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Especialista critica “overdose de candidatos” e falta de projetos

Analista político prevê vida complicada para Airton Garcia, caso ele seja reeleito

15/11/2020 12h08 - Atualizado há 3 anos Publicado por: Redação
Especialista critica “overdose de candidatos” e falta de projetos Foto: Divulgação

Para o comentarista e analista político da POP FM, Henrique Affonso de André Sobrinho, o  Cebola, as eleições de 2020 foram marcadas por um exagero no número de candidatos, por planos de governo meia boca e um debate confuso. Formado em Letras pela Universidade Federal de São Carlos com pós-graduação em Gestão Pública pela mesma UFSCar, ele carrega a experiência de quem ingressou na imprensa em 2000. Porém, desde 2005 atua na área administrativa da UFSCar.  Apesar disso, ele nunca parou de atuar na mídia, agora como freelancer para jornais, rádios, agências de publicidade, campanhas eleitorais e também em traduções. Apresentou o Memória do Esporte na Rádio UFSCar e fiz parte da equipe Onda Esportiva, na rádio UFSCar e na internet. “Tive o prazer de trabalhar numa das épocas mais pujantes do jornalismo da cidade. No Primeira Página a equipe na minha época contou com Marco Rogério, Valdeci Gobo, Darlene Delelo, Renato Chimirri, Allan de Abreu, Jotinha Ribeiro, Flavio Fratucci, Marcos Escrivani, Edmir Pereira, Michel Lacombe, Mariucha Negrini, Henrique Buckwieser, Thais Massucio, Lia Bonadio, Leandro Rosa e mais uma série de bons jornalistas, vou cometer injustiça com certeza … era um time de jornal de cidade grande e uma grande escola”, afirma.

OVERDOSE DE CANDIDATOS – Até onde sei, é de fato o maior número de candidatos da história. Em 1982 tivemos oito. Apesar de parecer democrático, 12 candidaturas é demais. Não vamos nem falar de ideologia, pois é notório que não há na maioria dos casos não há qualquer tipo de preocupação com isso. O que ocorreu, na minha análise, é que não havendo as coligações proporcionais, os partidos não se viram obrigados a apoiar um candidato a prefeito específico. E mais, os partidos indicaram que privilegiariam chapas com candidatos a prefeito próprios. Por isso temos 10 candidatos sem coligações majoritárias e arranjos de pré-candidatos assumindo papel de vice de candidatos melhor posicionados. Isso, na prática, apenas confunde o eleitor, pois não há 12 projetos diferentes para a cidade. Os planos de governo escancaram isso.

FUNDO PARTIDÁRIO – Os partidos precisam se fortalecer para não caírem na cláusula de barreira nas próximas eleições nacionais, e as capitais e grandes cidades têm maior visibilidade, por isso o privilégio. O fundo aqui para São Carlos dos partidos pequenos seria ainda menor se não tivessem lançado candidatos próprios, retomando o ponto da questão anterior, e os candidatos a vereador, por exemplo, se revoltariam ainda mais do que já estão com a escassez de recursos. Quanto a candidatos a vereador recebendo verbas maiores que de prefeitos, existem situações muito discrepantes que devem ser observadas individualmente. Há candidatos com votações pregressas expressivas e perspectivas maiores de eleição, e creio que seja normal a diferença de tratamento, ainda que alguns possam considerar injusto. Outras discrepâncias saltam aos olhos, como candidatos a vereador com pouca visibilidade e campanhas tímidas, mas com muito dinheiro para gastar.

PLANOS DE GOVERNO – Existem planos de governo que não podem ser chamados como tal, essa é a verdade. Teve plano copiado quase na íntegra da eleição de 2016 – como na escola, “pode copiar meu trabalho mas muda um pouco para a professora não desconfiar” -, teve plano copiado de outra cidade que se esqueceram até de trocar o nome dos candidatos, teve plano de duas páginas sem qualquer proposta, teve plano com quase uma centena de tópicos sem explicação de como seria a execução (que poderiam ser resumidos em 10 e ainda assim seria pobre). Não posso dizer que todos eram pobres. Alguns tinham conteúdo, apresentavam problema e solução, apresentavam novas ideias para a cidade, ou até velhas ideias que nunca saem do papel mesmo que prometidas toda eleição. Mas como também comentamos muito, os candidatos em prefeituras não têm muito o que inventar. Em uma cidade como São Carlos os problemas são poucos se comparados a cidades muito maiores, estados e país. Saúde, educação, transporte público, trânsito, distribuição de água, asfalto… são problemas de todas as cidades do mesmo porte, e são estas as soluções que devem ser apresentadas. Para quê propostas mirabolantes se existem problemas históricos sem resolver? Por outro lado, outros problemas sequer foram considerados. Aqui temos as enchentes, e muitos candidatos não citam a palavra enchente em seu plano de governo. O que esperar de um candidato assim?

DESAFIOS PARA O PRÓXIMO PREFEITO – Transporte público, água e enchentes são os desafios que o próximo prefeito de São Carlos têm de enfrentar com coragem. Transporte público creio que nem seja um desafio, mas apenas uma questão de gente competente e comprometida sentar e fazer uma licitação, pode até ser nesse modelo que São Carlos adota a décadas. Se era possível fazer em papel de pão uma licitação do transporte público, por que ninguém foi à padaria? Já o SAAE passa por uma crise administrativa sem precedentes, e a população sofre as conseqeências. Os vazamentos, que na opinião do prefeito são gotículas, fazem com que metade da água tratada de São Carlos volte à terra, talvez seja uma estratégia que desconheçamos para a recarga do Aquífero Guarani. Porém, falta água nos bairros, o Monjolinho está cheirando a esgoto a partir da SP310 em todo o seu curso até se encontrar com o Gregório, as contas de água majoradas pela pandemia não foram resolvidas. E seguindo em água, ainda que sejam históricos os problemas de enchente no município desde a canalização do Gregório, o que foi feito nas últimas décadas para que os problemas sejam mitigados? Esses são os desafios, o restante dos problemas é questão de competência para administrar, não são desafios de fato.

DIFICULDADES PARA AIRTON SE FOR REELEITO – Creio que não terá vida fácil. A Câmara será muito mais ampla no aspecto ideológico ou de grupos de interesse, até mesmo porque uma renovação de pelo menos um quarto é garantida e o impedimento de coligações proporcionais e consequentemente o número de candidatos ajudará a eleição de candidatos de mais partidos. Chuto que cada cadeira “custará” 4700 votos no quociente eleitoral, e não será difícil para muitos partidos com mais de 25 candidatos alcançar isso. Além disso, há a tendência natural de segundos mandatos serem piores que primeiros, pois sem a preocupação com a reeleição o prefeito acaba relaxando e a oposição não faz a mínima questão de agradar. E, além disso, aqui em São Carlos, a eleição de 2024 começa amanhã. Naturalmente a oposição a um eventual segundo mandato terá interesse em inviabilizar um sucessor do grupo do Airton, que nesse momento, vejo como seu vice Edson Ferraz.

FIM DE UMA GERAÇÃO – Essa é a última eleição de um período que coincide com a nova República. A política municipal é um continuum desde a fundação. Nunca houve uma ruptura que sepultasse toda a classe política anterior e emergisse uma nova. Porém, esta eleição pode ser a última de uma era que se iniciou em 1982, com a eleição do Melo, que além de coincidir com o fim do regime militar foi o primeiro prefeito eleito pelo PMDB, já no pluripartidarismo depois de 5 mandatos da Arena/PDS. Como os partidos hoje em dia não querem dizer muita coisa, falamos em pessoas. Airton Garcia ficou no poder por doze anos, quatro com sua mãe Sra. Henriqueta vice-prefeita no governo Rubinho (1993/1996), quatro como vice de Melo (1997/2000) e agora mais quatro podendo converter em oito. É um tempo considerável, que o transforma em um nome marcante da história municipal. Porém, na próxima eleição nenhum dos representantes eleitos do executivo municipal que coincide com a nova república estarão em disputa. Herdeiros pode ser, mas eles em si, esta é a última eleição. Mandato saberemos só na noite deste domingo.

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