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Presidente do Comitê Covid-19 da UFSCar diz que nova cepa do vírus amplia contaminação

Mutação genética do coronavírus já foi detectada na capital paulista; estudos indicam que a nova linhagem é mais contagiosa

06/01/2021 13h39 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
Presidente do Comitê Covid-19 da UFSCar diz que nova cepa do vírus amplia contaminação Fotos: Mary F. Calvert / Reuters e Alessandra Tarantino / AP Photo

A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo confirmou nesta segunda-feira, 4, os dois primeiros registros da nova variante do coronavírus no País. Os casos já haviam sido divulgados no dia 31 de dezembro pelo Grupo Dasa, rede privada de laboratórios, e foram confirmados após o exame ser repetido pelo Instituto Adolfo Lutz, vinculado ao governo paulista.

Trata-se da cepa B.1.1.7, detectada originalmente no Reino Unido e já identificada em diversos países do mundo. Embora não pareça ser mais letal, ela é 56% mais contagiosa.

O médico, especialista em Medicina Intensiva e em Clínica Médica, Professor Bernardino Alves Souto, do Departamento de Medicina da UFSCar faz uma análise sobre a descoberta da nova cepa do coronavírus.

O professor, que tem especialização lato sensu em epidemiologia em serviços de saúde, além de mestrado e doutorado em infectologia e medicina tropical e pós-doutorado no domínio de microbiologia e infecção, preside o Comitê de Controle e Cuidados relacionados ao novo coronavírus da UFSCar.

Souto reforça que além das medidas de higiene e distanciamento social as pessoas devem combater informações falsas e os discursos políticos contrários às orientações técnicas e científicas; que se estimule a solidariedade entre as pessoas e o interesse pelo bem comum; que se qualifiquem os sistemas de saúde e de apoio social para que se possam cumprir efetivamente as medidas de controle epidemiológico necessárias.

Leia a entrevista concedida ao Primeira Página na manhã de ontem, 5.

PRIMEIRA PÁGINA – As mutações dos vírus são previstas e ocorrem com velocidade. A OMS já identificou sete mutações do vírus no brasil desde o início da pandemia. No caso da nova cepa do Covid-19 que já foi detectada na capital paulista ontem, 4, o que ela traz de novo no processo de contaminação?

BERNARDINO ALVES SOUTO – Ao que tudo indica, a variante recentemente identificada do Novo Coronavírus tem um potencial maior de transmissibilidade. Isso significa que ela pode passar com mais facilidade de uma pessoa para outra e, consequentemente, maior número de pessoas poderão ficar doentes. Nesse caso, poderemos ter um grande aumento no número de novos casos da doença em um período de tempo mais curto, sobrecarregando significativamente o sistema de saúde. Isso faz com que seja necessário intensificar ainda mais as medidas preventivas como uso de máscara, distanciamento social e higiene pessoal.

PP – A mutação tem interferência externa como clima da região ou o nível de higienização da população, por exemplo?

SOUTO – A mutação é uma alteração genética, geralmente adaptativa, por meio da qual o vírus costuma alcançar melhores condições para se perpetuar na natureza. Diversos fatores podem oportunizar mutações, especialmente condições que impõem dificuldades ao vírus, forçando a que ele se adapte para continuar existindo. O que provavelmente tem contribuído para induzir mutações no novo Coronavírus neste momento é o seu espalhamento. Quanto mais o vírus se espalha, quanto mais circula de um organismo para outro, maior a chance de desenvolver mutações. É possível que condições naturais como clima e outras coisas influenciem, mas, não parece ser este o fator mais importante neste momento. Quanto mais violamos o isolamento social, quanto menos usamos máscara, quanto mais deixamos o vírus se espalhar, maior a chance dele desenvolver mutações. Essas mutações podem ou não favorecer o vírus e podem ou não fazer diferença para nós. Já existem muitas mutações no novo Coronavírus que, até agora, não fizeram diferença para nós. Esta última já gerou preocupação porque aumentou a capacidade do vírus de se disseminar por entre as pessoas.

“Já existem muitas mutações no novo Coronavírus que, até agora, não fizeram diferença para nós. Esta última já gerou preocupação porque aumentou a capacidade do vírus de se disseminar por entre as pessoas”

PP – O que o vírus mutante interfere na gravidade do quadro clínico dos contaminados?

SOUTO – Isso ainda está em estudo, mas, o que se tem até agora é que, apesar desta nova variante se transmitir com mais facilidade, não foi observada causando doença mais grave. O que ela pode fazer é aumentar o número de pessoas doentes. O problema é que, mesmo não causando doença mais grave, maior número de pessoas doentes faz o vírus circular mais amplamente, aumentando a chance de pessoas com fatores de risco para a forma grave da doença adquirirem a infecção e morrerem em consequência dela.

PP – A nova linhagem do vírus elimina a anterior predominando no processo de evolução?

SOUTO – A variante que se transmite com mais facilidade, que se replica mais intensamente e que dura mais tempo no organismo infectado é a que passa a predominar. Nesse caso, observa-se em outros países, onde a mutação se deu há mais tempo, que a nova variante já é a forma mais comumente encontrada nos doentes.

“O Brasil precisa optar por combater a pandemia. Até agora não se viram medidas de combate à epidemia sendo aplicadas no país na medida necessária para seu controle. É preciso circular informações corretas, científicas e de qualidade…”

PP – Qual o dever de casa do Brasil e do brasileiro para mitigar o contágio da nova linhagem?

SOUTO – O Brasil precisa optar por combater a pandemia. Até agora não se viram medidas de combate à epidemia sendo aplicadas no país na medida necessária para seu controle. É preciso circular informações corretas, científicas e de qualidade; é preciso mobilizar a sociedade pela causa coletiva; é preciso incentivar, subsidiar, apoiar e garantir o direito das pessoas ao isolamento social, ao distanciamento físico, ao uso correto de máscaras, etc; é preciso priorizar as necessidades sociais, humanas e sanitárias a partir de bases técnicas e científicas; é preciso qualificar o sistema de saúde para que este consiga aplicar efetivamente as medidas de diagnóstico, isolamento de casos, rastreamento e quarentena de contatos entre outras ações contra a disseminação do vírus na comunidade; individualmente, as pessoas precisam colaborar evitando ao máximo sair de casa, mantendo o distanciamento físico e social, usando máscaras adequadamente toda vez que sair de casa, não fazendo reuniões, aglomerações, etc. É um trabalho em que parte tem que ser feito pelo poder público e parte tem que ser feito pelas pessoas, de uma maneira organizada em que todos apoiem todos em união contra um problema que é, ao mesmo tempo, individual e coletivo.

PP – As vacinas em desenvolvimento no mundo já abrangem o bloqueio da nova cepa, ou teremos que esperar pela modernização do medicamento para restringir essa mutação?

SOUTO – Ao que tudo indica, as vacinas não perderam eficácia contra esta nova variante, mas, não há certeza absoluta sobre isso e estudos já estão sendo providenciados para melhor entender esta questão. A depender desta e de outras mutações que o vírus poderá sofrer, é possível que seja necessário ajustar a vacina para garantir a eficácia contra novas variantes do vírus. No caso da gripe, por exemplo, isto é feito anualmente. A cada ano são feitos ajustes na vacina da gripe para combater a variante viral circulante que costuma ser diferente entre um ano e outro.

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