Novas variantes fomentam 3ª onda de Covid-19, preveem cientistas
Com vacinação lenta e isolamento social baixo, especialistas em epidemiologia traçam nova curva ascendente no contágio do coronavírus
A circulação na Região Central de uma nova cepa que traz a mutação da Covid-19 denominada L452R, que está presente na variante indiana, foi detectada na última semana por meio da análise feita pelo laboratório da UNESP. As Prefeituras de Porto Ferreira e Descalvado anunciaram a presença da variante em pacientes internados nas cidades. Especialistas apontam que a variante indiana seja 60% mais contagiante que a P1, conhecida como cepa de Manaus.
As análises feitas pela Prefeitura de São Carlos (SP) indicaram até o momento a circulação da variante de Manaus na cidade. O último resultado apresentado apontou cinco casos da cepa P1 do novo coronavírus. Em 26 de março deste ano o Departamento de Vigilância em Saúde já tinha confirmado, por meio das análises do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, oito casos da cepa brasileira (P1) em São Carlos. Das 10 amostras enviadas em março, oito eram variantes P1 e duas, de outras linhagens já conhecidas de SARS-CoV-2.
Especialistas em epidemiologia indicam a vacinação mais rápida como a maneira mais certeira de evitar uma terceira onda de contágio. Paralelamente, o poder público, em consonância com a autoridade sanitária, deve ter cautela com a abertura das restrições de isolamento, como explicou Ethel Maciel, médica e doutora em infectologia pela UFES.
A médica reforça a tese do Instituto de Métrica em Saúde e Avaliação da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, a qual indica que uma nova onda de contágio poderá levar o país a ter 751 mil mortos em decorrência do novo coronavírus, até agosto.
O pior cenário projetado por analistas norte-americanos aponta que a P1, que surgiu em Manaus, e já se encontra em 16 países latino-americanos, continue se espalhando e eleve novamente o número de mortes ao patamar acima de 3 mil por dia.
Ethel explicou que a projeção leva em consideração o cenário no qual as pessoas vacinadas deixam de usar máscara. “A vacina não elimina o vírus, impede a forma mais grave da doença que leva a hospitalização. Porém, o contágio continua, mesmo com a imunização. A continuidade do uso de máscara tornou-se essencial para o controle da doença”.
A médica reforça que os dados do Instituto de Métricas são usados pela Casa Branca e a Organização Pan-Americana de Saúde como referência na análise da pandemia de Covid-19. A progressão estimada pelo instituto se baseia no número de mortes e casos da doença no Brasil que atingiu na sexta-feira (21) 446.527 mortes e 15.976.156 casos. Já São Carlos contabilizou 333 mortes e 18.981 casos.
Os especialistas norte-americanos frisam que mesmo com a queda de internação hospitalar, o número de mortes poderá atingir novo patamar devido à previsão do aumento de infecção por conta das novas variantes e em contrapartida a redução do uso de máscara e do distanciamento social.
Para evitar a terceira onda, que tende a ser mais devastadora com as variantes circulantes no Brasil e em especial na Região Central do estado de São Paulo, a aceleração da vacinação é medida central apontada por especialistas.
VACINAÇÃO – Segundo o painel central da Universidade de Oxford, o Brasil atingiu a média diária de 1,1 milhão de vacinados em abril. Contudo, a falta de insumo para a fabricação de novas doses de imunizante, aliada a um planejamento ineficaz para a compra de vacinas, promoveu, em maio, uma queda no número de pessoas imunizadas. Até o momento o país tem 19,64% da população vacinada.
São Carlos atingiu na sexta-feira, 21, a marca de 90.781 doses aplicadas em idosos acima de 60 anos, gestantes e puérperas acima de 18 anos, profissionais da Saúde e Educação dos ensinos fundamental e médio, acima de 46 anos, indígenas; além de pessoas com comorbidades e com deficiência permanente severa.
CONTÁGIO – O país conta atualmente com 70 mil novos casos diários. Só em São Carlos, o número diário de notificações positivas está acima de cem. Este patamar é considerado alto pelas autoridades sanitárias mundiais.
Outra projeção, da Rede Análise Covid-19, que conta com equipe multidisciplinar de pesquisa pelo Brasil, alerta que o país apresenta tendência de pico de casos da doença – como observado em julho de 2020 e início de 2021. Ao pico segue-se queda, estabilização e novo aumento.
Dados da Rede Análise Covid-19 mostram que o Brasil está às vésperas da curva crescente. Já a Plataforma de Dados da USP e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) projeta que o número de casos deva atingir 16,1 milhões a partir desta semana.
A mesma opinião foi dada pelo boletim do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz, emitido na quinta-feira, 20, o qual alertou para a intensa circulação do vírus pelo país, apesar da ligeira queda na taxa de mortalidade de ocupação de leitos de UTI nos hospitais. “Uma terceira onda, agora, com taxas ainda tão elevadas, pode representar uma crise sanitária ainda mais grave no Brasil”.
VACINÔMETRO ATÉ 21/5/2021:
Total: 90.781doses aplicadas
Trabalhadores da Saúde:
1ª dose: 9.773
2ª dose: 9.438
Total: 19.211 doses
Idosos:
1ª dose: 42.585
2ª dose: 21.066
Total: 63.651 doses
Trabalhadores Educação:
1ª dose: 1.870
2ª dose: 1.707
Total: 3.577
Comorbidades:
1ª dose: 4.333
2ª dose: 0
Total: 4.333
Pessoa com Deficiência Permanente Severa:
1ª dose: 7
2ª dose: 0
Total: 7
Indígenas:
1ª dose: 0
2ª dose: 2 (tomaram a primeira dose na aldeia e a segunda em São Carlos)
Total: 2.