Verdade e responsabilidade
Ontem, dois fatos tiveram ampla repercussão na mídia: a morte do ciclista Celso Brito Lima, de 60 anos, que morreu após ser atropelado e arrastado por três quilômetros em Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense, no domingo à noite; e a proibição que a China impôs aos meios de comunicação de transmitir as notícias dos protestos em Hong Kong.
Mas esses dois eventos, que aconteceram em diferentes continentes, e têm características muito distintas, possuem também ao menos uma coisa em comum: ambos estão de algum modo relacionados à verdade e à responsabilidade.
No caso da morte do ciclista, o motorista da pick-up, ainda não foi identificado, pois fugiu e ainda não se apresentou à polícia. Imagens de uma câmera de segurança mostram o momento em que ele viu faíscas saíram debaixo do veículo. O homem parou o carro, retirou o corpo debaixo do veículo e seguiu viagem. Segundo a polícia, testemunhas contaram que chegaram a gritar para avisar ao motorista que o corpo de Celso estava preso à pick-up, mas ele seguiu o percurso.
O motorista, temendo as consequências do ato pelo qual foi responsável, optou em ignorar a verdade, a gravíssima verdade: a morte de uma pessoa. Do mesmo modo, mas em graus diferentes, o governo chinês, censurando informações, procura fazer com que os cidadãos ignorem a verdade das manifestações pró-democracia em Hong Kong justamente para esconder a responsabilidade da ditadura chinesa no estrangulamento das liberdades.
Esses fatos mostram que, não importa a dimensão dos acontecimentos, a verdade e a responsabilidade andam sempre juntas. E seja nos posicionamentos individuais, seja nos institucionais, partidários, grupais, ignorar as verdades e as responsabilidades sempre, invariavelmente, provoca péssimas consequências.
Duas obras de ficção mostram isso de forma genial: os filmes ‘O operário’ e ‘O Voo’. Em ambos, os personagens principais enfrentam terríveis dilemas de consciência por serem responsáveis por ações de graves consequências. Mas somente quando eles têm a coragem de reconhecer as suas culpas é que eles finalmente se sentem livres.