Lula articula chapa com Haddad e Marta para Prefeitura de São Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT vão trabalhar por
uma chapa para a Prefeitura de São Paulo liderada pelo ex-prefeito
Fernando Haddad e com a ex-prefeita Marta Suplicy como vice. Sem
partido desde que deixou o MDB em agosto do ano passado, Marta tem
dito a interlocutores que o retorno dela ao PT está praticamente
descartado devido às resistências de setores da sigla.
Com
isso, o PT espera que Lula pressione Haddad a entrar na disputa e que
a ex-prefeita se filie a outro partido de centro-esquerda. Duas
legendas estão conversando com Marta: o PDT e o Solidariedade. No
primeiro caso o ex-presidenciável Ciro Gomes se opõe à ideia da
dobradinha.
O maior entrave para a concretização da chapa, no
entanto, é a resistência de Haddad a disputar a prefeitura pela
terceira vez. O ex-prefeito está irredutível. Ele tem alegado que,
ao contrário de outros políticos, depende do emprego de professor
no Insper para pagar suas despesas e que disputar a terceira eleição
em apenas seis anos é um fardo muito pesado.
Além disso,
Haddad avalia que a esquerda vai ter poucas chances na eleição do
ano que vem. Segundo ele, a tendência é que a disputa fique entre
um candidato da extrema direita, apoiado pelo presidente Jair
Bolsonaro, e outro de centro-direita.
De acordo com pessoas
próximas, Haddad se irrita diante de especulações de que ele
deseja se preservar para a disputa de 2022 e já chegou a sugerir
registrar um documento em cartório se comprometendo a não ser
candidato a presidente para estancar a boataria.
Petistas, no
entanto, acreditam no poder de persuasão de Lula. O ex-presidente
tirou alguns dias de férias e volta a São Paulo neste final de
semana. Na agenda de Lula estão pedidos de reuniões com as bancadas
municipal e estadual do PT para tratar de 2020.
Nestas
conversas, Lula vai ouvir apelos pela candidatura de Haddad. Desde o
início do ano, o PT, com o aval do ex-presidente, vem procurando um
nome. O primeiro foi o de Haddad, que declinou. Depois vieram Aloizio
Mercadante e José Eduardo Cardozo, que também recusaram. Alexandre
Padilha se colocou à disposição, mas sem entusiasmo. O maior
interessado é o ex-deputado Jilmar Tatto, mas a baixa votação dele
na eleição para senador no ano passado desanima os petistas.
O
partido teme que, sem um nome forte, pode ser engolido à esquerda
pela possível chapa Guilherme Boulos/Luiza Erundina (ambos do PSOL)
e ao centro pelo ex-governador Márcio França (PSB), que também
corteja Marta para vice. Tatto é outro também que quer Marta como
vice e deve procurar Lula para pedir o apoio do ex-presidente a seu
projeto eleitoral, que conta com a simpatia de Haddad.
Nos
bastidores, pessoas próximas a Marta acreditam que Haddad pode
deixar a Prefeitura em 2022 para disputar o Palácio do Planalto, o
que abriria caminho para que ela voltasse a comandar a cidade que
governou entre 2001 e 2004. Procurada, Marta não quis comentar.
Em
conversas com interlocutores, porém, a ex-prefeita e ex-ministra
admite ser vice de Haddad em nome da construção de uma frente ampla
para combater o bolsonarismo na capital. Esse projeto seria um
laboratório para a disputa presidencial de 2022 Marta e Lula ainda
não conversaram sobre a proposta de dobradinha. A ex-ministra ouviu
de dirigentes, no entanto, que seria viável construir a chapa mesmo
com ela em outro partido.
De volta aos eventos – Depois
de um período de reclusão após deixar o Senado e o MDB, Marta
Suplicy voltou a frequentar eventos com políticos e se aproximou de
quadros da esquerda. Na última terça-feira ela foi à festa de
aniversário do sociólogo Fernando Guimarães em uma choperia em
Pinheiros onde confraternizou com França e Boulos. Também estavam
presentes ao evento dirigentes do PDT, além de integrantes do PT e
da Rede.
Na semana passada, Marta participou do jantar de final
de ano do grupo Prerrogativas, que reuniu mais de 300 advogados e
lideranças de centro-esquerda em uma churrascaria, em São Paulo. Na
ocasião ela disse que a criação de uma frente para se contrapor à
extrema direita representada pelo governo Jair Bolsonaro passa pelas
eleições de 2020 e ela está em uma “situação privilegiada”
por não almejar cargos.
Além dela, estavam no encontro França,
o ex-deputado Gabriel Chalita (que também está sem partido),
Haddad; o deputado Marcelo Freixo (PSOL), pré-candidato à
prefeitura do Rio; o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e vários
parlamentares como o deputado Rui Falcão (PT-SP). Marta e Falcão,
que foi homem forte na gestão da ex-prefeita, se cumprimentaram
gentilmente depois de muitos anos de rompimento político.
Em
setembro a ex-prefeita esteve ao lado de integrantes de 16 partidos
políticos e representantes da sociedade civil no evento “Direitos
Já!” Fórum pela Democracia, no Teatro da Universidade Católica
de São Paulo (PUC). Sua presença nestes eventos é vista como uma
reaproximação. Marta deixou o PT em 2015 atirando contra os
escândalos de corrupção envolvendo o partido e votou pelo
impeachment de Dilma Rousseff no ano seguinte.