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Golpe de 1964 foi ação da elite contra mudanças no país, avalia professor

29/03/2014 17h03 - Atualizado há 10 anos Publicado por: Redação
Golpe de 1964 foi ação da elite contra mudanças no país, avalia professor

“O golpe de 64 deve ser lembrado como período triste da história brasileira, que parte da população se iludiu pensando que não era capaz de cuidar da própria vida, que precisávamos de tutores militares para fazer o pensávamos não ser capazes de realizarmos sozinho. Foi um período muito triste, que gerou barbaridades”, é assim o professor João Roberto Martins Filho, doutor em ciências sociais e professor do Centro de Educação em Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), resume o capítulo de 21 anos da história brasileira.

 

Na opinião de Martins Filho, o golpe militar aconteceu em um contexto único da história brasileira. “A sociedade brasileira teve uma polarização jamais vista na história”, resume.

Segundo o professor, a classe média brasileira da época, que segundo ele era acostumada a privilégios, se apavora aos ver as conquistas sociais de uma classe menos abastadas, como os trabalhadores do campo. “À época, tínhamos uma parte das Forças Armadas que queriam o golpe, a igreja católica que mantinha o seu conservadorismo e a classe média que orquestrou uma campanha para mostrar que as reformas eram o início do comunismo no Brasil, o que era um tremendo absurdo. As conquistas dos trabalhadores não tinham nada a ver com o comunismo”, afirma Martins Filho.

 

GOULART

Na opinião do docente da UFSCar, as reformas de base lideradas pela reforma agrária e defendidas pelo presidente João Goulart, em discurso feito na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, foram o estopim do golpe.

“Mas o que provocou o golpe não foi só o comício da Central do Brasil, mas as rebeliões dentro das forças armadas e a ideia de que a quebra da hierarquia militar era o prenúncio da revolução”, afirma.

Nos dias seguintes, lembra o professor, os oposicionistas se organizaram e promoveram seis dias depois a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, o movimento de base religiosa tinha como objetivo envolver o povo no combate ao comunismo.

“A Marcha queria alerta que o comunismo no Brasil estava na esquina, prestes a se instalar. Foi uma manifestação de massa, que visava, antes de tudo, a ideia de que a população brasileira estava chamando as Forças Armadas para terminar com o governo Goulart”, explica Martins Filho.

Ele acrescenta que a Marcha da Família com Deus pela Liberdade era encabeçada por um setor conservador da população brasileira. “Existiam pouquíssimas pessoas das outras classes sociais brasileiras. Foi a expressão de um conservadorismo agudo da sociedade brasileira dando conta que o comunismo chegaria ao Brasil”.

 

MODERNIZADOR

O professor João Roberto Martins Filho relembra que o regime militar no Brasil era conservador, anticomunista, porém modernizador. Ele destaca que foi no período do regime militar que estabeleceu-se no país a política nuclear brasileira, que houve a criação do metrô, a modernização dos sistemas de comunicação e a criação da indústria cultural.

“Foi um processo de modernização acelerado do país com base no governo autoritário, que não necessitava ficar aprovando projetos no Congresso, como a democracia exige”, observa.

Contudo, o professor pondera que o ensino brasileiro entrou na crise que vivemos hoje, entrando em decadência a partir da década de 1970. “A população ficou 21 anos sem exercer seus direitos políticos. Temos uma população sem educação política”, acrescenta, sobre o período, o professor da UFSCar.

 

DESIGUALDADE

 De acordo com o professor Martins Filho, apesar da modernização apresentada em alguns segmentos da sociedade durante o regime militar, a exclusão das classes sociais foi mantida durante a ditadura e isso reflete até o dias atuais. “Embora tivessem ocorrido evoluções como o desenvolvimento de programas habitacionais, a tendência brasileira de achar que o ‘povo lá de baixo’ não precisa de direitos continua até hoje”, afirma.

Martins Filho lembra que a imprensa, que apoiou o golpe num determinado momento, sofreu as consequências da ditadura. “Em função disso, hoje, a imprensa tem uma radical recusa ao regime da ditadura”, acredita. Questionado se o Brasil corre o risco de um novo regime militar, o professor acredita que essa possibilidade, no momento, não está no horizonte.

 

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