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Futuro fármaco poderá combater a obesidade sem efeitos colaterais

05/12/2014 21h12 - Atualizado há 10 anos Publicado por: Redação
Futuro fármaco poderá combater a obesidade sem efeitos colaterais

Uma metodologia inovadora que avalia a afinidade entre fármaco e receptor biológico, causando efeitos metabólicos benéficos, ao invés dos temidos efeitos colaterais, é o novo projeto assinado pelo Prof. Dr. Alessandro Silva Nascimento, pesquisador do Grupo de Biotecnologia Molecular do Instituto de Física de São Carlos. O mais interessante é que essa metodologia, que resultará em um novo fármaco, terá como principal função regular o metabolismo basal do paciente, de forma que o próprio metabolismo elevado culmine na queima de gordura; um estudo que poderá ser um adjuvante no tratamento da obesidade e, inclusive, de diabetes, doença que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, acomete 347 milhões de pessoas em todo o mundo, já tendo causado 1,1 milhão de mortes, apenas em 2005. Ainda segundo a OMS, estima-se que esse número duplique até o ano de 2030. 

Em um indivíduo saudável, o açúcar é estocado no próprio fígado. Já em uma pessoa diabética, o fígado encontra dificuldades para estocar esse carboidrato, deixando-o no próprio sangue. Então, captar o açúcar e estocá-lo é importante. “Esse processo tem uma relação muito próxima com a obesidade, pois, se o indivíduo estocar açúcar demais, ele provavelmente ficará obeso e, neste sentido, este novo fármaco, além de ajudar no estoque do açúcar, terá que elevar o metabolismo do paciente”, explica Alessandro Nascimento. 

Nas primeiras etapas desse projeto, o docente estudou três possíveis fármacos, sendo que um deles já está em processo de estudos clínicos, indicando que poderá ser lançado no mercado. Nessa etapa inicial, além de ter enfrentado o obstáculo de encontrar fármacos que produzissem os efeitos metabólicos, o docente tinha que descobrir uma molécula que interagisse especificamente com o receptor bom, sem se relacionar com o ruim. 

Após concluir essa etapa da pesquisa, o docente do IFSC-USP tem trabalhado com um receptor nuclear denominado PPAR gamma (Peroxisome Proliferator-Activated Receptor, na sigla em inglês), que regula o metabolismo de açúcares. Agora, é preciso entender como que ele funciona, já que esse receptor é um mecanismo muito complexo, que regula diversas vias metabólicas diferentes, dificultando o entendimento de qual é o seu real papel quando ativado. Depois que essa fase for concluída, a meta do docente é, de fato, desenvolver o fármaco que possa atuar no citado receptor, prevenindo os efeitos colaterais e, simultaneamente, regulando o metabolismo. 

Outra vertente dessa linha de pesquisa é o chamado “re-propósito de fármaco”, processo onde se busca, entre remédios já existentes no mercado, moléculas que possam controlar o acúmulo de açúcares em nossa corrente sanguínea. Um dos pontos positivos de se trabalhar com fármacos já comercializados, como, por exemplo, a aspirina, é o fato de que eles são seguros para o uso humano, não tendo que realizar diversos exames para confirmar a qualidade e segurança da droga.  

Utilizando um software desenvolvido pelo próprio Grupo de Biotecnologia Molecular do IFSC, Alessandro Nascimento fez uma triagem que apontou o fármaco Metotrexato como possível re-propósito para o receptor PPAR gamma. Após cristalizar esse receptor junto com o citado fármaco, em parceria com o Grupo de Cristalografia do IFSC-USP, Alessandro comprovou a possível interação entre a droga e o receptor. “O próximo passo é realizar alguns experimentos in vivo, que pretendemos fazer em parceria com outros pesquisadores do próprio Instituto”, revela o docente. 

Nesse experimento in vivo, os pesquisadores tratarão dois ratos irmãos, alimentando-os com a mesma ração, porém, acrescentando o fármaco no alimento de um dos ratos, acompanhando seu ganho de peso. “O que nós esperamos analisar neste teste é que, o animal que não recebeu o fármaco, e sim, a dieta calórica, ganhe peso mais rápido do que aquele que ingeriu a droga”, explica ele.

Sendo assim, se essa pesquisa for concluída – e vários indícios apontam que o docente do Instituto está no caminho certo -, os indivíduos que sofrem de diabetes, e que possuem problemas para executar exercícios físicos, poderão se beneficiar desse medicamento, já que sua principal função é inibir o ganho de peso, sem os tais efeitos colaterais.

Alessandro ainda não sabe dizer quando que esse fármaco inovador poderá estar disponível no mercado, mas ele espera concluir definitivamente os testes in vitro em 2016: “Não posso dizer se isso realmente resultará em benefícios nos testes in vivo, mas espero que até no início de 2016 tenhamos todos os resultados finais dos experimentos in vitro”, conclui o docente.  

Índices de obesidade e diabetes

O Centers for Disease Control and Prevention – CDC criou gráficos que ilustram os dados alarmantes da evolução da obesidade e diabetes entre 1994 e 2008 nos Estados Unidos. Conforme é visível na figura acima, em 14 anos foi possível constatar, principalmente na costa leste dos Estados Unidos, que a cada quatro habitantes norte-americanos, um possui obesidade. Também é visível o crescimento da diabetes que, apesar de avançar de forma mais tímida, tende a evoluir assim como a obesidade. 

Isto ocorre porque, na medida em que o indivíduo começa a estocar gordura, principalmente a gordura abdominal, a sensibilidade de nosso corpo à insulina diminui. Por exemplo, quando uma pessoa é diagnosticada com diabetes tipo 2, a primeira recomendação médica é perder peso, pois sempre que alguém perde alguns quilos, a sensibilidade do organismo à insulina aumenta: “Isto demonstra o motivo pelo qual ambas as doenças possuem relações tão próximas. É difícil trabalhar uma delas, sem trabalhar a outra”, finaliza o Prof. Alessandro.

Prêmio 

Entre os dias 9 e 12 de novembro de 2014, o Prof. Alessandro participou do 7º Simpósio Brasileiro em Química Medicinal (BrazMedChem2014), onde teve a oportunidade de avaliar a apresentação de pôsteres dos alunos e pesquisadores participantes, tendo, também, recebido o prêmio “Pesquisador Jovem Talento”, em reconhecimento à sua contribuição na área de química medicinal, com seus estudos envolvendo função, estrutura e modulação de receptores nucleares, tema no qual se insere a pesquisa citada nesta matéria. Organizado em Campos do Jordão, interior de São Paulo, o BrazMedChem2014 teve o objetivo de reunir cientistas brasileiros e estrangeiros que discutiram as inúmeras facetas que compõem a descoberta de novos fármacos, bem como contribuir à formação de estudantes de graduação e pós-graduação na área de química medicinal. 

Além de pesquisador do Instituto de Física de São Carlos, o Prof. Dr. Alessandro Nascimento tem colaborado ativamente em iniciativas promovidas pela Unidade, nomeadamente durante a atual gestão. Entre suas diversas colaborações, o docente ocupa o lugar de Presidente da Comissão Gespública da Gestão da Qualidade e Produtividade do IFSC, consolidando, igualmente, inestimáveis colaborações na Escola de Física Contemporânea, um evento organizado anualmente pelo nosso Instituto, bem como na organização de colóquios e palestras igualmente promovidas pelo IFSC-USP.

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