Com queda nos investimentos, Brasil cresce 0,6% no 3º tri
A economia brasileira cresceu apenas 0,6 por cento no terceiro trimestre deste ano quando comparada com o segundo trimestre, muito abaixo do esperado pelo mercado, com a pior retração dos investimentos em mais de três anos.
Pesou ainda o consumo do governo, que cresceu apenas 0,1 por cento – o pior desempenho em um ano, por conta das restrições de gastos em período eleitoral -, e o fato de o setor de serviços, até então um dos motores da atividade, ter mostrado estagnação.
Mesmo a leve aceleração do consumo das famílias – que cresceu 0,9 por cento no período ante 0,7 por cento no segundo trimestre – serviu pouco para compensar os números ruins.
Segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 30, em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou expansão de 0,9 por cento entre julho e setembro.
A expectativa de economistas era de crescimento de 1,2 por cento na comparação trimestral e de 1,9 por cento na anual, segundo a mediana das previsões. Os números reais ficaram bem abaixo até das piores projeções -1,0 e 1,5 por cento, respectivamente.
O fraco desempenho já fez economistas iniciarem um processo de revisão para um crescimento neste ano que não vai ultrapassar 1 por cento, além de gerar críticas à forma como o governo tem tentado estimular a economia.
“(O governo tomou) medidas de curto prazo que contemplam um outro ou outro setor, o que no fundo gera muitas restrições, tem muito intervencionismo. Essa é uma das razões que tem afastado o investimento”, avaliou o economista da Tendências Rafael Bacciotti.
Apesar de fraca, a expansão trimestral registrada entre julho e setembro foi a melhor desde o primeiro trimestre de 2011, quando ela foi de 0,7 por cento, e mostrou uma modesta melhora sobre o desempenho do segundo trimestre, cujo crescimento foi revisado para 0,2 por cento, ante 0,4 por cento sobre o trimestre anterior.
Mas as incertezas sobre a recuperação persistem ainda mais com a quinta retração trimestral seguida dos investimentos. No período, a formação bruta de capital fixo, uma medida de investimentos, caiu 2 por cento, a queda trimestral mais forte desde o primeiro trimestre de 2009, quando despencou 11,9 por cento por conta do auge da crise internacional.
SERVIÇOS ESTAGNADOS
“Chamam a atenção a forte queda dos investimentos e o desempenho do setor de serviços”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB.
“Os números indicam que apesar de todos os estímulos injetados na economia, ela não está reagindo como se esperava e que é necessário o governo continuar dando suporte para o crescimento porque claramente o setor privado ainda não se engajou nessa recuperação”, acrescentou.
O setor de serviços, que vinha sendo um dos suportes para o PIB, teve crescimento zero na comparação trimestral, afetado pela queda de 1,3 por cento em Intermediação financeira e seguros.
Já a produção agropecuária teve crescimento de 2,5 por cento no trimestre passado, depois de ter avançado 6,8 por cento no segundo trimestre. O setor iniciou o ano com queda expressiva de 7,7 por cento, afetada pelas más condições climáticas.
E a indústria, setor que mais sofreu com a turbulência internacional, mostrou uma pequena recuperação na comparação trimestral, com crescimento de 1,1 por cento. Beneficiada por medidas de estímulo do governo, a indústria teve o melhor desempenho desde o segundo trimestre de 2010.
A expansão foi puxada pelo segmento da indústria de transformação (+1,5 por cento) e construção civil (+0,3 por cento). Mas na comparação anual a produção industrial teve queda de 0,9 por cento em relação ao mesmo trimestre de 2011.
Os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, já adiantaram que novos estímulos virão, depois das várias medias adotadas neste ano para alimentar a economia, afetada pela crise internacional.
“Todas as medidas atenuaram os efeitos da crise externa, e se o governo não tivesse adotado nenhuma, possivelmente estaríamos (com crescimento) entre zero e 0,5 por cento no ano”, estimou o economista da Austin Rating Felipe Queiroz. (reportagem adicional de Diogo Ferreira, no Rio de Janeiro, e Camila Moreira e Natália Cacioli, em São Paulo)