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Sobre autoridade e “autoridades”

27/04/2017 10h30 - Atualizado há 7 anos Publicado por: Redação
Sobre autoridade e “autoridades”

É sintomático – se é que é preciso indicar mais sintomas de um corpo social e político evidentemente corrompido – o caso narrado por Paloma Amado, filha do escritor Jorge Amado, em 2011; caso que tem como personagem principal (principal vilão, melhor dito) o senador Roberto Requião (PMDB). 

Paloma conta que o caso aconteceu em 1998, em Paris. Ela, a mãe e o pai estavam no aeroporto, depois de dias e noites lidando com a doença de Jorge Amado, que já estava cadeira de rodas. O escritor foi esperar em uma sala reservada na companhia da esposa enquanto a filha foi enfrentar a fila da 1ª classe para despachar as mais de 10 malas.  Escreveu Paloma: “Em seguida chegou um casal que eu logo reconheci, era um politico do Sul. A mulher parecia uma árvore de Natal, cheia de saltos, cordões de ouros e berloques (…). É claro que eu estava de jeans e tênis, absolutamente exausta. De repente, a senhora bate no meu ombro e diz: ‘Moça, esta fila é da primeira classe, a de turistas é aquela ao fundo’. Me armei de paciência e respondi: ‘Sim, senhora, eu sei’. Queria ter dito que eu pagara minha passagem enquanto a dela o povo pagara, mas não disse. Ficou por isso. De repente, o senhor disse à mulher, bem alto para que eu escutasse: ‘Até parece que vai de mudança, como os retirantes nordestinos’. Eu só sorri. Terminei o check-in e fui encontrar meus pais”.

Minutos depois, ela continua, bateram à porta da sala em que estavam. Quem era? O casal Requião, querendo cumprimentar o escritor. Paloma negou passagem. E diz no texto publicado em 2011 que decidiu contar o episódio tantos anos depois em razão da postura de Roberto Requião que, dizendo ter sido agredido por um repórter, tomou seu gravador e apagou a gravação. Requião, hoje relator da lei de abuso de autoridade da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal.

Embora tenha sido (e é) “autoridade” em diversas instâncias de poder do país, Roberto Requião –  em razão do caso narrado por Paloma e em razão de outros, que formam seu histórico – não é, de modo algum, uma autoridade, um modelo de conduta a ser seguido. A “autoridade” que esse homem crê ter conquistado ao longo da sua vida, na verdade, está longe de sua posse plena, tão distante ele se mostra da altura das responsabilidades dos cargos que ocupou e ocupa. 

Ele é mais um triste e patético exemplo de caso tão comum no Brasil: o de uma autoridade (ocupante de cargo) que é incapaz de ser, real e concretamente, uma autoridade no sentido mais pleno da palavra: alguém que ocupa um cargo consciente das exigências técnicas, intelectuais e morais que o exercício da função exige.   

 

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