Amores de mercado
Exemplos claros desse efeito são os aplicativos de namoro
Muito tem se transformado no último século, tanto sobre a forma como nos relacionamos com o outro, como na forma como esperamos que esse outro esteja disponível para nós. Na coluna desta semana vamos discutir um pouco sobre os modos que têm se tornado comuns para os relacionamentos interpessoais, colocando o outro como algo a ser comprado e jogado fora.
É comum que, atualmente, em nossos ambientes mais corridos e acostumados à lógica de oferta e demanda se transfira essa lógica para os relacionamentos. Então, “se essa pessoa não vai me dar o que eu quero logo de início, vou buscar outra, porque com certeza existirá essa outra no mercado, em outra prateleira de produtos”.
E o problema não está em buscar relacionamentos, amizades e amores melhores ou saber o que se busca. A questão é: quando coloco uma relação como produto a ser comprado, até onde eu me dispondo a aceitar que as relações também precisam de trabalho para melhorar e eu também tenho minhas falhas?
Zygmunt Bauman, ao falar sobre a “liquidez”, já nos alertava sobre as mudanças que enfrentaríamos nas nossas relações, que vem se tornando cada vez mais superficiais e com menos contato. Isso porque quando permitimos que uma relação entre nessa lógica (de que pode ser facilmente substituída) eu estou em algum nível dizendo que as pessoas (assim como produtos numa prateleira) são facilmente substituíveis.
Exemplos claros desse efeito são os aplicativos de namoro. Uma vez com objetivo de aproximar as pessoas e proporcionar encontros, agora, pacientes relatam que as experiências se aproximam cada vez mais de entrevistas de emprego. Neste caso você precisa passar por um processo de perguntas, diversas vezes, para talvez preencher uma vaga de um primeiro encontro. E caso não dê certo esse filtro, você não recebe resposta, apenas “volta para a prateleira”.
Tudo isso acaba por gerar sentimentos de ansiedade, angústia, frustração e rejeição de ambos os lados. Porque, quem o faz, também busca em algum nível não se machucar, não se frustrar, não ser abandonado na nova relação. Então busca por uma relação “perfeita”, em que nada dará errado e o amor será garantido.
Precisamos sim ser capazes de entender quando uma relação já não mais funciona e ser capazes de sair desse local. Porém, não podemos ser prepotentes e nem ter medo demais de nos relacionar e achar que toda relação ou pessoa que tenha a mínima falha é ruim ou humana demais para nós.
Psicólogo formado pela PUC-Campinas.
Psicanalista pós-graduado pela Mackenzie-SP.
Especializado em Psicanálise, Gênero e Sexualidade pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Matheus Wada Santos
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