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Homenageado, Kleppner comenta visita a São Carlos

23/02/2013 18h42 - Atualizado há 11 anos Publicado por: Redação
Homenageado, Kleppner comenta visita a São Carlos

Estamos praticamente a uma semana da realização de – talvez – o mais importante evento científico já realizado na história da cidade de São Carlos: o denominado Symposium Honoring Prof. Daniel Kleppner, que decorrerá entre os dias 27 de fevereiro e 1° de março, no Instituto de Física de São Carlos, com a participação de mais de duas dezenas de renomados cientistas internacionais, entre eles cinco laureados com o Prêmio Nobel.

 

Além de uma programação científica de altíssimo nível, que será apresentada no decurso da realização da XV Semana de Recepção aos Calouros, parte da programação deste evento é especialmente dedicada aos ingressantes nos cursos de Física, Física Computacional e Ciências Físicas e Biomoleculares, pretendendo-se, ainda, homenagear um dos mais proeminentes cientistas na área da Física Atômica, que dá o seu nome a este evento: o Prof. Daniel Kleppner, do MIT – Massachusetts Institute of Technology (USA), a quem o IFSC presta homenagem pelo seu trabalho de cooperação e pela formação de distintos quadros científicos brasileiros.

E, se este é mais um exemplo de como o Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo, contribui para o “despertar” de jovens promessas que podem rumar à área científica-tecnológica, tentando atrair cada vez mais jovens estudantes para a ciência nacional, o fato é que, por outro lado, a porcentagem de jovens mentes brilhantes ainda não é suficiente para incrementar um desenvolvimento ascensional acelerado no Brasil. Sobre os conceitos genéricos da ciência que se faz no mundo e no nosso país, atente-se aos comentários proferidos pelo Prof. Daniel Kleppner, em entrevista exclusiva.

 

O avanço da Ciência no mundo

Para Daniel Kleppner, o avanço da ciência no mundo tem sido absolutamente surpreendente, tendo exemplificado o verdadeiro renascimento que aconteceu na área da astronomia, considerada o ramo mais antigo da ciência. Para o cientista americano, a ciência está progredindo rapidamente, não só na denominada grande escala de dimensão do Universo, mas igualmente na pequena escala – átomos, núcleos e até os subnúcleos. “O Prêmio Nobel 2012 foi premiado por grandes avanços na física quântica. Este ramo da física, que foi criado para entendermos as propriedades dos átomos, foi difícil de ser aceito por muitos físicos, porque parecia estar cheio de paradoxos e de conceitos pouco claros. Agora temos ferramentas eficientes, não só para observar o mundo quântico, como para fazer uso do comportamento quântico, estendendo o mundo quântico em nosso mundo cotidiano. Estamos aprendendo a construir dispositivos que operam sobre os princípios da mecânica quântica, em vez dos tradicionais princípios da mecânica newtoniana, enquanto que as comunicações quânticas já estão começando a ter aplicações práticas”, salienta Daniel Kleppner.

Outro avanço digno de registro, no mundo da física quântica, surgiu a partir da descoberta de métodos para resfriar átomos a temperaturas extremamente baixas, inferiores a um milionésimo de grau acima do zero absoluto. O Prêmio Nobel de 2001 foi concedido por esta descoberta, mas até aí ninguém reconheceu o potencial para esse avanço. Hoje, o centro de interesse dos designados ultra-átomos frios moveu-se do comportamento dos átomos individuais para o comportamento da matéria a granel. Teorias para a estrutura da matéria podem agora ser investigadas experimentalmente com uma precisão e detalhe nunca antes alcançado. Novos tipos de matéria estão sendo criados e novos tipos de dispositivos quânticos estão sendo investigados: “Eu escolhi alguns tópicos da ciência física, porque esta é a ciência que eu melhor sei: contudo, outros avanços nas ciências da vida são igualmente notórios. A genômica está fornecendo uma visão cada vez mais profunda sobre as propriedades dos sistemas vivos; a neurociência tem feito progressos tão grandes, que deu origem a uma nova disciplina – Ciência do Cérebro -, por forma a se obter uma compreensão profunda de como nós pensamos e até mesmo sobre as origens da consciência, assim como as ciências físicas deram origem a novas tecnologias através da invenção de eletrônicos, semicondutores e lasers, que por sua vez permitiram a revolução digital e da internet”, elucida Kleppner.

 

A homenagem do Instituto de Física de São Carlos e a mensagem aos estudantes

 

Quando referimos a homenagem que o IFSC reservou para Kleppner, outorgando-lhe o título de Professor Honorário, Kleppner referiu: “Estou profundamente tocado por esta honra inesperada. Ao longo dos anos tive uma série de excelentes estudantes brasileiros de pós-graduação e de pesquisadores de pós-doutorado, particularmente no IFSC-SP. Além disso, já visitei Instituto de Física de São Carlos por diversas vezes, e acompanhei o crescimento exponencial na área da física. Nos primeiros anos, o Brasil teve enormes problemas econômicos; lembro-me de minha grande confusão quando me confrontava com um número cada vez maior de zeros na moeda brasileira. Os obstáculos burocráticos que nesse tempo existiam para o desenvolvimento da pesquisa científica pareciam destinados a sufocar o progresso científico do país. Ironicamente, alguns desses obstáculos tiveram um efeito estimulante, forçando o desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia no Brasil. No entanto, o desenvolvimento da física no Brasil tem sido uma grande luta. Eu tenho visto melhorias contínuas no IFSC, e, nos últimos anos tenho observado um acentuado crescimento na ciência, que resultaram no aparecimento de novas indústrias em São Carlos. Não é por acaso que o crescimento da alta tecnologia, em São Carlos, acompanhou o fortalecimento das instituições científicas existentes na cidade. Para mim, o progresso do IFSC-UP simboliza os avanços que aconteceram no Brasil. Consequentemente, esta honraria é particularmente significativa para mim”.

Para os estudantes e jovens pesquisadores, Daniel Kleppner deixou uma simples mensagem: “Nada se compara com o prazer de descobrir algo novo sobre a natureza. Ciência significa muito trabalho, por isso os estudantes e os jovens pesquisadores devem estar preparados para pagar por esse prazer. No entanto, a satisfação de poder fazer fazer avançar novos projetos e ideias nas fronteiras do conhecimento, e a alegria de poder trabalhar em uma comunidade cujo valor fundamental é a honestidade intelectual, significa que a vida na Ciência é uma vida privilegiada”, conclui o pesquisador.

 

Os principais destaques científicos no futuro

A ciência é parte da sociedade e a ciência só pode florescer se a sociedade evoluir. Segundo Kleppner, os principais problemas enfrentados pela ciência são inerentes aos que a sociedade se debate: o esgotamento dos recursos naturais, devido ao crescimento da população mundial; a necessidade de existirem fontes cada vez maiores de energia e de a humanidade poder controlar os impactos sobre o clima global. As soluções para esses problemas exigem ações políticas eficazes e de grandes esforços científicos. Felizmente, o fato é que, crescentemente, uma parte significativa da comunidade científica está-se envolvendo nesses problemas. No entanto, os obstáculos que se colocam ao progresso estabelecem uma espécie de “link” com as estruturas sociais, e a tendência natural da humanidade é se agarrar ao passado e desprezar as visões futuras. Para combater essa deficiência, segundo o pesquisador, é necessário que os padrões de objetividade e honestidade intelectual – que são valores fundamentais para a ciência – possam elevar o pensamento da população, envolvendo os líderes políticos. No campo da pesquisa de Daniel Kleppner, a área da Física Atômica ocupa, como é óbvio, um lugar de destaque, com grandes perspectivas para o futuro. Quando questionamos nosso entrevistado sobre quais foram as grandes mudanças observadas nos últimos anos e qual a sua expectativa para o futuro, Kleppner recua no tempo: “A minha idade científica começou em meados do Século XX. Recuando na memória de meus tempos de estudante de pós-graduação, o mundo da ciência, naquele tempo, é tão pitoresca como se eu estivesse olhando para o Século XIX. Ideias imaturas que eram pesquisadas apenas com a ajuda de aparelhos rudimentares passaram a ser analisadas, atualmente, à luz de modernas teorias e de experimentos altamente sofisticados. Por exemplo, a minha pesquisa, como estudante de graduação, levou à descoberta de um novo tipo de relógio atômico – chamado maser de hidrogênio -, que acabou por desempenhar um papel facilitador na criação do Sistema de Posicionamento Global (GPS). Meu objetivo em trabalhar na radiação foi testar a teoria geral da relatividade de Einstein, entre as teorias mais abstratas: contudo, para testar esta teoria abstrata surgiu uma tecnologia que agora faz parte do nosso dia-a-dia. Na época de minha pesquisa, ninguém poderia ter antecipado a criação do GPS. Além disso, os próprios relógios atômicos foram melhorados em um nível surpreendente: os relógios atuais são dez milhões de vezes mais precisos do que na época em que eu era um estudante de pós-graduação. Ao longo dos anos, tenho visto centenas de ideais científicos plantados pelos meus colegas e colaboradores, que frutificaram de uma forma verdadeiramente impressionante, e hoje a Ciência continua a crescer. Embora as previsões sejam geralmente inúteis, estou certo de que as sementes que estão sendo plantadas hoje terão efeitos impressionantes no futuro”, pontua Kleppner.

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