Em tempos de Covid-19, deficientes visuais devem redobrar os cuidados
Em tempos de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus,
os deficientes visuais devem redobrar os cuidados para evitar o contágio pois o
contato manual é a sua principal maneira de interação. As formas de transmissão
da doença, por meio de gotículas de pessoas infectadas e pelo toque em
superfícies contaminadas, expõem as pessoas com deficiência a situações de
risco.
Segundo a Organização Nacional de Cegos do Brasil, situações cotidianas vividas
por deficientes visuais os colocam em maior vulnerabilidade, pois há utilização
frequente das mãos em corrimões, mesas, superfícies, bancadas e a necessidade
de contato direto com outras pessoas para auxílio nas atividades da vida diária,
sobretudo apoio de terceiros ao longo do percurso em ambientes externos.
A presidente da Associação dos Deficientes Visuais do Estado do Rio de
Janeiro, Cinthya Pereira Freitas, destaca que o principal desafio é a
necessidade de usar o tato o tempo todo e, assim, ficar mais exposto ao
contágio.
“Toda orientação, localização e informação que
a gente precisa captar do ambiente e dos objetos, tudo é feito através do tato.
Como as orientações das autoridades sanitárias é evitar o contato, o deficiente
visual tem que tomar um cuidado mais do que redobrado”.
Em sua rotina, Cinthya conta que assim que
chega da rua, ainda na porta de casa, faz a higienização da sua bengala. Ela
tem frascos de álcool em gel espalhados por pontos estratégicos da casa para
fazer a limpeza constante das mãos e das superfícies.
“Fora de casa é um desafio maior porque a
gente precisa tocar nas pessoas para pedir orientação, para a travessia de uma
rua, para a localização de um endereço, para pegar um ônibus, para se localizar
na saída de um metrô. E, hoje, em dia, está muito comum as pessoas negarem
essa ajuda por medo do contágio”, disse Cinthya.
Ela lembra que a orientação atual é apoiar a mão na parte de trás do ombro
quando aceitar ajuda na rua, em vez do cotovelo, pois a recomendação é de que,
ao tossir e espirrar, as pessoas o façam no antebraço.
Moradora da cidade de São Paulo, a advogada Thays Martinez precisa caminhar
todos os dias com sua cão-guia Sophie. Ela já incorporou à sua rotina a
higienização das patas, da guia e da coleira assim que voltar para casa, ainda
na porta de entrada.
Trabalhando em casa, Thays conta que faz muitas encomendas pela internet para
cumprir o distanciamento social recomendado pelas autoridades de saúde. Ela
observa, no entanto, que muitos aplicativos e conteúdo não são acessíveis. A
advogada destaca a necessidade da audiodescrição, da legenda em um vídeo ou de
um intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para que deficientes
visuais e auditivos tenham acesso à informação.
A Organização Nacional de Cegos do Brasil ressalta a necessidade da
acessibilidade nas campanhas de utilidade pública sobre a pandemia.
“Assim, o compartilhamento das informações
deve estar disponível com o recurso de audiodescrição, Língua Brasileira de
Sinais e em modos, meios e formatos acessíveis, incluída a tecnologia digital,
as legendas, os serviços de retransmissão, as mensagens de texto, a leitura
fácil e a linguagem simples”, diz a organização.