PF ouviu depoimentos em processo sobre interferência na instituição
Oitivas visam esclarecer denúncias do ex-ministro Sergio Moro
A Polícia Federal
(PF) continuou nesta última segunda-feira (11) com os depoimentos no inquérito
que apura suposta tentativa de interferência na Polícia Federal (PF).
Autorizadas pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), a
pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), as oitivas visam a
esclarecer as denúncias que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio
Moro fez ao deixar o governo.
Primeiro a ser ouvido, o ex-diretor-geral da PF Maurício
Valeixo chegou à Superintendência da corporação em Curitiba por volta das
10h. Até as 13h, ele ainda não tinha deixado o local. Valeixo foi exonerado do
comando da PF no último dia 24, horas antes de Moro renunciar ao cargo
afirmando que a demissão do ex-diretor-geral tinha pesado para sua decisão de
deixar o governo.
Na ocasião, o ex-ministro disse que Valeixo foi exonerado a pedido do
presidente Jair Bolsonaro. “[Bolsonaro] me disse mais de uma vez,
expressamente, que queria ter [na direção-geral da corporação] uma pessoa do
contato pessoal dele, para quem ele pudesse ligar, colher informações, que
pudesse colher relatórios de inteligência. Este, realmente, não é o papel da
PF”, declarou Moro.
O presidente, no mesmo dia, negou qualquer intervenção na PF. “Não são
verdadeiras as insinuações de que eu desejaria saber sobre as investigações em
andamento. Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça,
o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas
investigações que estavam sendo realizadas”, afirmou Bolsonaro, dizendo que já
tinha explicitado a Moro sua insatisfação com o desempenho de Valeixo.
“Falei para que ele (Moro) que quero um delegado (…) com quem eu possa
interagir. Por que não? Eu interajo com os órgãos de inteligência das Forças
Armadas, eu interajo com a Abin [Agência Brasileira de inteligência], interajo
com qualquer um do governo. Sempre procuro o ministro, mas numa necessidade, eu
falo diretamente com o primeiro escalão daquele ministro”, afirmou o
presidente.
No último dia 28, Bolsonaro chegou a nomear o então diretor da Abin,
Alexandre Ramagem, para o lugar de Valeixo, mas a medida foi suspensa um dia
depois pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de
Moraes que atendeu a um pedido feito pelo PDT por meio de um mandado de
segurança. Em sua decisão, Moraes citou as suspeitas levantadas por Moro uma
semana antes.
No último dia 4, o presidente Jair Bolsonaro nomeou o delegado Rolando
Alexandre de Souza para assumir o cargo de diretor-geral da Polícia Federal no
lugar de Valeixo. Souza era secretário de Planejamento e Gestão da Abin.
Outros depoimentos
Ainda nesta última segunda-feira (11), os investigadores federais à frente do
inquérito devem ouvir a Alexandre Ramagem – que após ser impedido de assumir a
direção-geral da PF, reassumiu o comando da Abin.
Também está prevista para hoje a oitiva do ex-superintendente da PF no Rio de
Janeiro, Ricardo Saadi, que tão logo Rolando Alexandre de Souza foi nomeado
diretor-geral, deixou a superintendência para assumir a direção executiva da
corporação, em Brasília.
Nesta terça-feira (12), devem ser ouvidos os ministros da Casa Civil, Walter
Braga Netto; do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e da
Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
Estão agendados para a quarta-feira (13) os depoimentos dos delegados da PF,
Carlos Henrique de Oliveira Souza; Alexandre da Silva Saraiva e Rodrigo de Melo
Teixeira, além da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP).