ENTREVISTA!!!

SAAE defende renegociação, reequilíbrio financeiro e combate à falta d’água

Foto: Paulo Mello/São Carlos FM

PAULO MELLO
São Carlos FM

O presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de São Carlos, Derike Contri, concedeu nesta sexta-feira, 05, uma longa e esclarecedora entrevista ao programa Primeira Página no Ar, da São Carlos FM. Durante o bate-papo, Contri apresentou números inéditos da autarquia, comentou os avanços operacionais, defendeu o programa de renegociação de dívidas e rebateu críticas sobre abastecimento, cobranças e furtos de cabos que afetam o sistema.

Ao completar quase um ano à frente do SAAE, Contri fez um balanço “de aprendizado intenso” e projetou 2026 como o ano de “desafios e execução”, especialmente nas áreas de abastecimento, drenagem e controle de perdas.

O presidente da autarquia abriu a entrevista destacando o Programa de Renegociação de Débitos (PRD), iniciado em 13 de novembro e que segue até 10 de dezembro. Segundo ele, trata-se do maior pacote de facilitação financeira já realizado pela autarquia.

O programa oferece parcelamento em até 240 meses (20 anos), com parcela mínima de R$ 37 para pessoa física e R$ 74 para pessoa jurídica. No pagamento à vista, há desconto de 100% em multas e juros. “Não existe desculpa. Está acessível. Só não renegocia quem realmente não quer”, afirmou.

A dívida total acumulada na autarquia ultrapassa R$ 200 milhões. Entre pequenos e médios consumidores, há cerca de R$ 33 milhões pendentes de pagamento — valor considerado essencial para reequilibrar o caixa do SAAE, que deve fechar 2025 ainda no vermelho. Contri reforçou o alerta para quem deixar o processo para a última semana. “O atendimento leva de 20 a 40 minutos. Quem deixar para o final vai enfrentar filas.”

O atendimento é exclusivamente presencial, devido à complexidade de casos específicos, como revisões de parcelamentos anteriores.

O presidente também tratou de um tema sensível: o furto de cabos e equipamentos em unidades de bombeamento. Somente em 2025, os prejuízos ultrapassaram R$ 100 mil, sem contar os transtornos aos consumidores. Contri revelou que o SAAE está executando uma ampla modernização da segurança, com 77 pontos recebendo alarmes e câmeras monitoradas. “Infelizmente, quando querem entrar, entram. Já derrubaram muro para furtar. O prejuízo é da autarquia e de toda a população”, lamentou.

O caso mais recente ocorreu no CDHU, agravando o abastecimento justamente no momento de interligação das obras do Poço Cedrinho, o que gerou pânico em parte da região sul.

POÇO CEDRINHO

Um dos principais investimentos em andamento, o Poço Cedrinho, está em fase final de testes e já opera “praticamente a 100%”, segundo Contri.

A nova estrutura permite redistribuir água para os bairros CDHU, Boa Vista, Cruzeiro do Sul, Cidade Aracy e Antônio Garcia, reduzindo o histórico problema de desabastecimento. “Há semanas não recebemos reclamações significativas. A operação está funcionando”, afirmou o presidente. A entrega oficial deve ocorrer nos próximos dias, após os ajustes finais.

“O SAAE NÃO ROUBA”

Um dos momentos mais firmes da entrevista ocorreu quando Contri respondeu a críticas sobre o suposto “roubo” na leitura de hidrômetros devido à passagem de ar nas tubulações após interrupções de fornecimento. O presidente rechaçou a acusação. “O SAAE não rouba. Leiturista não rouba. Se a conta explodiu, algo ocorreu: o SAAE revisa e corrige. Mas não aceitamos que se jogue na rede social que praticamos algo ilícito.”

Ele explicou que o fenômeno do ar é inevitável em situações de falta d’água, mas que todas as contas podem ser revisadas com base no consumo histórico do imóvel. “Se está errado, corrigimos. Se está certo, explicamos. Mas é preciso procurar atendimento.”

O presidente confirmou que o SAAE prepara um grande pacote de obras de captação e perfuração de novos poços, além de investimentos no sistema do Feijão, que pode receber incremento de até 100 litros por segundo para compensar oscilações do Espraiado.

Também adiantou que a autarquia busca recursos no FEHIDRO e no governo federal, mas ressaltou a dificuldade de obter verbas “a fundo perdido”.

Questionado sobre a saúde financeira da autarquia, Contri foi direto. “Estamos no vermelho, mas estamos reduzindo o déficit. De R$ 20 milhões, já baixamos para cerca de R$ 10 milhões”. Ele ressaltou que o SAAE não é empresa lucrativa e não possui acionistas, mas precisa manter equilíbrio. “Não posso ter R$ 200 milhões no caixa, mas também não posso ficar sufocado.”

Revisões tarifárias foram necessárias após constatação de defasagens — como massa asfáltica paga a R$ 70 quando o custo real era R$ 150.

GATOS E IRREGULARIDADES

O SAAE identifica cerca de 20 fraudes por ano, mas o número real é muito maior. “Todo dia aparece um gato novo. A inteligência das irregularidades é impressionante.”

Para reduzir perdas, a autarquia investirá na setorização do abastecimento, permitindo identificar rapidamente variações anormais.

PRIVATIZAÇÃO

Contri também tratou do tema que dominou debates recentes na Câmara Municipal: a possibilidade de privatização do SAAE. Ele foi categórico ao reproduzir declaração do prefeito Netto Donato (PP). “O prefeito já disse ao governador e aos servidores: não vai privatizar o SAAE.”

Segundo Contri, o estudo estadual sobre regionalização do saneamento existe, mas a adesão é voluntária. “Se o município não quiser aderir, não adere.”

Sobre a possibilidade de mudança de prédio, o presidente explicou que a sede atual é alugada por cerca de R$ 50 mil/mês, mas afirmou que não fará mudanças até garantir pleno abastecimento. “Não vou fazer luxo. Antes de prédio novo, eu tenho que colocar água na torneira.”

Ele também mencionou a carência de servidores e a impossibilidade financeira de realizar concurso no momento.

DESAFIOS PARA 2026

Entre os maiores desafios da próxima gestão, Contri destacou que pretende resolver definitivamente os pontos críticos de desabastecimento; avançar nas obras de drenagem e combate a enchentes; ampliar sistemas de segurança; reduzir perdas físicas e comerciais; e garantir novas fontes de captação. “2026 será o ano da execução”, afirmou ele.

No encerramento, Contri reforçou o convite para adesão ao PRD e reafirmou o compromisso com transparência. “Meu gabinete está de portas abertas para o cidadão. Se tiver problema e não conseguir resolver, me procure. O SAAE está fazendo o possível para atender com eficiência e respeito”, finalizou.

Assista a entrevista de Contri na íntegra:

 

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