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Citricultura sofre a pior crise de sua história

07/08/2012 11h39 - Atualizado há 12 anos Publicado por: Redação
Citricultura sofre a pior crise de sua história

“Vamos perder entre 80 e 90 mil caixas de laranja”, é o que afirma à reportagem um citricultor da região de Ibaté que não quis se identificar. Com o preço de custo da caixa da fruta girando em torno de R$ 8,00, e a indústria de suco evitando a compra do produto, ou então pagando metade do custo de produção (R$ 4,00) por caixa, os cerca de 6 mil citricultores do Estado de São Paulo enfrentam circunstâncias muito semelhantes aos da nossa região.

 

Os fatores que criaram essa situação variam e vão de aspectos técnicos ao contexto econômico global: o aumento de cerca de 10% no custo de produção (fertilizantes, inseticidas, mão-de-obra, transporte) em relação ao ano passado, a diminuição das exportações para a Europa em razão da crise ali instalada, as restrições dos EUA à laranja brasileira motivadas pelo uso de carbendazim (fungicida proibido pelas autoridades norte-americanas e utilizado nos laranjais nacionais), a superprodução que marcou a safra de 2011 e a grande quantidade de suco de laranja ainda em estoque nas indústrias são apontados como traços que delineiam a face da crise que o setor enfrenta atualmente.   

“Em geral, a colheita começa no fim de maio, ou início de junho. Estamos em agosto e a laranja ainda está no pé, apodrecendo”, afirma, entre milhares de árvores da fruta, o encarregado da fazenda em Ibaté, que também não quis se identificar.

Segundo o produtor daquela propriedade, essa situação não era prevista. “A gente achava que o preço não ia ser muito alto, prevíamos isso. Mas não imaginávamos que as indústrias iriam simplesmente deixar de comprar a produção”, afirma.  

Além dos 6 mil citricultores afetados em todo o Estado, e cujo prejuízo já é estimado em R$ 500 milhões, a crise no setor pode significar, segundo dados da Câmara Setorial de Citricultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o desemprego para cerca de 40 mil trabalhadores da área.

Segundo Marco Antônio dos Santos, presidente da Câmara Setorial de Citricultura do Mapa, a crise que o setor vive não tem precedente e afetará o futuro da produção de laranja: “Muitos agricultores vão abandonar a cultura por conta dessa situação”.   

“Nessas circunstâncias, o que nos resta é cortar custos”, afirma o citricultor de Ibaté que completa: “A mão-de-obra na fazenda varia entre 45 e 60 pessoas e vou ter que ficar só com metade disso. Outros produtores vão mudar de cultura, vão pra cana, por exemplo. Não vou abandonar a laranja, mas vou começar a plantar milho, soja”.  

 

Reação de produtores e do governo

No dia 26 de julho, produtores da região de Monte Azul Paulista organizaram um protesto contra a situação, marcado pela distribuição de 12 toneladas de laranja e de 200 mil litros de suco, parte do qual foi despejado nas ruas da cidade.

Na última quinta-feira, 2 de agosto, o Conselho Monetário Nacional (CMN, órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional, estabeleceu medidas tentando contornar ou amenizar a crise do setor cítrico. Fazem parte dessas medidas a extensão do prazo de pagamento do custeio de laranja e o estabelecimento de um preço mínimo de R$ 10,10 para a caixa de 40,8 kg da fruta.

Mas, segundo o encarregado da fazenda em Ibaté, essas medidas ainda não afetaram os produtores: “Se a indústria não quer pagar nem R$ 5,00 pela caixa, como esperar que eles paguem o preço mínimo que o governo estabeleceu?”, questiona.

 

Lembranças do café

Com a crise econômica que se instalou no mundo após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, o setor ligado ao principal produto de exportação do Brasil à época, o café, sofreu com a diminuição da demanda mundial, o que gerou grandes estoques, a queda nos preços do produto e a crise econômica e política do setor.

Na tentativa de contornar a situação, uma das soluções encontradas pelo governo (na época um dos principais compradores do produto) foi justamente a destruição de parte da produção estocada. Uma forma de diminuir a oferta e aumentar os preços do produto.

 

 

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