Chefe antidiscriminação da Fifa lamenta falta de fiscalização nos estádios
O chefe da Fifa para o combate à discriminação criticou a entidade que governa o futebol mundial nesta quinta-feira, 3, por não utilizar funcionários especificamente designados para lidar com abuso racista ou homofóbico entre torcedores nas partidas da Copa do Mundo.
Jeffrey Webb disse haver uma “desconexão” entre o objetivo declarado da Fifa de acabar com a discriminação nos jogos e seu fracasso em apoiar uma proposta para utilizar pessoal treinado para investigar e relatar casos dessa natureza.
“Não há motivo pelo qual nesta Copa do Mundo não temos representantes anti-discriminação fazendo as devidas investigações e relatos”, disse Webb, presidente da Força Tarefa Anti-Discriminação da Fifa, a repórteres.
Webb, natural das Ilhas Caimã, é também presidente da confederação que representa países das América Central e do Norte e também do Caribe, a Concacaf, além de ser membro do comitê executivo da Fifa.
A Força-Tarefa proposta em março, que treinou funcionários antidiscriminação, deveria ser utilizada no Brasil, mas a ideia não foi aceita, disse Webb em uma coletiva de imprensa diária da Fifa.
“Realmente, este é um dos componentes centrais da luta contra o racismo e da discriminação”, disse Webb.
No caso mais notório envolvendo possível abuso de torcedores na Copa do Mundo no Brasil, o Comitê Disciplinar da Fifa determinou no mês passado que não haveria punição para a federação de futebol do México após torcedores mexicanos terem utilizado a palavra “puto” –que em espanhol tem conotação homofóbica– contra goleiros durante jogos.
Claudio Sulser, chefe do Comitê Disciplinar, disse na mesma coletiva nesta quinta-feira que a decisão de não punir o México refletiu o fato de que o abuso não foi designado a um jogador em particular.
A Fifa também não aplicou punição contra torcedores alemães que pintaram seus rostos de preto na partida contra Gana, e contra torcedores croatas que mostraram bandeiras e insígnias neo-nazistas.
Webb disse que o caso do México foi o tipo de comportamento que normalmente seria investigado por funcionários anti-discriminação treinados, que já estão presentes em partidas organizadas pela Uefa, que controla o futebol europeu, e outros grupos regionais.
“Isso é exatamente o que estamos tentando trabalhar e deveria ter sido implementado para esta Copa do Mundo”, disse Webb.
“É óbvio que há um desconexão entre o que nós da Força Tarefa consideramos como racismo e discriminação e o que o Comitê Disciplinar considera como racismo e discriminação.”
Outro representante da Fifa disse que o pessoal anti-discriminação da Fifa não foi usado na Copa do Mundo no Brasil porque não houve tempo suficiente para treinar representantes de todos os 32 países participantes entre março, quando a proposta foi feita, e o começo do torneio em junho. O treinamento seria iniciado para eventos futuros, segundo ele.