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Movimento de 1932 completa 88 anos com novas interpretações

09/07/2020 08h59 - Atualizado há 4 anos Publicado por: Redação
Movimento de 1932 completa 88 anos com novas interpretações Fotos: Fundação Pró-Memória

Ascensão de Getúlio Vargas à presidência foi o estopim para a revolta da oligarquia paulista, que ganhou apoio da população, mas conceito de “revolução” é cada vez mais contestado

Há exatamente 88 anos, no dia 9 de julho de 1932, o presidente Getúlio Vargas registrava em seu diário pessoal que a crise política responsável por arrastar o país em estado de tensão há meses parecia ter chegado ao fim. Após concluir seu jantar, o presidente saiu do Palácio do Catete em direção à Praia do Flamengo, local de suas caminhadas noturnas pela cidade do Rio de Janeiro, então capital da República. O passeio seria interrompido por uma notícia que chegava de São Paulo: ao contrário dos prognósticos de Vargas, os paulistas decidiram pegar em armas para destituir seu governo.

Na verdade, a história da primeira metade do século 20 é repleta de violência, desrespeitos à Constituição, traições políticas e um pequeno grupo de pessoas decidindo pelo destino de milhões de brasileiros.

Em meados de 1932 o clima esquentou em 23 de maio, quando quatro estudantes – Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo – são assassinados pelas forças de Getúlio na Praça da República, após um protesto estudantil.

O conflito armado durou de 9 de julho até 2 de outubro e resultou na morte de quase 1.000 pessoas. No dia 13 de julho, ocorreria o primeiro bombardeio aéreo contra uma cidade brasileira: a Força Aérea nacional despejaria um ataque contra a cidade de Cachoeira Paulista — a utilização de aviões para fins militares seria um dos motivos especulados para o suicídio de Santos Dumont, que se enforcou na cidade do Guarujá no dia 23 de julho.

Durante meses, o conflito armado seria recheado dos famigerados boatos (ou fake news, como melhor desejarem): para elevar o moral da população, os líderes paulistas afirmavam que o governo de Vargas estava por um fio e que a vitória paulista era certa.

A realidade se mostrava bem diferente: com tecnologia bélica inferior e menos tropas disponíveis, os paulistas concordariam em assinar a rendição no dia 1º de outubro de 1932. Como promessa, Vargas reafirmava que a eleição de deputados constituintes ocorreria no dia 3 de maio de 1933.

REVISÃO

Conceito de “guerra civil” é mais adequado à realidade, narra especialista

Hoje, o movimento de 32 tem novas leituras e interpretações. Nesta linha, a historiadora da Fundação Pró Memória de São Carlos, Leila Maria Massarão não vê o conflito armado como “revolução”, mas sim como “guerra civil”. “O movimento armado de 1932 tem sido mais discutido e redimensionado atualmente. A história paulista tradicional coloca o evento como uma vitória moral dos paulistas contra Getúlio Vargas. Hoje se discute esta versão.  O movimento de 32 é chamado de revolução, mas suas características não correspondem à uma revolução. Uma revolução luta para alterar profundamente as estruturas do governo do país. Na verdade, os paulistas não queriam derrubar o governo que toma o poder em 1930, mas sim participar deste governo”.

Leila afirma que a guerra civil foi deflagrada principalmente porque a eleite cafeicultura paulista se viu fora do poder após a queda da “República Café com Leite” com a ascensão de Getúlio em 1930. Embora em 1934 seja publicada uma nova constituição, o que deu aos paulistas o argumento de uma hipotética “vitória moral”, na verdade, apenas três anos depois Getúlio decreta o Estado Novo.

SÃO CARLOS NA GUERRA – Ao todo, São Carlos enviou 11 contingentes de soldados às frentes de batalha em 1932. Destes, quatro foram mortos em combate na Revolução Constitucionalista de 1932 – Alípio Benedito, Benedito da Silva, Modesto Sant’Anna e Luiz Rohrer.

FALTA DE MEMÓRIA

Jornalista lamenta que data tenha se tornado “um feriado a mais”

O jornalista, memorialista e cronista, Cirilo Braga lamenta que o brasileiro não valorize sua história e suas datas importantes.  “As datas cívicas no Brasil acabam sendo apenas um feriado a mais no calendário, e neste ano o feriado paulista foi antecipado, porque não existe a compreensão de que eventos históricos trazem ensinamentos e reflexões importantes”, comenta. 

Para Braga, falta a consciência da ligação direta entre passado, presente e futuro. “Falta a noção do quanto os fatos passados se relacionam com os fatos do presente. O levante constitucionalista de 1932, motivo do feriado de 9 de julho, maior conflito armado do país no século passado, foi melhor difundido enquanto viveram pessoas que dele participaram ou que vivenciaram a época. Uma ‘guerra civil’ em que a causa dos perdedores triunfou, a elaboração de uma nova Constituição, merece atenção.  De minha parte, o evento sempre esteve presente, porque meu pai, Cirilo da Silva Braga, participou dos combates integrando uma das frentes de voluntários que partiu de São Carlos. E porque conheci pessoalmente pessoas que falavam do movimento com orgulho e forneciam detalhes do que se passou, como o jornalista João Neves Carneiro, autor do livro São Carlos na Revolução Paulista”, narra ele.

Segundo o jornalista, a cada ano o 9 de Julho, seria importante difundir o que exatamente se rememora para exista um entendimento de como nosso país se construiu para ser como o conhecemos hoje.

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