Após processo no Cade, Rede, do Itaú, amplia isenção de pagamento em dois dias
A
Rede, braço de maquininhas do Itaú Unibanco, anunciou nesta última
segunda-feira, 16, a extensão da isenção de taxas na antecipação de pagamentos
em dois dias úteis, o chamado D+2, para transações com cartão de crédito à
vista a todos os clientes. A medida, antes restrita a correntistas do Itaú e do
Tribanco, será ampliada a qualquer varejista com faturamento anual de até R$ 30
milhões a partir desta segunda e ocorre após o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) ter aberto um processo para investigar a prática comercial da
número dois do setor de maquininhas.
“Com a melhora econômica prevista para 2020
e o patamar historicamente baixo da taxa de juros, vimos a necessidade de
darmos uma contribuição adicional à economia, ampliando o benefício a qualquer
lojista independentemente de ter ou não relacionamento com o Itaú”, diz o
presidente da Rede, Marcos Magalhães, em entrevista exclusiva ao Broadcast,
sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
O executivo nega, porém, que a nova ofensiva da
Rede resulte de orientação por parte do Cade. O órgão antitruste abriu um
processo para investigar a prática comercial adotada pela Rede em maio deste
ano, de isentar a antecipação de recebíveis nas transações com cartão de
crédito à vista somente aos clientes que recebiam seus pagamentos no Itaú e,
posteriormente, também aos correntistas do Tribanco.
O Cade chegou a determinar, em outubro, a
suspensão da ação da Rede a partir do dia 05 de novembro até o julgamento do
mérito. No entanto, a empresa e o banco obtiveram uma liminar da Justiça
Federal que liberaram de manter a prática um dia antes da entrada em vigor da
decisão do órgão antitruste.
Recentemente, o órgão rejeitou recurso
apresentado pelo Itaú no âmbito da promoção da Rede que beneficiava lojistas
com conta na instituição. Ainda assim, a adquirente pode seguir com a prática
uma vez que segue amparada pela liminar.
“Não tem orientação do Cade em relação a
isso (extensão da ação a todos os clientes). Estamos tranquilos e confortáveis.
O movimento que estamos anunciando hoje não é agenda relacionada à discussão
técnica com o Cade. O prazo está mais relacionado com o objetivo de fecharmos o
ano e iniciarmos 2020 com uma nova dinâmica”, garantiu Magalhães.
Segundo o executivo, a medida além de beneficiar
os comerciantes na data comercial mais importante do ano, o Natal, alcança as
mais de 15 milhões de pequenas e médias empresas do Brasil, ou seja, 98% do
mercado de varejistas no País, que passam a ter acesso ao pagamento em dois
dias sem cobrança de taxa. A medida, acrescentou Magalhães, não é promocional e
passa a ser a nova prática comercial da Rede. Vale, assim, para clientes
atuais, que serão beneficiados de forma automática com a medida, bem como novos
clientes.
Desde que a adquirente isentou os clientes com
faturamento anual até R$ 30 milhões e que recebem pagamentos no Itaú e
Tribanco, em maio último, já foram pagos, conforme ele, mais de R$ 16 bilhões a
centenas de milhares de microempreendedores e pequenas e médias empresas. Em
termos de volume financeiro, segundo o executivo, a Rede ampliou seu volume
financeiro em R$ 4 bilhões no segundo trimestre ante o primeiro e no terceiro
contra o segundo.
O presidente da Rede não revela, porém, a
expectativa de incremento do volume com a ampliação da iniciativa de isenção de
taxa na antecipação de recebíveis em transações com cartões de crédito. Também
não abre o impacto esperado pelo banco com a renúncia de receitas que terá a
partir da nova ofensiva.
Após isentar os clientes do banco com
faturamento até R$ 30 milhões na antecipação de recebíveis do crédito à vista,
o Itaú revisou para baixo suas projeções de desempenho tanto sob a ótica de
margens financeiras com clientes como do lado das receitas de prestação de
serviços.
Na época, o presidente do banco, Candido
Bracher, utilizou o movimento para justificar que a iniciativa da Rede não
seria compensada em outra linha e que se tratava exclusivamente de um movimento
de redução de preços como reflexo do aumento da concorrência no setor de
maquininhas.
“Acreditamos que o mercado de meios de
pagamentos está caminhando para operar de forma aderente à prática
internacional (que já atua em D+2). Além disso, há uma demanda histórica tanto
do Banco Central como do comércio varejista pela redução do prazo de liquidação
das transações”, avaliou o presidente da Rede. “É inexorável essa
tendência”, acrescentou.
De acordo com ele, além do incentivo por parte
do regulador, há ainda uma demanda dos clientes pela melhora do serviço na área
de pagamentos. Sem abrir o indicador, ele afirmou que, desde que a Rede isentou
os clientes com faturamento até R$ 30 milhões ano, a satisfação, medida pelo
NPS (na sigla em inglês), aumentou em 20 pontos.
A Rede também tem conseguido, conforme
Magalhães, ampliar seu market share no segmento de varejo. Por outro lado, como
preferiu não entrar na “guerra de preços” do setor, tem visto sua
participação se reduzir no atacado, cujas margens são menores. O resultado tem
sido perda de mercado ao contrário da concorrente Cielo, de Bradesco e Banco do
Brasil, que se debruçou em uma estratégia com foco em preço para ganhar escala
e market share.
“Decidimos que não iríamos fazer guerra de
preço nas grandes varejistas. Temos perdido share em grandes e crescido no
segmento de varejo R$ 4 bilhões trimestre contra trimestre. Na somatória de
ambos, temos perdido share, mas faz parte de uma ação planejada dentro do que
faz sentido para nós”, explicou o presidente da Rede, sem abrir o atual share
do número dois do mercado de maquininhas.
A isenção de taxas na antecipação de recebíveis
ao varejo também tem permitido à Rede ampliar sua base de maquininhas. Ao fim
de setembro, a empresa somava 1,465 milhão de terminais espalhados no Brasil,
aumento de 108 mil terminais em relação a junho e de 328 mil em um ano.