Juliano Matos: “Sempre fui desafiado”

26/03/2012 12h08 - Atualizado há 12 anos Publicado por: Redação

Encontrar pessoas com o coração cheio de amor pela humanidade é muito complicado neste mundo de disputas acirradas e competitividade, porém, Juliano Matos, o jornaleiro que virou jornalista, o jornalista que virou palestrante, é o nosso entrevistado deste domingo. Durante seis anos milhares de pessoas em nossa região tinham um encontro diário com Juliano Matos pela EPTV. Tornou-se um amigo de todos os telespectadores. Hoje motiva milhares de pessoas com suas palavras. Mas por que trocar um emprego em seu auge para recomeçar? Por que deixar de noticiar os fatos do dia-a-dia para falar das visões do coração? Ele nos explica nesta empolgante entrevista.

PRIMEIRA PÁGINA: Como surgiu o jornalismo em sua vida?

JULIANO MATOS: Aos 9 anos de idade tive a ideia de participar ao vivo de um programa de rádio na minha cidade, Cardoso, noroeste de São Paulo. A emissora AM dava espaço para o ouvinte ligar e conversar com o locutor nas manhãs de domingo.  A minha intenção era oferecer uma música para o meu pai, que na época era alcoólatra. Sofríamos muito com a situação. Queria que ele mudasse e achei que poderia me aproximar mais dele com a declaração. Não consegui, mas descobri uma grande paixão pelo rádio. Aos 12 anos fui trabalhar na emissora como técnico de som e logo ganhei o meu primeiro programa. Com 17 anos comecei a apresentar o jornal com as notícias locais. Isso só confirmou o que eu já imaginava desde a infância. Queria ser jornalista. Mesmo sem nenhuma condição financeira para estudar, prestei o vestibular e entrei numa universidade particular. Para pagar o curso acumulei junto com a rádio vários empregos, entre eles o de jornaleiro. Entregava jornais numa bicicleta durante as madrugadas. Aprendi muito e foi em cima daquela cargueira que comecei a sonhar com a televisão. Apesar das muitas dificuldades, nunca perdi a esperança e a recompensa veio no 3º ano do curso. Fui contratado para apresentar o jornal de uma TV Universitária. Depois de formado fui para TV TEM, afiliada da Globo nas regiões de Rio Preto, Sorocaba, Bauru e Itapetininga. Dois anos depois vim para São Carlos assumir a apresentação dos jornais da EPTV, onde fiquei por 6 anos.

PP: O que é o jornalismo para você?

JULIANO MATOS: O jornalismo é pra mim muito mais do que anunciar uma notícia. A informação é uma ferramenta poderosa capaz de transformar uma sociedade. E por isso precisa ser levada a sério por aqueles que a transmitem. Quando o jornalismo é praticado com isenção, imparcialidade, respeito e comprometimento, todos ganham.

PP: Como o jornalismo abriu os olhos do coração?

JULIANO MATOS: O jornalismo me ajudou a enxergar além do que os meus olhos conseguem ver. Esse olhar observador, tão necessário na minha profissão, me fez perceber o que nem todos param para observar no dia a dia. A diferença é que uso isso hoje para motivar as pessoas.

PP: Quais as principais barreiras que encontrou na profissão?

JULIANO MATOS: Sempre fui desafiado por onde passei. Assumi a bancada de um telejornal de uma afiliada da Globo aos 21 anos. A responsabilidade aumentou quando fui promovido meses depois a editor chefe. Na EPTV tive a grande tarefa de conduzir as entrevistas com candidatos a prefeito nas últimas eleições e fui o mediador dos debates de São Carlos, Araraquara e Rio Claro. Tive que vencer a desconfiança de colegas mais experientes e de profissionais de outras empresas de comunicação. Hoje também enfrento barreiras como palestrante, mas vencê-las faz parte do caminho a ser seguido.

PP: Por que trocar o jornalismo pelas palestras?

JULIANO MATOS: Cortar a corda que nos mantém num porto aparentemente seguro não é nada fácil. Ainda mais quando tudo conspira ao seu favor. Eu estava no auge da minha carreira quando decidi deixar tudo. Nem todos entenderam a minha decisão. Meus chefes tomaram um grande susto quando pedi demissão. Todos foram muito carinhosos e fizeram de tudo para que eu ficasse. Mas a decisão já estava tomada dentro mim. Decidi transmitir só “boas notícias”. No jornalismo, infelizmente, nem sempre isso é possível. Faz parte da profissão informar o público sobre tragédias, escândalos, violência e tantas outras coisas ruins. Isso estava me incomodando. Abandonei minha carreira de 10 anos de apresentação de telejornais para me dedicar exclusivamente a um projeto que sempre esteve dentro de mim. Motivar pessoas é algo que me fascina e isso certamente está ligado a minha história de vida. Além das dificuldades de uma infância muito pobre, eu tinha tudo para ser um alcoólatra, como meu pai era, mas nem sempre filho de peixe, peixinho é. Comecei a enxergar o meu futuro diferente e lutei por essa visão. Tudo mudou e hoje a minha família é bem diferente.

Já fazia palestras mesmo atuando no jornalismo. Mas chegou a hora de decidir em que barco eu continuaria a viagem. Cortei a corda e parti em busca de um novo oceano. Estou muito feliz com essa decisão. Hoje ao lado da minha esposa Viviane, que também é jornalista, tenho me esforçado para fazer a diferença na vida de muitas pessoas por meio das palestras, do meu livro “Boas Notícias”, dos nossos sites, enfim de tudo aquilo que podemos fazer.

PP: Quais os temas das palestras?

JULIANO MATOS: Uso a visão como tema das minhas palestras. Em qualquer área é preciso enxergar longe, ver perto, renovar a visão e buscar o foco certo. Mostro em 60 minutos como o nosso olhar pode fazer a diferença no trabalho, na família e na vida como um todo. As palestras são bem humoradas, mas acima de tudo reflexivas. A visão gera a transformação e quando enxergamos com os olhos do coração percebemos aquilo que os olhos da face nunca notaram ou deixaram de observar. As oportunidades existem, mas nem todos conseguem vê-las. A minha proposta não é apontar a direção, mas mostrar que o caminho existe e só precisa ser enxergado.

PP: Você diz em olhar pelo coração… Mas você apreendeu com os corações das outras pessoas?

JULIANO MATOS: Aprendi com cada uma das 10.000 pessoas que assistiram às minhas palestras nos últimos sete meses. Passei por grandes e pequenas empresas, universidades e secretarias de educação. Públicos diferentes, mas com desejos parecidos. Enxergar a mudança no olhar dessas pessoas no final de cada palestra me dá a certeza de que estou fazendo a coisa certa.  

PP: E no caminho, no vai e vem da vida, quantas pessoas passaram pela sua vida e colocaram um novo tijolo na construção deste Juliano Matos?

JULIANO MATOS: Deus foi muito generoso comigo e por isso sou incapaz de contabilizar as pessoas que me ajudaram a ser quem eu sou. Nem todas tinham essa intenção, porém tudo contribuiu para o bem. Agora é a minha vez de contribuir. Quero ajudar na construção de outras histórias e colaborar para a concretização de sonhos.

PP: Uma grande mensagem…

JULIANO MATOS: Obrigado pela entrevista. É sempre um prazer estar em contato com os leitores do Primeira Página. E em primeira mão já anuncio aqui a palestra “Olhos do Coração” no próximo dia 15 de maio no teatro do Diocesanoem São Carlos. Queremos reunir 700 pessoas nesse grande evento. Espero vê-los lá.