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Projeto apoia agricultores familiares de assentamentos rurais

15/09/2014 15h14 - Atualizado há 10 anos Publicado por: Redação
Projeto apoia agricultores familiares de assentamentos rurais

A implementação de práticas que levem ao uso adequado do solo e a um desenvolvimento rural sustentável, alcançados por meio da adequação ambiental dos sistemas produtivos. Estes são os principais objetivos do projeto “Desenvolvimento participativo de sistemas agroflorestais e agroecológicos em assentamentos rurais na Bacia do Médio-Tietê/Sorocaba”, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Iniciado em 2014 sob a coordenação do professor Fernando Silveira Franco, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA) do Campus Sorocaba, a meta do projeto é gerar, sistematizar e oferecer auxílio e assessoria técnica a agricultores familiares dos assentamentos rurais de municípios da região de Sorocaba e, também, a órgãos de governo e conselhos municipais. 

Os métodos utilizados baseiam-se nos princípios agroecológicos, que dispensam o uso de agrotóxicos e prezam por um sistema mais equilibrado e biodiverso, no qual ocorre o controle biológico natural de eventuais pragas. “Todos os princípios usados como base para essa proposta casam com o ideal de sustentabilidade dos sistemas de produção e, consequentemente, com a conservação e preservação ambiental, como, por exemplo, o respeito à biodiversidade do local, não usando herbicidas e sim o potencial das plantas herbáceas e arbóreas que nascem naturalmente e aproveitando-as como matéria orgânica que irá nutrir o solo e as plantas”, explica o coordenador. 

 

Demanda ecológica e social

A criação do projeto de extensão se deu em decorrência do baixo número de instituições locais voltadas à temática agroecológica, insuficientes para atender ao alto número de estabelecimentos de cultivo mantidos por famílias assentadas na região pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e pelo Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo). Essa demanda ficou evidente nas diversas ações realizadas pelo Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã da UFSCar desde 2009, entre elas o 1° Fórum Regional de Agroecologia, em 2011, quando houve grande procura por orientação e apoio técnico por parte dessas famílias.

Itapetininga e Iperó, onde estão localizados os assentamentos Horto Bela Vista e Fazenda Ipanema, têm sido os principais municípios de atuação do projeto, com 20 famílias participando em Itapetininga e 40 em Iperó, aproximadamente. “Nós trabalhamos geralmente com grupos organizados com os quais fazemos contato a partir da manifestação de interesse por parte dos próprios grupos. Vamos negociando e seguimos sempre respeitando o ritmo dos grupos, em um processo participativo. É um processo que chamamos de pesquisa-ação participativa, pois não vamos com a intenção somente de ensinar, e sim de construirmos juntos o conhecimento. Para a agroecologia, este é um princípio forte e com o qual buscamos nos orientar sempre”, destaca Fernando Franco. 

Desse modo, são feitos diagnósticos prévios para entender os problemas de cada local e para que o próprio agricultor possa compreender as suas causas e possíveis soluções, e como as práticas agroecológicas podem ajudar a resolvê-los. “A partir dessa análise, entramos com nossas ideias e propostas técnicas, que convergem com o conhecimento que eles já possuem sobre as plantas, árvores, solo e o ambiente que manejam”, explica o docente da UFSCar. 

Os cultivos em Itapetininga e Iperó que contam com apoio do projeto são diversificados e produzem alimentos como alface, rúcula, cenoura, beterraba, tomate, mandioca, banana, goiaba, acerola e vagem, dentre outras variedades de hortaliças e frutas. Os resultados atingidos são tanto ambientais quanto socioeconômicos, já que os métodos implantados, além de contribuírem para a preservação do ambiente, trazem melhor qualidade aos alimentos, valorizando-os e contribuindo para o aumento da renda, geralmente baixa, desses agricultores. “A partir do apoio à produção agroecológica, que agrega valor aos produtos, eles estão vendendo, por exemplo, em feiras, diretamente ao consumidor, e também em mercados institucionais como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), destinados à merenda escolar”, conta Fernando Franco. 

As oficinas que são ministradas aos agricultores incluem temas que vão desde o manejo dos sistemas de base ecológica (capina seletiva, poda, cobertura de solo) até a produção autônoma de biofertilizantes, mudas e sementes. Os assuntos, porém, podem variar de acordo com a demanda específica de cada localidade. “Uma atividade que é importante no processo são as visitas de intercâmbio, nas quais eles vão conhecer experiências exitosas de outros agricultores como eles, que estão com resultados positivos, e observar o que poderia ser adaptado à realidade deles, já que a ideia não é simplesmente copiar ideias de outros locais, às vezes socioambientalmente diferentes”, conta o professor. O objetivo, segundo ele, é que essas práticas sejam cada vez mais estimuladas entre os próprios agricultores e, posteriormente, passadas adiante, gerando um ciclo de irradiação das técnicas. Além da melhoria nos processos produtivos e de organização, o projeto também apoia alguns grupos na conquista da certificação participativa, importante selo emitido pelo Ministério da Agricultura. 

 

Multiplicação

O projeto “Desenvolvimento participativo de sistemas agroflorestais e agroecológicos em assentamentos rurais na Bacia do Médio-Tietê/Sorocaba” conta com uma equipe de 35 pessoas, entre professores, estudantes de graduação, pós-graduação e técnicos em agroecologia. Está integrado ao Núcleo de Agroecologia Apetê Caapuã, também do Campus Sorocaba da UFSCar, e possui apoio das prefeituras de Sorocaba, Iperó e Araçoiaba da Serra, bem como de órgãos de fomento à pesquisa, do Itesp e de diversas cooperativas e instituições de ensino da região. “Sempre buscamos implantar áreas experimentais demonstrativas para que possamos analisar os processos na prática, por meio de monitoramento, e usando indicadores e metodologias científicas, gerando teses e trabalhos científicos para validar os processos”, conta Fernando Franco. 

Entre as diversas ações conduzidas pelo projeto (que incluem seminários, palestras, cursos e outras atividades abertas ao público) ocorreu em maio deste ano a Caravana Agroecológica, com roteiro de visitas aos agricultores familiares e assentados de Ibiúna, Iperó, Piedade, Araçoiaba da Serra e Itapetininga. O objetivo da atividade – que serviu de preparação para o 3° Encontro Nacional de Agroecologia, que aconteceu na Bahia – foi difundir as experiências agroecológicas e realizar observações em cada local acerca de suas dimensões sociais, ambientais e econômicas, e também dos entraves e dificuldades enfrentadas pelos camponeses. Além da troca de experiências e vivências entre a comunidade acadêmica que participou da caravana, gestores públicos e agricultores, foi produzido um documentário que será utilizado como material didático. 

Outra atividade mantida é a Feira de Agroecologia, realizada no Campus Sorocaba UFSCar todas as terças-feiras, das 12 às 19 horas, onde os agricultores têm a oportunidade de vender seus produtos. “Temos quatro produtores na Feira, que oferecem hortaliças, frutas, raízes, algumas geleias caseiras, doces e bolo de banana, pães integrais, tortas, empadas e outros produtos de padaria, todos integrais e orgânicos”, enumera Franco. “Os agricultores que estão participando estão muito satisfeitos pelo retorno financeiro”, complementa. Também está sendo organizado um grupo de consumo coletivo chamado Comunidade que Sustenta Agricultura (CSA).

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