Relação entre significado original e realidade.
Recentemente, meu filho me passou dados sobre o valor despendido com senadores e deputados. Tenho lembrança da quantia de 33 milhões anuais só com o nosso Senado. E ainda a referência de ser o mais caro do mundo. A surpresa maior veio da constatação de incoerência entre a etimologia da palavra senador e o custo do representante. Em latim, “senator” significa “o mais velho”. Eu, que também sou “senex”— não “senator”— posso admitir que a sensatez e prudência da idade constituem requisito para a função. E também que é válido algum dispêndio maior com a saúde dos mais velhos. Porém não privilégio salarial excessivo com o funcionário. A incoerência maior está no fato de, no sistema capitalista, os mais velhos gastarem menos: são consumidores módicos.
Observando depois o sentido original da palavra deputado, também vinda do latim (putare= limpar, purificar), não justificaria gasto exorbitante para a função— só elogios pela retidão sugerida na raiz etimológica da palavra. No entanto, quem acrescentar o prefixo “de”, poderá perambular por outros vocábulos formados pelo mesmo prefixo: “de-por”, “de-formar”, “de-compor”, “de-cair”. E a limpeza e purificação indicadas na raiz tomariam outro rumo. A autodefesa do deputado justificada no “procedimento estritamente legal e ético” ficaria com a raiz da palavra. Mas o povo, atento à realidade, não esqueceria do prefixo.
Na escala, falta mencionar “vereador”, que tem a mesma raiz de “vereda”(caminho). Significa : o que põe os negócios públicos no caminho certo. Como é o representante mais próximo do eleitor, cabe a este cuidar para que os eleitos não enveredem por caminhos tortuosos.
É justo mencionar que , no meio da hierarquia citada, existem os coerentes etimológicos, mas a grita popular recomenda correção e vigilância.
(*) Professor de português e revisor de textos.