‘Queremos ser protagonistas da indústria 4.0 no Brasil’, diz presidente da WEG
Uma
das poucas empresas brasileiras do setor industrial voltadas à
exportação – no ano passado, 57% da receita de quase R$ 12 bilhões
da empresa vieram de fora do País -, a catarinense Weg investe
pesadamente em pesquisa em desenvolvimento (foram mais de R$ 300
milhões em 2018). Segundo o presidente da companhia, Harry Schmelzer
Jr., que está no cargo desde 2008, a companhia transformou seu
negócio nos últimos três anos. Esse movimento agora vai culminar
em uma novidade importante: sua primeira oferta exclusivamente de
software.
Depois de comprar duas companhias de tecnologia – uma
voltada a softwares de gestão industrial e outras de internet das
coisas -, a Weg se prepara para aplicar gestão de dados e
inteligência artificial à medição da performance de motores e
também à administração de indústrias. “Vamos vender só
software. A empresa poderá pagar por mês ou por ano, como serviço.
E os módulos de manutenção da Weg poderão ser acoplados a outros
sistemas do mesmo tipo”, diz Schmelzer Jr.
Além da busca
por aquisições, inclusive no exterior, essa atuação mais digital
também afetou o centro de treinamento de profissionais da Weg – que
forma por ano 200 jovens entre 16 e 18 anos. Novas disciplinas foram
adicionadas à capacitação, que antes era focada em trabalhos
industriais. Agora, mesmo quem está sendo treinado para trabalhos
manuais, precisa entender softwares de gestão e ter noção de
inteligência artificial.
Essa equipe com novas habilidades
ajudará a alavancar o objetivo da companhia de comandar a instalação
de uma base industrial mais moderna no País. “Primeiro
focaremos as indústrias nacionais e depois vamos para o exterior.
“Queremos ser protagonistas da indústria 4.0 no Brasil.”
Leia,
a seguir, os principais trechos da entrevista:
A Weg é
conhecida por equipamentos. Como ela está trabalhando para embutir
tecnologia em suas soluções?
No
setor de automação industrial, existe a necessidade de os processos
se comunicarem mais. Quando você faz um planejamento de uma fábrica,
com o chamado RP, que é um software para este fim, você tem
informações que já existem e, à medida que a fábrica continua a
funcionar, novos dados são agregados. E aí posso ter informações
em tempo real sobre a fábrica, e não só o fechamento diário ou
semanal. E isso serve para planejar e prever problemas. A automação
está entrando também em um software de gerenciamento de sistemas de
fábrica – o que já é uma demanda global, embora seja incipiente no
Brasil. Tudo em busca da produtividade.
E
isso vale para os motores da Weg?
O
motor elétrico é usado para o funcionamento de indústrias de
processo – como a de papel e celulose e as siderúrgicas. E hoje está
mais barato analisar e armazenar dados em nuvem. Com isso, o motor
avalia a própria performance – e pode prever o surgimento de algum
problema, como uma sobrecarga ou o desgaste de determinadas peças.
Dessa forma, você não é surpreendido com paradas não previstas. O
“motor scan” gera informações de modo permanente. Você
tem dados sobre o motor em tempo real. Numa indústria de mineração,
por exemplo, o pó do minério pode sobrecarregar os rolamentos. E
esse sistema consegue fazer esses alertas, com inteligência
artificial.
Ou
seja: a tecnologia vai evitar paradas nas fábricas.
E
fazer predições. O algoritmo vai aprendendo aos poucos. Isso traz
previsibilidade à gestão de ativos. Uma fábrica precisa ter a
melhor eficiência operacional de ativos e pessoas. E você consegue
isso utilizando melhor os recursos. E tudo isso vai vir por meio da
digitalização da automação.
A
Weg fez duas aquisições recentes de empresas de tecnologia. A ideia
é ter o software cada vez mais combinado com os equipamentos da
empresa?
A
Weg comprou a PPI-Multitask, especializada em execução de sistemas
de manufatura e internet das coisas para a indústria. É um negócio
novo para nós. A Weg sempre fez software de automação industrial
na base, aplicado ao hardware. Mas agora outra coisa vai acontecer,
pois todo esse sistema de supervisão de motores poderá ser feito em
um aplicativo, em uma plataforma digital. A partir disso, vamos
vender só software, de diversas formas. A empresa pode comprar ou
pagar por mês ou por ano, como serviço. E os módulos de manutenção
da Weg poderão ser acoplados a outros sistemas do mesmo tipo.
E
isso pode ser usado em outros segmentos, além do industrial?
Sim.
Outro negócio da Weg é o de eficiência energética. Sugerimos às
empresas formas de melhorar o consumo. Isso também pode virar um
aplicativo pago como serviço. Temos um exemplo na energia solar. Nos
painéis solares, fornecemos aos clientes de autogeração a
tecnologia que permite o acesso a informações sobre o funcionamento
do sistema. Nos grandes parques solares, a situação é diferente.
Poderemos vender um software complementar para ajudar na manutenção.
Em parques eólicos, a Weg tem um negócio de manutenção –
garantindo a gestão integrada de ativos espalhados por vários
locais do País.
Também
houve a compra da V2Com, de internet das coisas. Como isso se encaixa
na estratégia da companhia?
O
que está crescendo hoje no mundo? Internet das coisas, big data e
computação nas nuvens. A automação da indústria é um processo,
não vamos pular diretamente para a indústria 4.0. Para chegar lá,
precisaremos de gestão de informação mais eficiente, de mais
capacidade de decisão. A V2Com é a internet das coisas, que nos
permite acoplar sensores aos equipamentos para garantir novas coletas
de dados. A gente vai ajudar o cliente a medir o que ele não vinha
medindo. Vamos fazer isso tanto com hardware quanto com software. E
vamos padronizar todas as informações para que isso possa ser
acessado em uma linguagem só.
A
Weg ainda está buscando aquisições, dentro e fora do Brasil?
Para
o mundo da indústria 4.0, a Weg olha empresas de fora do País. Elas
têm os recursos humanos, de cientistas e arquitetos de dados. No
caso da PPI-Multitask, optamos por uma empresa brasileira, que
conhece o status de adoção de tecnologia pelas indústrias
nacionais. Ela tem um software que pode ser aplicado em todos os
níveis de indústrias. Você pode começar a jornada (rumo à
digitalização) em qualquer momento, pois se trata de um sistema
modular. A V2Com veio principalmente dentro do projeto de ajudar na
gestão de ativos do setor de energia elétrica. Primeiro vamos focar
as indústrias nacionais e depois vamos para exterior.
E
a ideia é começar essa oferta pelo Brasil, como um
laboratório?
Sim,
porque temos de ganhar experiência e criar soluções. Vamos
escolher alguns mercados e depois escalar internacionalmente.
Como
isso afeta a estratégia de RH da companhia?
Estamos
na fase de transformar inovações já testadas dentro da operação
da Weg em negócio. Por isso, precisamos ajustar nosso centro de
treinamento, que agora também treina cientistas de dados. Buscamos
outras formações. Temos meninos e meninas de 16 anos que já entram
para aprender sobre inteligência artificial. Isso já vem ocorrendo
há três ou quatro anos.
Ou
seja: antes as pessoas aprendiam trabalhos industriais e agora estão
mais voltados à tecnologia?
Sim,
mas continuamos a formar também os profissionais tradicionais, mas
eles passam a atuar com novas ferramentas, têm de ter noção de
inteligência artificial, dominar determinadas linguagens de
software. Eles também passam por um treinamento de tecnologia.
Em
2018, a Weg investiu mais de R$ 300 milhões em pesquisa e inovação.
Isso tende a crescer?
A
Weg tem feito investimentos consistentes em inovação. E temos de
entrar em novos mercados, o tempo todo. A gente avança na China, nos
EUA e no Brasil. E buscamos novos negócios, em energia eólica,
solar e agora na gaseificação de lixo. Estamos também em
mobilidade elétrica. E estamos entrando na indústria 4 0. Nossa
visão é manter essa jornada, sem projetos mirabolantes. Queremos
ser protagonistas da indústria 4.0 no Brasil.