos poderão ser repensados na ocasião do término do contrato”, finaliza.

Movimento

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) do qual a reitora Ana Beatriz faz parte vem acompanhando a movimentação política de corte do orçamento das universidades federais.

Ana Beatriz revela que na semana passada houve uma reunião dos membros da Andifes com representantes do Ministério da Educação e a frente parlamentar que reúne deputados e senadores para dar andamento ao pedido de orçamento extra para a manutenção das universidades federais no país.

Outra frente de atuação ocorreu ainda na semana passada com uma reunião entre os quatro reitores das universidades federais instaladas no Estado de São Paulo com deputados e senadores paulistas para mostrar a gravidade do quadro financeiro e o impacto social promovido pelo corte de verba. “Neste encontro não há direita, esquerda ou centro, todos os parlamentares agregaram ao pedido de recomposição do orçamento das universidades”.

À distância

Modelo de ensino remoto perderá força com fim da pandemia

A reitora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a professora Ana Beatriz Oliveira, afirma que mesmo comprovada a redução de custo com as aulas remotas, que vem ocorrendo desde 2020, não é possível a manutenção do modelo, pois não há como atingir todos os 18,4 mil alunos de graduação e pós-graduação matriculados.

A experiência da pandemia trouxe ferramentas com objetivos de aprimorar processos e garantir acesso universal a todos. Contudo, a reitora explicou que o modelo remoto deixou muitos estudantes de fora como os de origem indígena do interior de Pernambuco e Amazonas que não têm sinal de internet para acompanhar as disciplinas. “A adoção desta medida de forma permanente tem de ser avaliada com muita cautela”, pondera.

Ana Beatriz afirma que a experiência da epidemia vai fazer uma transformação importante na realidade de trabalho e ensino. Mas, o objetivo não deve ser a redução de custo. O modelo de ensino remoto traz prejuízos.

“Temos uma preocupação com a saúde mental das pessoas, porque somos seres de convívio social e a pandemia impossibilita a troca de contato físico. O distanciamento tem um impacto psicossocial que a gente não conhece”, afirma.

Financiamento

Subsídio ao estudante carente está mantido com realocação de verba

A Reitoria da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) diz acreditar no acesso universal e democrático ao ensino superior e tem como uma de suas prioridades a garantia ao direito de permanência estudantil. “Diante disso, para manter as ações do Programa de Assistência Estudantil, que nos últimos dois anos sofreu uma redução de cerca de R$ 2 milhões dos recursos do PNAES, está tendo que realocar recursos do orçamento de custeio, limitando-o ainda mais, para garantir a assistência aos estudantes.

O PNAES subsidia a refeição e moradia de alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica que não têm recursos para se manter na cidade durante o período de graduação. Nestes casos há o custeio das despesas com aluguel, gás, energia, água das moradias e alimentação.

Segundo a universidade, de forma emergencial e como alternativa para garantir recursos neste momento, está sendo lançado um novo programa de fomento à permanência estudantil, que vai captar doações para serem destinadas ao custeio de moradia, alimentação, transporte, dentre outras necessidades desses estudantes em situação de vulnerabilidade.

Diante desse crítico cenário, a UFSCar tem se mobilizado junto com as demais IFES e com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), para recomposição do orçamento das IFES em R$ 1 bilhão (garantindo um orçamento equivalente ao ano de 2020) e traçar ações em defesa da educação, ciência e tecnologia.

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