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Confissões de uma ex-bulímica

02/07/2013 17h44 - Atualizado há 11 anos Publicado por: Redação
Confissões de uma ex-bulímica

Essa matéria que vocês estão lendo hoje começou há algum tempo atrás. Como sempre falo, sou completamente contra padrões: padrões de comportamento, padrões de inteligência, padrões de beleza. Realmente acho incrível as diferenças e acho que é isso que dá cor ao mundo.

A meu ver, quando descobrimos nosso verdadeiro potencial, nossa verdadeira essência, algo muito particular e único que designa o objetivo por você estar aqui, num mundo de aproximadamente 7 bilhões de habitantes, ficar preso a padrões cai por água a baixo.

E foi sobre esse assunto que estava conversando com duas amigas, quando na mesma semana por coincidência ou não, as duas me relataram casos de bulimia. Bom, como não acredito em coincidência pedi a uma dessas amigas que relatasse sua história, a fim de alertar e porque não ajudar quem possa estar passando por uma situação semelhante a essa. Admiro muito essa amiga, fiquei muito feliz por ter confiado em mim parte de sua história, e agora a todos vocês. Fazer uma viagem para dentro de si pode ser doloroso, mas é a única forma de encontrar nossa verdadeira essência.

Venho contar uma parte da minha história, e quem sabe ajudar através desse relato mães, pais e jovens.

Sempre fui uma criança fofinha, como dizia minha avó eu era saudável, e realmente sempre fui graças aos esforços de minha mãe.

Desde os 8 anos de idade já frequentava os consultórios de endocrinologistas e nutricionistas fazendo regimes, caminhadas, etc. Tudo em vão, nada parecia adiantar.

Minha mãe nunca desistiu, tudo o que era pedido pelos médicos sempre foi feito com rigor, mais nenhum resultado significativo era alcançado na perda de peso, embora eu tivesse uma saúde perfeita sem colesterol, triglicérides, pressão alta ou qualquer outro tipo de patologia que normalmente acontece em pessoas obesas.

Em meio a toda essa luta é claro que eu ia à escola, e essa foi uma fase terrível da minha vida, sempre gostei de estudar, mais ir a escola não era nada agradável em meio a tantas piadas, eram piadinhas de todo tipo desde músicas ou simplesmente a exclusão do circulo de amigos. Todo esse quadro somente se agravou com a chegada da adolescência, que foi onde um quadro de Compulsão seguido de Depressão e Bulimia teve início.

São sentimentos confusos que se misturam, me lembro muito bem como era horrível a sensação de incapacidade, a tristeza, o desejo de simplesmente sumir. Estudava no período da manhã, quando chegava em casa ia para meu quarto para fazer as tarefas e estudar, mas ali sozinha sempre lembrava das piadas feitas na escola e por mais que tentasse fugir das lembranças elas pareciam me perseguir, num ato involuntário fugia daquelas sensações na comida entrando num circulo vicioso, comia, comia, comia e então vinha a sensação de culpa, o peso por me sentir incapaz de mudar a realidade, a tristeza de saber que estaria magoando minha mãe e familiares, enfim me sentia incapaz. O sentimento de tristeza, a depressão, o choro silencioso, pois não queria que minha mãe percebesse nada, tomavam conta de mim, então descobri uma fórmula mágica para me livrar da comida. Vomitar!

Que solução mágica, podia então comer tudo o que quisesse, só tinha que vomitar tudo depois, e pronto. E foi o que começou acontecer, inicialmente só de vez em quando, mas a frequência ia aumentando a cada dia, pois não tinha mais que controlar a compulsão, já que depois era só vomitar e começar tudo de novo. Tiveram dias que cheguei a comer-ficar mal-vomitar, e logo em seguida comer de novo, tipo assim, sair do banheiro e ir para a cozinha.

Graças a Deus, eu tive uma mãe atenta, mesmo fazendo tudo de forma discreta para que ela não percebesse nada, é claro que ela notou meu comportamento estranho:

– Ficar trancada no quarto

– Idas constantes a cozinha

– Idas ao banheiro

Foi quando ela marcou médico e o diagnóstico: Bulimia compulsiva emocional.

Mas a luta não estava no fim, aliás, ela estava só começando, eu tive que ser ainda mais discreta, então escondia comida no quarto para poder comer sem que minha mãe percebesse, fiquei agressiva e rebelde, e agora tinha mais uma arma em meu poder os medicamentos para depressão e anfetaminas, comecei a fazer uso indiscriminado destes medicamentos, minha mãe escondia os remédios e eu achava, era uma luta, chegando até a tomar uma cartela toda de uma vez, mais uma vez minha mãe estava por perto e me levou rapidamente para o médico e foi possível fazer uma lavagem estomacal.

Então começaram as idas aos psicólogos, a adolescência passou e já era uma jovem adulta obesa, com a compulsão sob controle, mais não curada.

Sempre tive altos e baixos, períodos sem depressão e com depressão, hoje aprendi a fugir da depressão. Sabe quando dá aquela vontade de ficar sozinha? Vou rapidamente para um lugar movimentado.

Quando dá vontade de comer, faço artesanato, assim fico com as mãos ocupadas.

Hoje entendi que o ser humano deve comer para sobreviver, e não sobreviver para comer.

Sempre me senti presa num corpo, onde não me encaixava não me via nem me sentia obesa, e quando olhava no espelho vinha toda uma tristeza, que desencadeava todo um processo.

Hoje, adulta, graças a cirurgia bariátrica, tenho o corpo no qual sempre me senti, olho no espelho e enxergo a pessoa que estava presa. Embora para muitos a cirurgia é um transtorno, para mim foi a solução.

Há 3 anos não tenho nenhuma crise de compulsão.

Há 3 anos não tomo nenhum medicamento.

Me sinto livre e dona dos meus sentimentos e do meu corpo e do meu destino.

Agradeço muito minha mãe todos os dias por estar tão atenta, por brigar, xingar, esbravejar.

Sempre culpei minha mãe, minha irmã, meus amigos de escola, professores, enfim, o mundo, quando na verdade a única pessoa culpada era eu mesma.

Não adianta fugir, se temos um problema a única forma de resolvê-lo é enfrentando, olhe para dentro de si.

Nos encontramos na próxima quarta com mais nutrição, saúde e beleza.

Participe da nossa coluna enviando dúvidas e sugestões de assunto para: [email protected].

 

 

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