Pesquisa mostra como a rede de contatos influencia pandemia
Imagine uma cidade com 100 mil habitantes se deslocando, diariamente, a destinos comuns e cotidianos: escola, trabalho, atividades religiosas, atendimentos médicos e atividades de lazer, entre outros, inclusive utilizando ou não o transporte público. Em tempos de pandemia, como vivemos atualmente, é possível estimar como esses deslocamentos podem influenciar na transmissão de um vírus? De acordo com uma equipe de cientistas do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), também de São Carlos, a resposta é sim. A garantia dos especialistas vem de um novo modelo matemático desenvolvido por eles que é baseado em redes complexas e de múltiplas camadas. O ComplexVid-19, como foi denominado, pode, assim, fornecer dados mais precisos de uma população de qualquer cidade, ou até mesmo de todo um país.
ComplexVid-19 é um aprimoramento do conhecido modelo matemático SIR, que é aplicado ao estudo de epidemias analisando possíveis ações futuras e suas consequências. “Construímos um modelo robusto que leva em conta todas as possibilidades avaliando o comportamento cotidiano de uma população”, descreve o professor Odemir Bruno, do Grupo de Computação Interdisciplinar do IFSC.
Sociedade virtual
Na prática, os cientistas inserem dados reais no modelo ComplexVid-19 e, de acordo com os resultados, podem estimar as principais ações que devem ser tomadas pelos gestores. Esses dados estão todos disponíveis publicamente por entidades como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outros órgãos públicos. A partir desta inserção, é possível simular a inclusão de um ou mais indivíduos “infectados” no sistema ComplexVid-19 e analisar seus comportamentos cotidianos.
“Poderemos criar no ComplexVid-19 uma sociedade virtual, porém com dados reais. E isso pode incluir dados de populações de um país como o Brasil, de um estado como o Rio de Janeiro, uma cidade como São Paulo, ou um bairro, por exemplo”, descreve Bruno.
Dados públicos informam desde o número de crianças matriculadas em escolas, quantidade de trabalhadores, usuários do transporte público em horários diversos, frequentadores de templos religiosos e o número estimado de pessoas hospitalizadas pela covid-19, entre outros. “É justamente a partir desses dados que é formada uma rede complexa. Agora imagine incluirmos um grupo de ‘infectados’ nessa sociedade virtual. Teremos então uma simulação mais precisa da circulação do vírus”, estima o pesquisador.