Do turismo cultural ao sabão artesanal: histórias que a pandemia proporcionou
Cidadão de São Carlos descobriu um nicho, uma oportunidade e uma fonte de renda com empreendedorismo.

O brasileiro se deparou com a descontinuidade de muitas profissões que só existem com o contato direto com o público. O coronavírus fechou boa parte da atividade do turismo no país. O turismólogo Paulo Sérgio Martins, 43, faz parte desse grupo que buscou no empreendedorismo caseiro uma nova fonte de renda. Quando sua atividade profissional cessou, a produção do sabão artesanal ganhou foco.
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O projeto que resultou na produção do Sabão D’Avó foi pensado para minimizar o impacto no meio ambiente ao reutilizar insumos como óleo de cozinha. De acordo com Martins, a iniciativa se mostrou promissora e o sabão já chegou a Londres (Inglaterra) pelas mãos de uma cliente. “Enxerguei um nicho, uma oportunidade e uma fonte de renda”.
O olho na inovação trouxe ainda a versão ralada do produto em barra para a máquina de lavar. Ontem, 20, ele lançou o produto líquido com base no extrato de coco voltado para roupa de crianças e de quem tem alergia a produtos químicos. “Mas pode ser utilizado na higienização da casa e louças”, explicou.
O produto líquido é entregue em um recipiente de vidro e a partir da segunda compra o cliente só paga o líquido caso retorne com o vidro para o envasamento. “Pretendo estimular a reutilização do recipiente para gerar menos descarte de vidro na natureza”.

APRENDIZADO
Os desafios da produção trouxeram ensinamentos como, por exemplo: comprar, produzir e comercializar. “Jamais havia passado em minha cabeça produzir sabão caseiro ecológico”.
Quanto a primeira barreira, Martins explicou que, sobretudo, a inexperiência na aquisição dos ingredientes da receita trouxe dúvida e incerteza. Ele enumera: “Depois vieram as vendas. Como vender? Como convencer uma pessoa que o seu produto é de fato bom? E ainda como faz valer o seu investimento. E o desafio de não ter vergonha de se expor e mostrar o seu produto”.
Contrapondo a tudo isso, veio o retorno das pessoas elogiando o produto, que limpava muito bem a louça, pano de chão, roupas e utensílios domésticos. “Hoje vendo bastante para pessoas que moram fora de São Carlos. Depois uma cliente me disse que o sabão foi parar em Londres, na casa da irmã. Eu dei muita risada. Isso é impagável!”
O LEGADO
Martins conta que o projeto surgiu espontaneamente a partir de uma ação social há quatro meses. “Eu quis doar algo que fosse construído por minhas mãos. Fiz o sabão caseiro e após alguns dias vieram muitos elogios”. O sucesso gerou a primeira encomenda por uma enfermeira que gostou do produto para lavar as roupas brancas de trabalho.
Ele continua trabalhando na área de turismo no segmento cultural e social, mas em uma escala bem menor. Enquanto não há uma solução definitiva para acabar com o distanciamento social, a produção de sabão passou a ser prioridade. Martins ainda tem dúvida se o empreendedorismo caseiro passará a ser sua fonte de renda principal. “Ainda não sei, só o tempo dirá!”
“Acho que a pandemia está deixando esse legado no qual está evidente que não temos o controle de nada e vivemos uma incerteza. Muitas oportunidades passam na frente do nosso nariz, agora o desafio é encontrá-las”. Martins reforça que pretende atuar de forma paralela com o trabalho de turismo.
FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO
A internet foi a fonte de troca de experiência e conhecimento na produção do Sabão D’Avó afirmou Martins. Mas a mãe, a dona Maria Martins também contribuiu com a memória afetiva de como produzia a barra do detergente em outras épocas. “Fui atrás de informações que pudessem contribuir para fazer um produto aceitável. Contei com a contribuição de amigos da área da química e do comércio e do marketing para me orientar. Portanto um aprendizado que estou tendo é que sozinho não chegamos a lugar algum”.
Por conta da atividade de produção de sabão caseiro ecológico estar incipiente, Martins disse que ainda não se formalizou como empreendedor individual. Questionado se hoje o seu trabalho caseiro consegue lhe dar a mesma renda que recebia no mercado formal, ele foi incisivo: “Não, ainda não”.
COMERCIALIZAÇÃO
A propaganda boca a boca faz toda a diferença avalia o novo empreendedor. “Contudo, eu ofereço para os meus amigos, conhecidos e contatos e já tenho o Sabão D’Avó na rede social. Mas eu sempre entro em contato com as pessoas que adquiriram o produto e peço o retorno, ou seja, o pós-venda” finalizou.
Por Hever Costa Lima