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É urgente pensar bem

03/05/2017 11h27 - Atualizado há 7 anos Publicado por: Redação
É urgente pensar bem

Morreu ontem o escritor Eduardo Portella aos 88 anos. Membro da Academia Brasileira de Letras e participante dos governos Juscelino Kubitschek e João Figueiredo, foi o autor da famosa frase “Não sou ministro, estou ministro”, mostrando assim a consciência da fragilidade e o aspecto passageiro do poder. A relação entre cultura e poder, aliás, é apontada como um dos seus temas prediletos de reflexão e escrita.

Em entrevista concedida ao Conselho de Minerva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo, ele emitiu a seguinte reflexão: “O patrulhamento é hiperpreconceito, é um exercício contundente do preconceito, é um desrespeito ao outro. Nós só somos democratas se formos capazes de aceitar o diferente da gente”. 

Ter dito isso em um ambiente universitário foi de fundamental importância, pois ele (o ambiente universitário) é um dos mais patrulhados hoje no Brasil. E se engana quem imagina, ao contrário, ser aquele ambiente aberto às mais diferentes perspectivas de pensamento, conceituação, ou reflexão. O encerramento ideológico – principalmente nos cursos de ciências humanas, mas não só – é um fato muito bem documentando, bastando para isso analisar o tipo de bibliografia que é usada nos cursos de graduação e pós-graduação, e as perspectivas adotadas na produção de monografias, teses, artigos e livros saídos das cabeças da maioria dos frequentadores desses cursos. 

E, não custa lembrar, que são essas cabeças que “pensam” os problemas brasileiros para, quem sabe, (e assim deveria ser) traçarem possíveis soluções. Mas dado o grau de desorientação em que nos encontramos, não é difícil perceber que existe algo de muito errado no funcionamento dessas cabeças que, ou não sabem o que fazem, ou têm produzido esse caos de caso pensado. Ou talvez ambos os casos.  

E o cerne desse erro é, justamente, a ideologização de todas as esferas de pensamento, motor do “exercício contundente do preconceito”, do patrulhamento e, claro, da idiotização de muitos dos nossos intelectuais, encerrados que estão em um horizonte limitado de imagens, palavras, conceitos, termos que pouca ou nenhum relação tem com a realidade. 

E erra quem julga ser o termo “idiota” ou “estúpido” um xingamento. A estupidez, já afirmava o filósofo Eric Voegelin, sempre foi um fenômeno reconhecido pelas civilizações: o nabal (tolo) em hebraico, o amathes (homem irracionalmente ignorante) de Platão, o stultus (tolo) de Tomás de Aquino. Todos os três criadores da desordem na sociedade em razão da “imagem defeituosa da realidade” com a qual enxergam a existência.             

 

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