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Paulo Altomani: “Airton Garcia precisa dizer a que veio”

18/05/2017 12h14 - Atualizado há 7 anos Publicado por: Redação
Paulo Altomani: “Airton Garcia precisa dizer a que veio”

O ex-prefeito Paulo Altomani, em entrevista ao PRIMEIRA PÁGINA, afirma que o seu sucessor, Airton Garcia, ainda precisa mostrar porque desejava ser prefeito de São Carlos. “Ele ainda não disse a que veio”. Por outro lado, Altomani considera “impossível” que Airton cumpra a promessa de construir 48 creches por mês, não comenta a briga do prefeito com a Câmara e evita dar nota para Airton Garcia. 

PRIMEIRA PÁGINA – Como o senhor avalia o governo do prefeito Airton Garcia nestes primeiros quatro meses e meio?

PAULO ALTOMANI – Eu penso que o Airton Garcia subestimou as dificuldades de se administrar um município como São Carlos. A cidade tem recursos limitados para uma demanda social muito grande por serviços públicos. Ele, o Airton, sempre falou que era especialista em tratar de empresas falidas. Embora São Carlos não seja uma cidade falida, não tem uma arrecadação deficiente para atender a todas as necessidades da população. As crises econômica e financeira, além da política, dão o pano de fundo de qualquer gestão municipal, dificultando tudo. Entre janeiro e março, você tem uma arrecadação mensal de impostos de cerca de R$ 58 milhões a R$ 60 milhões, mas a partir de abril este montante cai para R$ 28 ou R$ 30 milhões. Mas a demanda de pagamentos é de R$ 30 a R$ 33 ao mês, o que vai gerando um déficit de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões mensais. Isso, ao longo do ano gera um rombo de cerca de R$ 40 milhões. Então é diferente você administrar uma empresa quebrada com 3 ou 4 sócios, onde você negocia com estes sócios, de administrar uma cidade com receita de cerca de R$ 700 milhões, onde você tem 240 mil sócios, que são os habitantes de São Carlos. As reclamações são diárias. Depois que a gente senta na cadeira tem trabalho até meia-noite se quiser. 

PP – O senhor acredita que Airton conseguirá cumprir a promessa de construir uma creche por mês durante o seu governo?

ALTOMANI – Eu até pensei, sem brincadeira, de montar no mercado municipal uma casinha de cachorro e colocar uma placa dizendo: – Aqui temos vagas para o seu cachorro, faça sua inscrição! Porque realmente estamos terminando uma creche no Embaré que o Claudio e eu começamos. E a única creche que ele fez foi no Cidade Aracy, no Lauriberto Reyes. Tínhamos lá uma sala de aula e ele transformou a sala de aula numa creche. Mas é muito difícil. Com os recursos da Prefeitura é impossível você fazer uma creche por mês. Ao longo de quatro anos construímos cinco creches e duas escolas estaduais.

PP –Como o senhor viu o fechamento de duas UPAs na atual gestão?

ALTOMANI – Governar é ter amor e paixão às pessoas. São Carlos recebeu muita gente que veio de cidades do Paraná. Pelo sofrimento natural e impacto da pobreza eles têm uma carência muito grande. Aquela UPA maravilhosa que fizemos no Santa Felícia e principalmente a UPA do Cidade Aracy, ele não conseguiu colocar para funcionar ainda. Ele tem que encontrar mecanismos que talvez seja as OSs (Organizações Sociais) porque não há como contratar ninguém com uma folha de pagamento que absorve 52% da arrecadação.  Por oturo lado é inadmissível você fechar as UPAs do Aracy e do Santa Felícia e ficar só com a UPA da Vila Prado congestionada e com falta de médicos. Aquele fato de ele ter expulsado do seu gabinete uma mãe com o filho – que no meu governo teve meningite e ficou cego e agora precisa de cuidados especiais – foi muito condenável e mostra uma falta de amor e apreço às pessoas, principalmente às mais humildes. 

PP – O asfalto da cidade está esburacado e governo tem dificuldades para fazer a licitação. Como o senhor analisa tais fatos?

ALTOMANI – Fizemos uma opção. Ou tinha dinheiro para tapar buracos ou realizávamos as cirurgias eletivas e mantínhamos uma merenda de boa qualidade para todos os nossos estudantes. Servimos 34 mil refeições por dia. Fizemos 26 mil cirurgias eletivas, com 12 mil cirurgias de catarata e 14 mil de vários outros casos. Hoje não se está fazendo cirurgia eletiva e muito menos se tapando os buracos. Então a cidade vai entrando num caos cada vez maior. Eu às vezes passava de carro em algum buraco e minha própria filha me cobrava perguntando: – Pai, você não vai tapar estes buracos! E eu respondia que ou fornecíamos comida para as crianças ou cuidávamos do asfalto. Optamos pelo social. 

PP – O atual governo não pagou os médicos e briga com a Santa Casa. Como o senhor analisa isso?

ALTOMANI – A Santa Casa, da qual sou irmão benemérito tem uma administração formada por pessoas maravilhosas, de pessoas que se doam. Eles esquentam a cabeça para ver como pagam as contas. Quanto mais o hospital atende pelo SUS, mais ele tem prejuízo. E você tem hoje uma demanda que tem que atender por mês. A remuneração do SUS dá para cobrir 20 dias do mês. O SUS não paga o excedente e ainda paga o valor menor do que o custo dos serviços. Mas meu governo conseguiu, junto ao governador Geraldo Alckmin, dar o status de “Estruturante” à Santa Casa. Isso resultou em repasses mensais de mais de R$ 1,1 milhão durante quase dois anos, que ajudou a Santa Casa sair do déficit de R$ 700 mil mensal para um superávit de R$ 500 mil. 

PP – Como vê o relacionamento político entre prefeito e Câmara? Como viu as declarações do vereador Paraná Filho? 

ALTOMANI – Eu não vou entrar no debate dos dois, pois, além de tudo, ambos são companheiros políticos. Existe um excesso e falta de respeito entre os poderes Executivo e Legislativo.

PP – O senhor enxerga algo de positivo na gestão de Airton Garcia?

ALTOMANI – Ele tem bons quadros. Ele manteve a Helena Antunes (Administração), chamou novamente o José Galizia Tundisi, secretário de Ciência & Tecnologia. Ele tem que mostrar a que veio, tem que mostrar porque ele quis ser prefeito de São Carlos.

PP  – Que nota o senhor daria para este início de governo do prefeito Airton Garcia?

Não sou professor para avaliar. Reconheço que também cometi alguns erros. Deveria ter ouvido mais meu secretariado e minha esposa Alice, que tem uma sensibilidade muito grande. Então ao querer ser o maestro único da cidade cometi um erro. O prefeito tem que conversar mais com a sociedade e respeitar mais a Câmara. Caso contrário o preço das desavenças políticas é pago pela população que acaba sofrendo as consequências de tudo isso. 

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