Rosângela está a dois centésimos de Londres
Nem tudo, porém, é decidido em frações de segundo na vida de Rosângela Santos. Nascida nos Estados Unidos, veio para o Brasil com apenas um ano para cuidar de uma pneumonia. Depois de um início fulgurante que a levou, com 18 anos, para os Jogos Olímpicos de Pequim, onde foi quarta colocada no revezamento 4x100m, o ritmo acelerado foi freado bruscamente por uma série de lesões na coxa. Com o tempo mais devagar, quase parando, Rosângela pensou em desistir. Voltou neste ano com bons resultados. Às vésperas do Pan, quis descansar.
“Participei de muitas competições desde março desse ano e não queria vir. O meu técnico me ofereceu duas semanas de férias. Passei então a fazer um novo ciclo de treinos, mas sem grandes expectativas”, disse Rosângela, antes de revelar um bate-papo com a saltadora Maurren Maggi. “Ela disse que as coisas acontecem quando menos esperamos. E tinha razão”.
De tanto correr, às vezes é Rosângela quem decide controlar o seu tempo. Para se arrumar para a prova dos 100m livre, a velocista brasileira gastou uma hora – ou 3.600 segundos, suficiente para repetir a prova 320 vezes. Chegou na pista com unhas pintadas, batom, sombra nos olhos e maquiagem no rosto. Depois de competir, aparecia em entrevistas na TV ainda arrumada, com os cabelos cuidadosamente tratados.
Neta de um dos fundadores da Mocidade Independente de Padre Miguel, Rosangela gosta de sair para dançar charm no Viaduto de Madureira, ponto tradicional da Zona Norte carioca, quando se permite esquecer o relógio. E sonha em sair como passista em sua escola do coração para sentir o tempo parar na Marquês de Sapucaí: “Já desfilei na Avenida, mas foi no carro. Passou muito rápido. Queria ir mais devagar”.
Na pista do Estádio de Atletismo, Rosângela Santos não foi o único destaque verde-amarelo nesta terça-feira. O dia também foi marcado pela liderança de Lucimara da Silva no heptatlo feminino. Disputadas quatro das sete provas da modalidade, Lucimara somou 3.660 pontos, 118 a mais do que a vice-líder, a cubana Yasmiany Pedroso. A atleta brasileira manteve uma boa regularidade ao longo do dia: ganhou as duas primeiras provas – 100m com barreiras e salto em altura -, foi a segunda colocada nos 200m e terminou o arremesso de peso em terceiro.
Nas três eliminatórias do dia, o Brasil classificou para as finais todos os seus atletas inscritos. Na prova feminina dos 400m rasos, Geisa Coutinho garantiu vaga na final com o quarto tempo das eliminatórias (52s56), enquanto Joelma Sousa ficou com o sétimo melhor tempo (52s96). Na versão masculina, Anderson Henriques fez 45s71 e também se classificou para a disputa por medalhas. Por fim, na corrida feminina dos 100m com barreiras, Maila Machado entrou na final com a sétima melhor marca (13s36). As três finais serão disputadas nesta quarta, dia 26.
Nas outras finais do dia, Nilson André terminou a prova dos 100m masculino em quinto lugar, com 10s26 — mesma posição de Cristiane Santos nos 800m, em que marcou 2m06s15. No arremesso de peso, Ronald Julião, que, na véspera, havia conquistado o bronze no lançamento de disco, ficou com a nona colocação, com 17m94. (cob.org.br)