3 de Julho de 2024

Dólar

Euro

Cultura

Jornal Primeira Página > Notícias > Cultura > Benjamin Moser fala sobre Clarice Lispector e Susan Sontag, suas duas biografadas

Benjamin Moser fala sobre Clarice Lispector e Susan Sontag, suas duas biografadas

29/12/2019 00h01 - Atualizado há 5 anos Publicado por: Redação
Benjamin Moser fala sobre Clarice Lispector e Susan Sontag, suas duas biografadas Foto: Divulgação / Companhia das Letras

Em sua carreira como biógrafo, o americano Benjamin Moser orgulha-se da pesquisa que fez sobre duas grandes escritoras, a brasileira Clarice Lispector (1920-1977) e a americana Susan Sontag (1933-2004), também duas mulheres fascinantes. Foram trabalhos de fôlego: para desvendar o enigma clariciano, Moser pesquisou durante dez anos até publicar, em 2009, pela antiga Cosac Naify, Clarice, Uma Biografia.
Fôlego idêntico exigiu o trabalho de sete anos para descobrir a pessoa que se escondia por trás da grande pensadora, cuja mecha branca no cabelo escuro era a marca registrada. Tarefa que Moser, depois de entrevistar 573 pessoas, concluiu ao publicar Sontag – Vida e Obra, que sai agora no Brasil, pela Companhia das Letras, que também assumiu a biografia de Clarice.
Juntos, os dois trabalhos representam um desafio para o leitor, tamanha a complexidade do legado das duas autoras. Afinal, se Clarice ainda perturba com o modo anticonvencional de organizar uma narrativa, valendo-se de uma escrita intimista, Susan deixou uma vasta obra, em que tanto desvendou os mistérios da fotografia como, em ensaios, celebrou a arte da complexidade e da ambiguidade.
Um desafio que exigiu esforços distintos do biógrafo. Afinal, na pesquisa sobre Clarice, Moser teve dificuldade ao entrevistar as pessoas que a conheceram, desabituadas a conversar sobre tais intimidades. Para a biografia de Susan, no entanto, o trabalho maior foi desvendar a verdade em meio à profusão de histórias que ouviu dos amigos da americana, todos acostumados a falar – e também a mentir – muito.
Ainda no caso de Susan Lee Rosenblatt, que logo adotou Sontag, sobrenome do padrasto, o biógrafo contou com o valioso acesso aos arquivos da autora, mantidos nos arquivos da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e que incluem mais de 100 periódicos, milhares de cartas, fotografias de família, rascunhos de manuscritos e até mesmo seu computador pessoal.
Das entrevistas, a mais esperada foi com a fotógrafa Annie Leibovitz, com quem Susan manteve um relacionamento duradouro, diversas vezes negado em público. Annie relutou em receber o biógrafo, mas, quando o fez, foi extremamente sincera em seu depoimento. Para Moser, elas se completavam, pois Susan era fascinada por fotografia enquanto Annie se tornou famosa pelos retratos de celebridades.
Susan e Clarice, no entanto, viviam em função da escrita. No texto de Clarice, “as personagens não são seres excepcionais, antes são pessoas comuns, vivendo em um mundo, por assim dizer, mágico; mas de uma magia diferente, clariciana, feita de enigmas e perplexidades – uma magia nascida da exacerbação da palavra”, no entender do poeta Ferreira Gullar.
Já Susan revelava respeito pelo ofício. “Escrever, em última análise, consiste em uma série de permissões que conferimos a nós mesmos para que possamos nos expressar de determinadas formas, e possamos também inventar, saltar, voar, cair até descobrir nosso traço peculiar de narrativa e insistir nele. Em outras palavras, até descobrirmos nossa liberdade interior. É ser severo, sem ser crítico consigo”, escreveu ela para o New York Times, em 2001.

Recomendamos para você

Comentários

Assinar
Notificar de
guest
0 Comentários
Comentários em linha
Exibir todos os comentários
0
Queremos sua opinião! Deixe um comentário.x