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De judeus, muçulmanos e servidores

25/04/2017 11h25 - Atualizado há 7 anos Publicado por: Redação
De judeus, muçulmanos e servidores

Sociedades em grave crise econômica têm forte tendência a fabricar bodes expiatórios, a cuja maldade ou privilégios possam ser atribuídos a crise e a perda – real ou subjetiva – do status social.

Na Alemanha nazista foram os judeus, na Europa contemporânea são os muçulmanos e na América de Trump, os imigrantes em geral.

Um observador da vida brasileira recente, que se informasse exclusivamente pela mídia eletrônica e impressa, provavelmente concluiria que até mesmo na produção de inimigos, esta é uma terra muito fértil.

Tudo, nesse mundo à parte dos grandes irmãos, indica, pelo menos, três culpados. O PT e Lula, em primeiro lugar, claro. O conjunto dos políticos (responsáveis por “isso tudo que está aí”) em segundo. E, se falamos em previdência, os “funcionários públicos”, que “desequilibram as contas” com seus “privilégios”.

Há quem diga que no futebol, na religião, na política e na vida social em geral, argumentos racionais pesam pouco.

Assim, não importa que um servidor público, como eu, contribua ao longo de toda a vida com 11% do total de seu rendimento bruto enquanto o trabalhador vinculado ao regime geral tenha sua contribuição limitada a cerca de 600 reais. Ou que o funcionário público não tenha, como os demais, direito ao FGTS. 

Também não importa, para a mídia e seus papagaios, que o governo não cobre e antes se empenhe em anistiar as dívidas astronômicas das grandes empresas com a Previdência. Nem a distancia entre a elite da magistratura e do ministério público, que recebe salários de centenas de milhares de reais, e a base do funcionalismo.

Para um governo que mal se sustenta pela promessa de entregar “as reformas” à mídia e ao grande capital, o que importa é gastar os tubos em propaganda para nos explicar que a culpa é dos judeus. Desculpe, dos muçulmanos. Quer dizer, dos servidores.

* Professor Titular do IAU USP São Carlos

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