O vício em pornografia
No vício em pornografia, há a tentativa de se livrar dessa angústia por uma saída sexual
Ao pensarmos em uma questão como o vício em pornografia, convém nos lembrarmos dos temas já discutidos aqui na coluna: o vício em telas e narcisismo. Isso porque é a partir da maneira que nos formamos que somos capazes de nos relacionar com o outro.
E quando essa capacidade se torna comprometida em algum nível, é comum que se acabe escolhendo alternativas nas quais esse outro não pode nos apresentar nenhum tipo de desaprovação. Mas o que isso tudo quer dizer?
A sexualidade é intrínseca ao ser humano e ao nosso desenvolvimento. Ou seja, nós buscamos formas de satisfação (não necessariamente sexuais) para descarregar a nossa energia psíquica. E para isso, nós elegemos “objetos”, como por exemplo, uma pessoa, um alimento ou uma atividade.
No vício, isso não acontece. Há, nesses casos, uma acumulação de excitação psíquica que não é descarregada e isso se acumula, como uma inquietação (um incômodo).
Além disso, a pessoa não consegue suportar a existência de um “outro” na sua mente. Porque esse outro poderia significar algum tipo de rejeição e a lógica do vício não permite isso. Então, é comum que se procure uma alternativa em que esse outro é um cardápio digital.
No vício em pornografia, há a tentativa de se livrar dessa angústia por uma saída sexual. Contudo, essa busca costuma ser compulsiva e independe das consequências de curto ou longo prazo.
Como resultado, a vida sexual como um todo é tomada como: insípida, insatisfatória e frustrante, o que leva o sujeito a ter sentimentos de sofrimento psíquico, de desespero e de vazio.
É comum que pacientes relatem: gastos exagerados em sites com profissionais do sexo, o uso descontrolado de telas e perda da noção de tempo ao assistirem vídeos pornográficos, ferimentos, sexo desprotegido, assédios, serem vítimas de golpes, perda de sensibilidade, dificuldade de manter relacionamentos com parceiros, impotência, medo de rejeição e também medo de não desempenharem de acordo com o que veem em filmes.
Historicamente, se foi utilizada a abordagem da abstinência, porém pesquisas mostraram que esse método é superficial e seus resultados não duram – pois não se preocupam em resolver a raiz da questão, apenas o sintoma.
É aí que entra o papel do psicólogo. Na terapia é possível elaborar os traumas que levam à pessoa a ter uma dificuldade de amar e desejar a si e se relacionar com o outro. Assim como entender melhor a lógica do vício e se criar estratégias para que esse não impeça a pessoa de viver uma vida saudável.
Psicólogo formado pela PUC-Campinas.
Psicanalista pós-graduado pela Mackenzie-SP.
Especializado em Psicanálise, Gênero e Sexualidade pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Matheus Wada Santos
CRP 06/168009
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