A dificuldade de enxergar mais longe
E uma verdadeira miopia, diria mesmo, pobreza de espírito, o fato de grande parte dos detentores de cargos públicos e políticos exprimirem desagrado – e por vezes revolta -, quando os jornalistas manifestam suas opiniões, ou dão destaques relativos a fatos e ações que interferem negativamente na vida dos cidadãos. É bom lembrar que, em primeiríssimo lugar, esses detentores de cargos públicos e políticos têm que prestar contas ao próprio cidadão, que é o responsável, direta ou indiretamente, por sua colocação nesses citados cargos. Ainda existe a tendência de muitos eleitos políticos e de responsáveis pela coisa pública se julgarem acima de todos os outros concidadãos: são perfis facilmente detectáveis, não só no decurso de seus efêmeros mandatos, como também na forma como se apresentam a todos os demais. Nos períodos de campanha eleitoral, é fácil esbarrarmos com cartazes e santinhos dos “Drs.”, como se isso fosse garantia de boa execução de um determinado trabalho ou de um conjunto de projetos, ou o sucesso de uma série de promessas mais valiosas do que as demais, já que se tratam de “Doutores”. Tenta-se, assim, ludibriar o povo. Por isso, a Papuda está lotada de doutores, engenheiros, professores e afins, que são experts no crime, organizado ou não. O político e o detentor de cargo público que é inteligente tem mais chance de sucesso do que aquele que simplesmente pretende ser o mais esperto! Em vez de fazerem cara feia, de destratarem ou vociferarem contra os jornalistas, os políticos e detentores de cargos públicos deveriam, sim, ser inteligentes e tentar atrair para as suas áreas de atuação os jornalistas, nomeadamente para ouvi-los nas questões que mais preocupam os cidadãos no seu cotidiano, tratando-os como uma espécie de “conselheiros”. É bom lembrar que o olhar do jornalista é abrangente, pois ele vê as coisas pela perspectiva do povo, não tendo dificuldade de enxergar mais longe, ao contrário daqueles que querem que ele veja tudo sob o ponto de vista da miopia político-partidária, tratando-o como “opositor”.
(*) Jornalista da área de ciência e tecnologia – correspondente internacional