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Mostra poética-fotográfica “Faces” traz recortes da África

17/02/2014 23h37 - Atualizado há 10 anos Publicado por: Redação
Mostra poética-fotográfica “Faces” traz recortes da África

Em um país onde há formação política, discussões acerca da ordem e justiça mas que ao mesmo tempo contrasta-se com o lixo nas ruas, falta de estrutura básica e pobreza, está o Olhar penetrante e desesperançoso dos povos de Luanda. A capital foi o destino de “viagem” pelo funcionário público Casimiro Paschoal “Lumbandanga” da Silva que pode vivenciar na prática seus estudos acerca de seus antepassados e questões raciais, razão pela qual o artista sempre dedicou sua vida.

Por meio de retratos, tanto em preto e branco quanto coloridos, o autor procura expressar a espiritualidade e a graça do povo africano, as cores dos olhares, dos tecidos, dos dias chuvosos de Huambo ou das tardes ensolaradas e escaldantes de Luanda, além das desigualdades sofridas pelo povo provinciano. As poesias de autoria de Casimiro aprofundam ainda mais o tema e vem propor à sociedade uma reflexão sobre a realidade de um país em reconstrução pós guerra e o valor do povo marcado pela escravidão e discriminação.

Os recortes fotográficos e poesias de autoria de Casimiro retratam o cotidiano do povo de Angola, na África, mais especificamente da Aldeia Mana Culele. As fotos foram feitas durante uma viagem de um mês ao país no último ano, quando Silva pôde aprofundar o conhecimento sobre o berço de seus antepassados.

O nome “Lumbandanga” foi incorporado à assinatura de seu nome na exposição, por conta de uma visitação em uma aldeia, onde o líder tribal o batizou com esse nome, que é um símbolo sagrado no país. Casimiro conta que durante a guerra, essa montanha servia de refúgio para quem era contra o regime e era local de refúgio para os aviadores que se camuflavam por lá. A palavra traz um significado muito forte de resistência e guerrilha na Angola.

O artista revelou que o País tem desigualdades, mas é repleto de belezas “

Evidente que tem coisas bonitas lá, como no Brasil, mas o retrato da periferia é completamente diferente da visão da capital. Aqui nós temos de tudo e estamos descontentes com as coisas, mas aqui nós temos conforto, água, energia elétrica lá isso mal existe”. finaliza

A mostra pode ser vista até o dia 7 de março. Visitação aberta de segunda a sexta-feira das 8 às 22 horas e aos sábados das 8 às 12 horas.

A Biblioteca fica na Av. Trabalhador são-carlense, 400, São Carlos, SP.

 

A ENTREVISTA

 

PP – Como se deu a ideia de vivenciar um País tão diferente?

Casimiro – Fui buscar uma ligação com minhas origens. Minha expectativa era de pisar, vivenciar o solo africano que foi emoldurado por questões políticas e socialistas e verificar no local essa questão;

A outra efetivamente é ter a sensação de ver meus irmãos iguais a mim, a grande emoção, uma coisa diferente que a gente percebe aqui no Brasil. Nós que somos praticamente a metade da população, a gente não vê a presença do negro no Brasil da forma que deveria ser, seja em espaço público, privado a gente não dá a visibilidade no negro.

 

PP – Qual foi a emoção de estar lá?

Casimiro – Foi muito forte pois dediquei minha vida toda no racismo no Brasil, estudo a questão racial e falando de África o tempo todo e a minha memória era a memória da leitura que eu tinha, dos contatos com os alunos africanos que eu tinha uma relação bem estreita e não tinha ideia do que era ver ao vivo e até  o que uma guerra causava em um povo em função do projeto ideológico. Essa reflexão foi muito triste, eu fiquei muito emocionado, mas por outro lado com muita raiva das pessoas que estão no poder e não olham pelo povo.

 

PP- Por que o nome Faces?

Casimiro – Ao olhar as faces nas ruas, observei a semelhança com alguns familiares e maneiras de comportamento bem peculiares. Senti  emoção, chorei de alegria, de tristeza, de raiva, sabendo que você tem um povo tão lindo, tão forte que está no jogo do poder e as pessoas não estão olhando verdadeiramente para os donos da terra, isso que me entristece muito.

 

PP – Onde vivia a maioria da população?

Casimiro – A maioria da população que vivia na província no interior. Foram para Luanda porque a capital era mais protegida, estava a economia, o poder, o governo, então as tropas fecharam Luanda. Então as pessoas ficaram mais protegidas, só que isso gerou uma super população. Então você anda pela capital na periferia é um contingente tão grande de jovens, mulheres, idosos vendendo de tudo para sua subsistência, esgoto a céu aberto, o processo de reconstrução seja físico, material, a infra-estrutura é muito precária ainda então você vê aquela super população, a moeda super desvalorizada, falta de emprego, as pessoas vendendo o que tem pra viver, então você olha aquilo, e fica triste. De um lado o governo enriquecendo a cada dia as custas do povo, e de outro lado a resistência do povo que mesmo com todas as dificuldades, miséria, falta de infra-estrutura, pobreza, esgoto a céu aberto, estão ali, trabalhando…para garantir o sustente de suas casas.

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