No final do ano de 2024 e durante 2025 muitos conteúdos se popularizaram nas redes sociais e no cotidiano das pessoas. Os quais tinham aquele “gostinho de infância”.
Dentre estes, tem-se: os Labubus (pequenos bonecos de pelúcia colecionáveis), doces de pasta de avelã ou de pistache, os “bebê reborn” (bonecas hiper-realistas de bebês ou crianças recém-nascidas), os livros de colorir infantis da coleção “Bobbie Goobs”, adultos usando chupetas em trabalhos estressantes e também a sobremesa “morango do amor” (morangos cobertos com caramelo colorido).
Mas, qual o ponto em comum entre tudo isto?
Estes produtos foram idealizados e comercializados inicialmente para atingir o público infantil ou pré-adolescente. Porém, quase que imediatamente, caíram nas graças das pessoas mais velhas. Fazendo com que todo o marketing e vendas se direcionassem, então, para os adultos.
Este interesse quase que abrupto de adultos por produtos “mais infantis” faz sentido ao se refletir sobre o conceito psicológico chamado de “infância e adolescência tardias”. Que, por definição, é o período no qual o individuo já é um adulto (21 anos) do ponto de vista biológico, contudo, por não ter conseguido viver plenamente algumas experiências durante a infância (0-12 anos) ou adolescência (13-20 anos), busca freneticamente compensar essas vivências nos anos posteriores.
Por exemplo, uma criança que não teve acesso a certos brinquedos, brincadeiras ou jogos, uma vez que tenha sua própria independência financeira, encontra um modo de ter esses objetos e experiências. (Re)vivendo aquilo ao qual não teve oportunidade antes.
E isto não é algo ruim. Todavia, pode se tornar, uma vez que não há limite psíquico para esse obter e reviver. No sentido que a pessoa cria uma fissura naquelas atividades, doces ou objetos. Mesmo que tenham um preço muito elevado, façam se sentir mal, ou atrapalhem o seu dia a dia.
E essa crise acontece, pois na “infância e adolescência tardias”, há um desejo angustiante de compensar o que se sente que foi perdido nas fases formadoras da identidade. Tais perdas refletem em uma identidade mais frágil. Que muitas vezes não suporta existir sozinha, precisando de objetos externos como os citados acima para dar sentido a si.
E, como sintomas patológicos, há: crises identitárias, muitas vezes não se encontrar um sentido para o dia, dependência emocional de outros, dificuldade em assumir responsabilidades e crises ansiosas em relação ao futuro.
Tendo isto em mente, a terapia pode se fazer uma grande aliada. Não para controlar o que se é consumido. Mas sim para que a pessoa possa entender sobre aquilo que a deixa angustiada, possa viver aquilo que não teve acesso de uma forma completa e saudável e não seja afligida por questões mais patológicas.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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