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Docente universitária é premiada pela principal instituição da área de Química

19/09/2014 20h38 - Atualizado há 10 anos Publicado por: Redação
Docente universitária é premiada pela principal instituição da área de Química

A busca pelo desenvolvimento de tecnologias sustentáveis é necessária diante dos limitados recursos naturais e dos impactos dos resíduos químicos eliminados em diversos processos produtivos. Nesse contexto, surgiu a filosofia da Química Verde, com foco na criação e aplicação de produtos e procedimentos para reduzir ao máximo o uso e a geração de substâncias nocivas à saúde humana e ao ambiente.

Na UFSCar, estudos e projetos coordenados pela professora Vânia Zuin, do Departamento de Química (DQ), abordam a Química Verde nos âmbitos da pesquisa, ensino e extensão. Vânia salienta o esforço conjunto de docentes, estudantes de diversas áreas e pesquisadores em ampliar os conhecimentos e aplicações químicas com resultados mais positivos para o meio ambiente. “Desde os anos 2000, os professores do Departamento de Química e do Programa de Pós-Graduação em Química com linhas aderentes à esta filosofia, além das próprias pesquisas, têm proposto uma série de atividades como congressos internacionais e nacionais, seminários, workshops, escolas de verão, dentre outras iniciativas voltadas aos estudantes de graduação e pós-graduação, professores de Educação Básica da rede pública de ensino, técnicos e os próprios professores e pesquisadores da instituição”, destaca. 

A diversidade de temas abordados na Química Verde também reflete no perfil dos pesquisadores do grupo da UFSCar, composto por estudantes de graduação e pós-graduação das áreas de Química, Ciências Biológicas e Ambientais. “A Química Verde mais radical exige, além de um profundo conhecimento dos conteúdos de Química, já que objetiva propostas sócio-ambientalmente mais adequadas, o diálogo com outras áreas do conhecimento. Apenas para citar um exemplo deste sentido radical, a seleção dos contextos de estudo mais promissores a serem investigados ocorre por excelência quando compreendemos os alcances de uma dada realidade, algo que as ciências humanas podem possibilitar”, observa. 

Para Vânia, o desenvolvimento de pesquisas norteadas pelos princípios da Química e Engenharia Química Verde é fundamental, principalmente no Brasil que tem um imenso potencial com a diversidade e quantidade de biomassa. “As pesquisas neste âmbito podem ter como meta principal a proposição de alternativas mais verdes ou ainda o emprego de tecnologias sabidamente menos impactantes ao ambiente para o estudo de um determinado problema ou questão relevante. Neste sentido, trata-se de uma escolha do pesquisador que, dada a condição atual de recursos reduzidos, deve ter uma conduta cada vez mais adequada e responsável, independentemente de sua área de atuação”, defende a docente.

 

História

A Química Verde adota um conjunto de conhecimentos que visam a redução nos impactos ambientais, a partir da otimização no uso de matérias primas e eliminação de resíduos, utilização de solventes e compostos mais seguros e inócuos. As primeiras iniciativas surgiram no início da década de 1990, nos Estados Unidos, com a Lei de Prevenção à Poluição e o programa “Rotas Sintéticas Alternativas para a Prevenção de Poluição”, lançado pela agência ambiental estadunidense, a Environmental Protection Agency (EPA). No âmbito acadêmico, a relação entre a Química e o meio ambiente ganhou espaço com o estabelecimento do Consórcio Interuniversitário Química para o Meio Ambiente, na Itália, com a reunião de pesquisadores e organização de cursos.

No Brasil, a UFSCar foi pioneira na abordagem da Química Verde, na década de 2000, juntamente com a Universidade Federal de Pelotas e a Universidade de São Paulo. Além dos professores do Departamento de Química, a UFSCar também conta com estudos realizados nos Programas de Pós-Graduação em Química e Educação, por exemplo, pelos Grupos de Pesquisa em “Produtos Naturais”, “Química Verde, Sustentabilidade e Educação” e ” Educação Científica”, sendo os dois últimos coordenados pela professora Vânia, com a participação de pesquisadores de pós-graduação e iniciação científica das áreas de Ciências Exatas, Biológicas e Educação. “A inserção da Química Verde no ensino superior já vem ocorrendo, seja na graduação ou pós-graduação, não apenas na forma de eventos isolados no Brasil. Vários professores já têm esta preocupação e, lentamente, há a institucionalização destes conteúdos verdes, ou seja, a introdução da temática em sala de aula e nos laboratórios de ensino e pesquisa”, descreve a professora.

Vânia destaca que a UFSCar é hoje uma referência na área, principalmente após o seu envolvimento para a criação da seção de Química Verde na Sociedade Brasileira de Química (SBQ), coordenada em parceria com o professor Fernando Galembeck, do Instituto de Química da Universidade de Campinas (Unicamp), que amplia o incentivo a novas pesquisas e divulgação de trabalhos realizados.

Outro passo importante para o aumento da relevância da UFSCar na área de pesquisa foi a produção editorial. Em 2009 as professoras Vânia Zuin e Arlene Corrêa, ambas do DQ, organizaram o livro “Química Verde: fundamentos e aplicações”, publicado pela EdUFSCar. A obra conta com textos que abordam o emprego de produtos e processos químicos para a redução ou eliminação no uso e a geração de substâncias nocivas à saúde humana e ao ambiente. “O livro, que recebeu o 52º prêmio Jabuti de Bronze na categoria “Ciências Exatas, Tecnologia e Informática” da Câmara Brasileira do Livro, mostrou o que nós, editoras e autoras, mas também todos os autores envolvidos tínhamos realizado em nossas trajetórias acadêmicas, que perpassam a UFSCar. Hoje há pesquisadores em vários departamentos e programas de pós-graduação nos quatro campi da UFSCar com grande multiplicidade de enfoques”, analisa a docente.

 

Reconhecimento

No mês de agosto, a professora Vânia Zuin, do DQ, recebeu o “VII Prize for Atmospheric and Green Chemistry”, concedido pela International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC, em português, União Internacional de Química Pura e Aplicada), a principal instituição mundial da área de Química. O prêmio foi concedido durante a 5th International IUPAC Conference on Green Chemistry, realizada entre os dias 17 e 21 de agosto, em Durban, na África do Sul. Zuin também é coordenadora da Seção de Química Verde da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e foi reconhecida por sua contribuição ativa em estudos na área de Química Verde.

O “Prize for Atmospheric and Green Chemistry” foi concebido em 2008 pelo comitê de Pesquisas em Química Aplicadas às Necessidades Mundiais (CHEMRAWN) da IUPAC e é considerado pela comunidade científica como um dos mais importantes no reconhecimento a projetos de desenvolvimento e inovação em Química Verde do mundo. O Prêmio tem como objetivo reconhecer jovens pesquisadores que contribuem ativamente para a pesquisa em países emergentes ou em desenvolvimento, além de ser fonte de inspiração para os estudiosos da área que colaboram para a promoção de práticas sócio-sustentáveis em todo o planeta. Para a professora Vânia, o reconhecimento representa também o sucesso individual e coletivo, além de ampliar a reputação do Brasil no cenário científico internacional. “O Prêmio foi também um espelho que mostrou não apenas um pouco da minha essência e imagem, mas também das pessoas e instituições que compõem este mundo que constituo e me cerca”, afirma.

Vânia reforça ainda que o Prêmio possibilitou a reflexão acerca da produção acadêmica e as diversas variáveis presentes no cotidiano dos pesquisadores. “O Prêmio me permitiu refletir sobre muitas questões: primeiro, a importância e complexidade da temática; segundo, vivemos em um ambiente altamente competitivo, algumas vezes até desleal, mas que acaba desnudado com o tempo; a questão do gênero, ou seja, ser uma pesquisadora num contexto basicamente masculino, onde as réguas para medir a produção acadêmica são as mesmas independentemente das demandas e cobranças diversas; o fato de pertencer a um país belamente complexo e emergente, em que temos que lutar para encontrar as formas mais justas e inclusivas de fazer crescer o conhecimento científico de qualidade e possibilitar o seu ensino em todos os níveis e modalidades; as diferentes formas de publicação que temos acesso e participamos, como artigos científicos em revistas, livros e demais veículos de impacto, que mostram apenas parte de um currículo”, analisa.

Desde dezembro de 2013, Vânia é professora convidada e pesquisadora honorária no “Centro de Excelência em Química Verde” da Universidade de York, no Reino Unido, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para a professora, a possibilidade de desenvolver projetos acadêmicos em centros renomados é uma grande oportunidade para trocar experiências e conhecer novas tecnologias, aplicações e linhas de pesquisas. Além disso, a participação da docente nas atividades da Universidade de York também permite o intercâmbio de pesquisadores, que amplia as discussões acerca da Química Verde. Atualmente, Vânia está envolvida com estudos relacionados à análise e aplicação de biomassa residual brasileira em diferentes contextos.

Mais informações sobre os estudos podem ser obtidas pelo email [email protected].

 

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