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Medicalização da vida: é só mais um remédio?

Afinal, será que se tomar um remedinho tudo passa?

12/08/2023 05h48 - Atualizado há 9 meses Publicado por: Redação
Medicalização da vida: é só mais um remédio?

Hoje vamos conversar sobre um tema que vem se normalizando sem que a gente perceba. A medicalização da vida, que é o que ocorre quando nós transformamos situações cotidianas em situações que precisam de uma saída medicamentosa. Afinal, será que se tomar um remedinho tudo passa?

É comum que ao longo da vida uma pessoa passe por tristezas, processos de luto, desenvolvimento, adolescência ou envelhecimento, por exemplo. E, em vez de se incentivar a autonomia da pessoa para que ela lide com a situação, há um movimento no qual optamos por um remédio, uma “pílula mágica” que irá fazer o problema desaparecer e assim não incomodar ninguém.

Como exemplos, temos pessoas que usam medicamentos de forma errada para não lidarem com sentimentos de tristeza. Crianças mais ativas que são medicadas para “darem menos trabalho” em salas de aula, mesmo que não exista um diagnóstico para justificar a medicação. Adolescentes que usam remédios tarja preta para aumentar sua concentração em períodos de prova. Adultos que os utilizam para ter maior desempenho no trabalho. Pessoas que fazem tratamentos anti-idade quando ainda jovens, com medo de um processo natural.

É criada e vendida essa imagem de que caso alguém use determinados produtos poderá atingir quase uma onipotência ou imortalidade, estado em que a pessoa será amada e invejada por todos, sempre jovem e feliz. Esse marketing farmacêutico tem sido alvo de críticas, pois se criam novos diagnósticos e síndromes com o objetivo de vender novas medicações desnecessárias ou que só são vendidas em países com leis menos rigorosas.

Sociólogos e alguns profissionais da saúde alertam há anos sobre esse problema. Criou-se uma necessidade de ser “belo, jovem e feliz” o tempo todo. Tudo isso enquanto se ignora a realidade da vida. Mas, essa busca, financia um mercado.

Isso significa que toda medicação é desnecessária e que todos os médicos são vilões? Não. Isso significa que o problema está na lógica de colocar a saúde como um produto de mercado a ser vendido e explorado, em vez de um direito. Existe grande diferença entre: receber uma medicação para a diabetes porque se tem o quadro clínico comprovado e receber a medicação por orientação de um médico, despreparado, que a receite para um paciente apenas porque acha que ele precisa perder peso.

O que precisa ocorrer é o incentivo ao desenvolvimento de atitudes e ações que irão promover a qualidade de vida, autonomia, desenvolvimento emocional, prevenir doenças e ajudar na real cura daquelas que estão ali. Isso requer profissionais comprometidos com o bem-estar da pessoa para além de uma lógica de querer vender um produto. Uma pílula só irá mascarar seus sintomas, não irá chegar à raiz dos problemas. Nesse sentido, o psicólogo poderá ajudar.

 

Psicólogo formado pela PUC-Campinas.

Psicanalista pós-graduado pela Mackenzie-SP.

Especializado em Psicanálise, Gênero e Sexualidade pelo Instituto Sedes Sapientiae.

Matheus Wada Santos

CRP 06/168009

@psi_matheuswada

(16)99629-6663

[email protected]

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