Planalto vê poucas chances de PR concretizar oposição
O anúncio de senadores do PR que a bancada decidiu ir para a oposição ao governo Dilma Rousseff não alterou a rotina do Palácio do Planalto, que viu o discurso mais como uma ameaça do que um perigo real, disseram à Reuters fontes do governo.
Insatisfeitos por não serem atendidos pela presidente na indicação do ministro dos Transportes, fatia que o partido já ocupou mas que hoje não reconhece como sua – apesar de a pasta ser comandada por um filiado da sigla, Paulo Sérgo Passos – senadores do partido anunciaram na quarta-feira que se juntarão à oposição.
Em agosto do ano passado, semanas depois da demissão de Alfredo Nascimento (AM) da pasta por suspeitas de irregularidades, o PR já havia anunciado que deixava a base para ser “independente”. Nem à época, nem na quarta-feira, falaram que entregariam cargos que ocupam na estrutura do governo federal.
“Eles têm mais interesse em ficar do que sair. Eles têm muitas coisas a perder. Por enquanto, não causa nenhum alarde”, disse à Reuters uma fonte do governo, sob condição de anonimato.
Por enquanto, a decisão do partido é restrita ao Senado. O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), disse que a sigla, por ora, mantém posição de independência na Casa.
O líder informou que deve se reunir na próxima terça-feira com presidentes estaduais da legenda e com a bancada de deputados para definir os rumos do partido na Câmara.
“O Senado tomou a decisão com os seus sete senadores. Eu tenho 37 deputados e não posso imediatamente acompanhar a decisão”, disse Portela.
“Por ora, mantemos a posição de independência e vamos fazer uma avaliação na terça”, informou o deputado, acrescentando ainda não haver posição definida sobre os postos que o partido detém.
Segundo assessores do PR, a maior parte dos cargos preenchidos por indicações políticas do PR concentram-se no segundo escalão, em superintendências regionais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), autarquia federal vinculada ao Ministério dos Transportes.
Há poucas semanas, a presidente Dilma Rousseff ofereceu o comando da pasta ao líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT), que não aceitou. Maggi considerou que ao ocupar o cargo geraria conflito de interesses com suas empresas.
Segundo assessores do governo, o senador chegou a sinalizar o interesse de trocar a pasta dos Transportes por outra de importância similar, o que não foi aceito.
Outra fonte do Planalto afirmou que Dilma vai esperar a situação “distensionar”, para retomar as negociações.
“O partido (PR) não sinalizou até agora que não quer mais os cargos que já ocupam, o que seria normal caso fossem mesmo para a oposição”, afirmou a fonte.
Na visão de governistas, o motivo que levou à rebelião da bancada do Senado foi a escolha de Eduardo Braga (PMDB-AM) para a liderança do governo na Casa. Braga é adversário político de Alfredo Nascimento no Amazonas.
Nascimento é presidente nacional do PR e senador pelo Amazonas.
O novo líder governista procurou Maggi nesta quinta-feira para informá-lo que o governo só retomaria as negociações sobre o Ministério dos Transportes se o PR revertesse a decisão de migrar para a oposição.
Em resposta, Maggi afirmou que “o governo deve procurar o PR a partir do momento em que o governo se der conta da importância dos sete senadores”.
Mais cedo, Braga disse a jornalistas que a conversa sobre a pasta deveria ocorrer sem “intimidações” ou “ameaças”, desde que o PR desista de se opor ao governo.
RISCOS
Um dos principais problemas no afastamento do PR do governo é a eleição municipalem São Paulo. OPT da Capital considera essencial o apoio da sigla, em especial por seu tempo de TV, ao pré-candidato Fernando Haddad.
Para garantir a aliança, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou afastado das negociações políticas por problemas de saúde, deve entrar mais diretamente nas conversas.
O radar do governo também está atento a outro problema, segundo uma das fontes. Com a migração dos sete senadores para a oposição, há a possibilidade de abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Casa. Atualmente, os partidos de oposição não reúnem as 27 assinaturas necessárias para a criação de CPIs.
“É preciso vigiar, cuidar. Não foi uma surpresa e eles não devem fazer esse enfrentamento todo”, disse a fonte.
O clima entre o governo e a base em geral tem sido conturbado e teve como sintoma mais recente a troca dos líderes governistas na Câmara e no Senado, depois que senadores impuseram uma derrota a Dilma, rejeitando a recondução de Bernardo Figueiredo à diretoria-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). (reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)