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Sandra Camargo: a saga de uma são-carlense na Europa

Mulher negra, ela se adaptou à cultura irlandesa, conheceu parte da Europa; hoje educa crianças autistas e canta no Coral de Waterford

08/03/2024 08h08 - Atualizado há 5 meses Publicado por: Redação
Sandra Camargo: a saga de uma são-carlense na Europa Divulgação

Há onze anos a são-carlense Sandra Camargo deixou o Brasil para encarar o desafio de viver na Europa. Ela primeiro foi viver em Dublin, capital da Irlanda. Viveu por lá durante dois anos, mas como a comunidade brasileira lá é muito grande, sentiu dificuldades de se aprofundar no idioma inglês. Aí, partiu para Waterford, a cidade mais antiga da Irlanda, onde vive até hoje.

“Na Irlanda as pessoas são muito mais objetivas. Nosso português rodeia para falar sim e para falar não. Me tornei mais prática e direta. Culturalmente, aqui os horários e as regras valem e não há jeitinho. Não há privilégios para ninguém. Passei a dar valor em outras profissões. No Brasil olhamos as coisas de cima para baixo e aqui não existe”.

Sandra nasceu em São Carlos e é formada agente de turismo pelo SENAC. Cursou Letras na FADISC. Chegou a atuar com agente de turismo com várias viagens pelo Brasil e também foi professora de cursos técnicos deste segmento.

Na Europa ela já atuou como professora de yoga, sendo que passou dois meses na Índia para fazer o curso. Foi guia de turismo, montando roteiros e acompanhando grupos na Irlanda, Escócia e Inglaterra. Foi enfermeira auxiliar em hospital, e iniciou como aupair, que é uma espécie de baba que mora na casa da criança.  Depois fez vários cursos na área de saúde e educação infantil. Ela também hoje atua como voluntária duas vezes por semana na instituição Help Hands, que entrega alimentos para moradores de rua.

Curiosa, Sandra foi conhecer vários países europeus e passou por Inglaterra, Escócia, França, Espanha, Portugal, Itália, Holanda e Alemanha, além de Marrocos, Índia e Turquia. Entre a França ela caminhou 36 dias fazendo o Caminho de Compostela caminhado 750 quilômetros.

Hoje trabalha na saúde governamental da Irlanda, uma espécie de SUS. Atualmente atua em uma escola de crianças autistas de 3 a 6 anos de idade com atividades educativas e lúdicas. Ela desenvolve atividades múltiplas preparando-as para as escolas formais. Algumas delas já estão na pré-escola para desenvolver algumas capacidades. Falo a linguagem dos sinais da Irlanda que é específica para crianças autistas. Trabalho com linguagem de sinais e também a verbal.

Segundo Sandra, o machismo na Europa é diferente em cada país. “Itália, Portugal e Espanha são países latinos e o comportamento é muito mais sexista, machista do que na Irlanda. Na Irlanda o homem tem uma participação muito mais efetiva na criação e educação dos filhos. A guarda compartilhada é muito mais normal. A criança está no dia a dia no pai. É muito diferente do brasil, onde o homem começa uma segunda família e não cuida nem dos filhos do primeiro casamento. O comprometimento dos homens irlandeses com os filhos é muito grande”, explica ela.

Sobre ser uma mulher negra na Irlanda, ela afirma que nunca foi vítima deste tipo de preconceito.  “A Irlanda não é como a Inglaterra ou França que tem vários negros que nasceram no país. Temos agora uma miscigenação. Há 11 anos, quando cheguei não era assim”, relata.

“No meu caso especificamente, por trabalhar com turismo, eu enfrento o racismo de peito aberto. Mas nunca me senti intimidada por racismo. Dominar a língua é muito importante para entender o que está acontecendo ao redor e é muito mais fácil rebater. O racismo não precisa estar estampado na cara. Mas posso dizer que a Irlanda aceita muito bem a diversidade. É um país hoje muito eclético, que se abriu para vários exilados. Eles gostam muito de brasileiros para trabalhar, principalmente nos frigoríficos. A Irlanda é forte na tecnologia e o brasileiro se dá muito bem por aqui. Para mim não foi difícil me adaptar, mesmo sendo mulher e negra. Sempre tive uma percepção muito grande do que é racismo, mas nunca me intimidei”, destaca Sandra.

Ela reforça que o domínio do inglês é essencial para a qualidade de vida. “Por não dominar a língua, no início, percebi um pouco de arrogância percebi a dificuldade deles lidarem com estrangeiro há 11 anos. Mas é muito pessoal, isso não quer dizer que outras mulheres negras tenham se adaptado da mesma forma”.

Atualmente, além do trabalho diário, Sandra, dona de uma voz de cantora de blues, faz parte do Coral de Pop Rock de Waterford, sendo a única estrangeira em meio a 53 integrantes. Ela é uma das sopranos. O coral se apresenta no teatro municipal e em vários eventos. “Gosto de descobrir coisas e fazer coisas novas. Faz parte da minha personalidade ir atrás de coisas diferentes do meu dia a dia”.

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