Dilma mantém articulação política centralizada
As mudanças nas lideranças do Congresso promovidas pela presidente Dilma Rousseff visam uma renovação dos canais de diálogo do Executivo com o Congresso, mas as trocas também trazem novos riscos e não modificam o modelo centralizador da articulação política do governo, segundo fontes ouvidas pela Reuters.
A derrota no Senado com a rejeição da recondução do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e um manifesto peemedebista crítico ao governo, apoiado por mais de 50 dos 78 deputados do partido, apressaram as mudanças que estavam sendo gestadas, segundo uma fonte do governo, que pediu anonimato.
A decisão de substituir os líderes de governo na Câmara e no Senado ocorreu menos de uma semana após a presidente sofrer uma derrota pessoal no Congresso e ver rejeitada pelos senadores a recondução de Bernardo Figueiredo, técnico de sua máxima confiança, à direção-geral da ANTT.
A derrota foi imposta por senadores aliados, que aproveitaram a votação secreta para enviar uma mensagem clara à presidente e demonstrar a insatisfação com a política do governo em relação aos aliados. A rejeição de Figueiredo no Senado deu à Dilma a certeza de que a articulação política precisava de ajustes. E rápido.
No cronograma inicial da presidente, segundo essa fonte do governo, encontrar uma solução política para os Ministérios do Trabalho e dos Transportes era mais urgente do que a troca de lideranças no Congresso.
Mas, com as votações do Código Florestal e Lei Geral da Copa pautadas na Câmara e o projeto que cria o Fundo Complementar dos Servidores Públicos (Funpresp), no Senado, Dilma avaliou que seria melhor proceder as trocas logo, antes que colhesse uma nova derrota.
No caso do Senado, a presidente conversou com os caciques peemedebistas e tentou costurar um acordo para substituir o senador Romero Jucá (RR) por Eduardo Braga (AM), que é um dos expoentes de uma corrente do partido que não vota sempre com o governo e resistia à liderança do senador Renan Calheiros (AL).
Segundo outra fonte do governo, que também falou sob condição de anonimato, a expectativa da presidente com essa escolha é atrair essa ala do PMDB no Senado e diluir uma parte do controle que Calheiros e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), têm sobre a Casa.
“Ela fez um movimento para alicerçar mais a base. No PMDB há correntes e temos que trabalhar para harmonizar essas correntes”, disse o líder da legenda no Senado a jornalistas.
Antes de consumar a troca de Jucá por Braga, Dilma conversou com Temer, Sarney e Calheiros. A gota d’água para a saída de Jucá, segundo uma fonte do Palácio do Planalto, foi a retirada de pauta do projeto que tratava da equiparação salarial entre homens e mulheres no setor privado, que a presidente queria sancionar nesta terça durante sessão solene na Casa em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Mas, na avaliação de uma fonte ligada ao PMDB, Calheiros sentiu certa desconfiança nos movimentos da presidente, já que ele acalenta o sonho de retornar à presidência do Senado e percebeu na decisão de Dilma uma tentativa de enfraquecer sua articulação.
Essa fonte avaliou ainda que Sarney também não aceitou bem a decisão da presidente, mas que não deve vocalizar discordâncias imediatamente e, provavelmente, escolherá outro momento para demonstrar o desgosto. “Vingança é um prato que se come frio”, lembrou a fonte.
Como vacina, o governo já recrutou Jucá para ser o relator do Orçamento para evitar os rumores de que perdeu a confiança no experiente senador, que já foi líder do governo no Senado em mandatos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. (com reportagem adicional de Ana Flor e Maria Carolina Marcello)