Maracanã: as boas e as más lembranças do futebol brasileiro
Em 70 anos, estádio coleciona jogos marcantes da seleção e de clubes
“Córner contra o Uruguai no último instante da luta.
Terminou o tempo pelo meu Omega e vai agora um córner contra o Uruguai. Há
descontos ainda. Cobrou Friaça, cabeceou Jair… marcou o juiz, entretanto, o
final da peleja. Terminou o jogo com a vitória do Uruguai. Uruguaios campeões
mundiais de futebol de 1950, reconquistando o título que haviam obtido em 1930
e perdido depois para a Itália. Desolação natural da torcida aqui no Estádio do
Maracanã”.
Assim foi encerrada a transmissão da primeira derrota do Brasil no Maracanã, na
voz de Antônio Cordeiro, pelas ondas da Rádio Nacional. Muitos torcedores até
hoje entendem que o Maracanazo jamais foi superado, deixando no “Maior do
Mundo” a marca eterna da tragédia.
Injustiça. Aos 70 anos, o Maracanã merece o reconhecimento por ter sido palco
de grandes conquistas internacionais por brasileiros. Clubes e seleções
mostraram, ao longo da história, que o estádio é sinônimo de vitória.
A começar pelo Santos. Primeiro em 1962, ao derrotar o Benfica, no Rio de
Janeiro, por 3 a 2, no jogo de ida da final do Mundial Interclubes – o título
foi confirmado em Lisboa, com um 5 a 2 sobre os Encarnados. Depois, em 1963,
mas com pitadas de emoção. O Milan, da Itália, jogava pelo empate e vencia por
2 a 0. Sem Pelé, Zito e Calvet, o título mundial estava praticamente na mão dos
Rossoneros. Na volta do intervalo, o tempo fechou e o céu limpo deu lugar a um
dilúvio. E o Santos virou: 4 a 2, com gols de Pepe (2), Almir Pernambuquinho e
Lima. No jogo-desempate, de novo no Maracanã, Dalmo, de pênalti, fez o único
gol da partida.
Em seu canal no Youtube, Pepe explicou sua relação com o estádio. “A minha
história cresceu nos jogos contra o Milan, no Maracanã. Eu joguei, digamos,
umas 300 partidas na Vila Belmiro e umas 20 no Maracanã. Logicamente eu
preferia jogar na Vila, mas escolhemos o Rio de Janeiro para enfrentar o Milan,
como havíamos escolhido para enfrentar o Benfica no ano anterior. Os cariocas
adoravam o Santos Futebol Clube e lotaram o Maracanã para nos ajudar nestas
duas conquistas inesquecíveis”.
Em 2000, o Corinthians também conquistou um Mundial no Maracanã. A situação era
bem diferente da do Santos, pois jogava fora de casa, mas contra o Vasco, outro
time brasileiro e mais conhecedor do estádio. O Timão conseguiu segurar o
ímpeto da dupla Romário-Edmundo e, nos pênaltis, após cobrança para fora de
Edmundo, o time paulista ergueu a taça.
Os bons momentos da nossa seleção
E a Seleção Brasileira? Será que superou o trauma de 1950, quando Ghiggia
calou o Maracanã? Em outro 16 de julho, 30 anos depois, Romário fez o estádio
explodir contra o mesmo Uruguai, na final da Copa América O time do contestado
técnico Sebastião Lazaroni parecia ter dado fim ao fantasma do Maracanazo.
O “capitão” Ricardo Gomes, logo após o apito final, desabafou em entrevista ao
repórter Tino Marcos, da Rede Globo. “É um presente para o pessoal do passado e
esperança para a torcida de agora. É uma satisfação trabalhar com esse grupo
maravilhoso. Saímos de um clima totalmente adverso, mas com muita união se
apresentou uma seleção vitoriosa que vai dar muita coisa para a torcida. ”
Ricardo Gomes estava certo, pois a Seleção de 1989 foi a base da conquista do
tetracampeonato mundial, em 1994, nos Estados Unidos. E por falar nos EUA, como
esquecer o Pan-Americano de 2007 e a goleada de 5 a 0 da Seleção Brasileira
Feminina sobre as norte-americanas? A derrota na final dos Jogos Olímpicos de
Atenas estava entalada na garganta. Mais de 70 mil torcedores lotaram o
Maracanã para ver o show com dois gols de Marta, outros dois de Cristiane e
mais um de Daniela Alves que falou dessa emoção em depoimento à CBF TV.
“Eu lembro e sempre vou lembrar de todos os detalhes. Em uma quinta-feira, ao
meio-dia, mais de 70 mil pessoas no Maracanã. É marcante. Eu tenho uma foto com
o estádio lotado. E a gente ficava uma chamando a outra durante o jogo, ficamos
impressionadas com o estádio lotado e fazendo a ‘ôla’. Só pra nós. Não tinha o
masculino, depois ou antes da gente. Só éramos nós naquela final, e as pessoas
foram lá prestigiar. Dentro de casa a final e no Maracanã, um estádio enorme.
Foi marcante para sempre”.
Ainda em 2007, a Seleção Brasileira Feminina fez história com a segunda
colocação na Copa do Mundo da China, após eliminar os Estados Unidos na
semifinal com outra goleada, 4 a 0. Na final, perdemos para a Alemanha por 2 a
0.
Os alemães, aliás, também têm boas lembranças do Maracanã. A Copa de 2014 no
Brasil chegou embalada pelo título da Copa das Confederações, que a Seleção
Brasileira havia conquistado no Maracanã no ano anterior. Mas, no Mundial, o
time de Felipão nem pôs os pés no Maraca – foi eliminado nos 7 a 1, no
Mineirão, pelos alemães. E o “Mário Filho” serviu de palco para o quarto título
deles numa Copa: 1 a 0 sobre a Argentina, na prorrogação.
O Maracanã tentou amenizar a dor dos brasileiros dois anos mais tarde, no
reencontro com a torcida em uma nova decisão. Agora, por um título inédito: o
dos Jogos Olímpicos, com direito a uma medalha de ouro para o futebol masculino
na Rio 2016. Mais uma vez, o Templo do Futebol estava lotado para ver uma
seleção desacreditada, com resultados ruins no início do torneio. Depois do
empate de 1 a 1 com a Alemanha no tempo normal e na prorrogação, finalmente
veio a sonhada vibração: gol de Neymar, de pênalti, vitória do Brasil por 5 a
4.
Nossas vitórias no Maracanã, como a da Copa América de 2019, não vão acabar. E
o estádio sempre vai estar de braços abertos para os brasileiros. Que venha a
próxima taça.