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Uma nova visão sobre a arte de lecionar

01/09/2012 18h47 - Atualizado há 12 anos Publicado por: Redação
Uma nova visão sobre a arte de lecionar

Salários baixos, alunos ariscos, infraestrutura inadequada. Os motivos para se desistir de uma carreira docente são inúmeros. Mas, mesmo assim, alguns decidem enfrentar os obstáculos e seguir em frente. Isso porque, diferente do que é visto corriqueiramente nos noticiários, ainda há boas notícias quando o assunto é “ser professor”.

Com o intuito de avaliar o perfil de estudantes graduados pelo curso de Licenciatura em Ciências Exatas do campus da USP São Carlos, a aluna de doutorado da pós-graduação Interunidades em Ensino de Ciências, Ariane Baffa, realizou uma pesquisa, e, através de questionários aplicados aos alunos já formados no curso de Licenciatura em Ciências Exatas da USP São Carlos entre 1996 e 2011, identificou um perfil mais otimista para educação brasileira: mais da metade deles atua em sala de aula, grande parte no ensino público.

A notícia é animadora, uma vez que a melhora na qualidade do ensino fundamental e médio depende de professores bem formados. Mas, só isso já é suficiente?

De acordo com a docente do Instituto de Química de São Carlos (IQSC/USP) e coordenadora do curso de Licenciatura em Ciências Exatas da USP São Carlos, Salete Linhares Queiroz, apesar dos diversos contratempos com os quais professores do ensino fundamental e médio têm de lidar na atividade profissional, os alunos do curso de licenciatura da USP/ São Carlos que alcançam o último ano de curso apresentam entusiasmo em lecionar. “A maioria dos licenciados tem muito interesse em atuar na sala de aula. Eles são motivados para isso! Boa parte deles preocupa-se em procurar atividades didáticas para oferecer aos alunos do ensino médio e fundamental”, afirma Salete, que também orientou a pesquisa conduzida por Ariane.

 

Para fugir do comum

Salete cita alguns exemplos de alunos e ex-alunos do curso de licenciatura que conseguiram implementar um ensino mais didático aos estudantes de ensino fundamental e médio. Alguns deles realizam frequentemente atividades em grupo ou visitas a Centros de Cultura do município.

Outro destaque vai para uma estratégia de ensino, que consiste na elaboração de estudos de casos de caráter científico e sociocientífico, para aplicação no ensino médio e superior. Em disciplina ministrada no IQSC, alunos de pós-graduação do campus escrevem casos, no formato de narrativas, sobre problemas reais do cotidiano e todos são convidados a propor soluções para os casos. O material produzido (casos e respectivas soluções) é de acesso público, o que possibilita que estudantes de outros cursos de licenciatura, bem como professores já efetivos, tenham acesso a ele pela internet**. “É muito interessante ver que alunos que não estão envolvidos diretamente com a área de ensino, como os de pós-graduação em química e engenharia, por exemplo, têm essa preocupação”, afirma a docente.

 

Os diferenciais na licenciatura na USP de São Carlos

Em todo país, educadores discutem e propõem novas diretrizes ao ensino médio e fundamental, inclusive no que se refere à renovação das grades curriculares. Mas, quando a revisão é voltada à grade curricular de cursos de licenciatura, pouco se fala sobre o assunto.

No caso da licenciatura oferecida na USP/São Carlos, em 2010 houve uma reestruturação, que consistiu, entre outros tópicos, em inserir maior número de disciplinas voltadas à educação.

O curso possui características que o tornam diferenciado: os alunos que o completam estão aptos a ministrar aulas no ensino fundamental e médio (flexibilidade que outros cursos de licenciatura, geralmente, não oferecem) e podem, ao concluir a graduação, retornar ao curso e fazer habilitação em outras disciplinas de exatas (matemática, física ou química).

Durante o curso, eles podem, ainda, receber bolsas de iniciação científica, participar de atividades didáticas e de divulgação científica do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC/USP), receber bolsas para realização de intercâmbio internacional e, finalmente, atuar no cursinho popular do campus (fundado, inclusive, por turmas anteriores).

 

Para uma educação melhor, melhores condições

Infelizmente, os diferenciais citados acima não são uma realidade no país, e a falta de professores em, praticamente, todas as disciplinas ministradas a alunos do ensino fundamental e médio prova que ainda encontra-se distante uma solução efetiva para essa problemática.

Na opinião de Salete, novas políticas públicas devem ser pensadas para melhora da educação brasileira, mas, em alguns casos, os resultados só poderão ser vistos num futuro mais distante. “O professor tem que ministrar aulas numa escola onde se sinta confortável, onde não se sinta ameaçado. Gostaríamos que esse problema fosse resolvido amanhã, mas essa é uma solução de longo prazo. Os alunos formados na licenciatura saem daqui sabendo que deveriam realizar atividades nas quais o aluno fosse o centro do processo de aprendizagem, mas como ele [professor] fará isso em uma turma lotada ou em alguma turma em que metade dos alunos não tem interesse em aprender?”, diz Salete.

Ela salienta soluções imediatas e destaca algumas já sabidas e comuns, como melhores salários e melhor formação do futuro professor durante a graduação. No caso da licenciatura da USP São Carlos, Salete diz que é preciso haver maior integração entre os grupos de pesquisa que trabalham com ensino de química, física e matemática. “Deve haver uma aproximação maior entre esses grupos e a escola, inclusive. Muitas vezes, há pouco contato entre os futuros professores e os professores já na ativa”.

A grande questão, no entanto, diz respeito à formação do docente. Nos cursos de licenciatura, as aulas ministradas na universidade reproduzem metodologias de ensino já ultrapassadas, que não prezam pela interatividade e um contato maior e mais participativo entre professores e alunos do ensino básico e médio em sala de aula. “Grande parte dos docentes que ministra aulas na universidade não costuma, por exemplo, propor atividades de trabalho em grupo aos seus alunos. Na cabeça deles, isso é ‘enrolação’, enquanto as novas diretrizes não veem tais atividades dessa forma. Os docentes do ensino superior que trabalham na área pedagógica têm mais conhecimento sobre as novas diretrizes do que aqueles que trabalham com conhecimentos específicos”.

Apesar do “quadro negro” no qual se escreve os desafios dos futuros docentes da área de exatas, ações positivas também devem ser comentadas. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), atualmente, exige que alunos de pós-graduação tenham algum tipo de formação pedagógica “Discussões pedagógicas não existiam antigamente neste nível de ensino”, comenta Salete. “Elas existirem agora é uma evolução”.

A esperança é que os diferenciais tornem-se comuns e que as evoluções sejam corriqueiras. Essas amplas ações- atualmente exclusivas da Licenciatura da USP São Carlos- podem e devem ser espalhadas. Afinal, só o conhecimento democratizado pode ser efetivo.

 

(*) o referido material pode ser encontrado no endereço eletrônico www.gpeqsc.com.br

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Salete Burra
Salete Burra
11 anos atrás

Esta professora não sabe dar aula, é uma porta, uma sem noção!!!

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