Especialistas comentam vitória de “O Artista”
O grande vencedor do Oscar 2012 foi o filme francês “O Artista”, dirigido por Michel Hazanavicius. Filme mudo foi o grande vencedor da cerimônia e levou estatuetas em cinco das principais categorias.
Desde 1929, um filme mudo não ganhava uma premiação no Oscar. Para o professor de Direção de Cinema e Roteiro do curso de Imagem e Som da UFSCar, João Massarolo, esses prêmios se devem ao fato do cinema atual passar por uma transição, de novas tecnologias e formatos. Para ele essa premiação foi uma forma de homenagear a história do cinema. “Esse filme é uma homenagem ao cinema, ele reproduz as qualidades do cinema antigo, da fotografia em preto e branco e faz homenagem ao período clássico, ou seja, esses formatos de filmes que já tiveram sua época e não voltarão mais. É como se com esse filme fechasse um ciclo, já que os filmes estão sendo feitos e apresentados em formatos modernos. É um filme muito bonito e bem feito”, comenta Massarolo.
“Outro fator que para mim fez com esse filme levasse o Oscar, foi o fato de ser um filme Europeu, essa foi uma forma de valorizar a qualidade do cinema francês. O cinema americano sempre foi conhecido pela qualidade na parte técnica. Eles realmente sabem como fazer filmes, mas a parte artística quem sempre levou a melhor foi o cinema europeu”, diz o professor.
O cineasta Carlos Eduardo Magalhães acredita que premiar um filme como “O Artista” é olhar para a história e valorizar o trabalho de um cinema que existiu na primeira metade do século XX e que foi fundamental para a consolidação da indústria de cinematográfica no País. “É premiar a inventividade, a linguagem cinematográfica e, ao mesmo tempo, tomar um rumo na contramão da linguagem contemporânea, que valoriza cada vez mais a pouca duração das imagens, o cross media, os efeitos especiais e elencos recheados de atores já extremamente rodados e famosos”, opina.
Carlos Eduardo conta que o cinema sonoro surgiu e começou a ser difundido no final da década de 20. “No começo alguns realizadores foram resistentes ao advento do som, como é mostrado de maneira muito bela no filme Cantando na chuva. Podemos dizer que o Oscar é uma premiação muito mais conectada ao cinema sonoro do que ao cinema mudo ao longo de suas 84 edições”, afirma o cineasta. “Premiar ‘O artista’ é olhar para essa época esquecida do cinema, trazer ela de volta à tona, valorizar os trabalhos artísticos mudos que inspiraram as primeiras gerações de filmes vencedores do Oscar e, ao mesmo tempo, formar um novo olhar do público que frequenta o cinema comercial. É uma forma de mostrar que filmes são atemporais e influenciam gerações e gerações, independente de quando foram feitos”.