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Home office na educação provoca corrida de professores a psicólogos

Psicólogo confirma aumento da demanda de docentes aos seus serviços e confirma que muitos deles estão usando remédios para manter a sáude m

29/07/2020 08h52 - Atualizado há 4 anos Publicado por: Redação
Home office na educação provoca corrida de professores a psicólogos Foto: Divulgação

Escolas vazias. Aulas suspensas. Estudantes em casa. E os professores? Ah, estes estão quase enlouquecendo com tanta demanda das instituições para adaptar todo o planejamento presencial às aulas online. E não é só isso. A falta de familiaridade com o mundo virtual trouxe mais dor de cabeça. Os docentes se queixam que não houve (ou muito pouco) treinamento/orientação para esta mudança e estão se virando como podem.

A suspensão das aulas nas redes municipal, estadual e particular em São Carlos foi anunciada pelos órgãos governamentais em meados de março para tentar conter a pandemia da Covid-19.

“A Instituição enviou tutoriais e ‘baixou’ portarias que deveríamos seguir. Muitas dúvidas surgiram e a maioria delas quem sanava eram colegas que tinham mais intimidade com o mundo virtual”, relata o professor José, que dá aulas na rede estadual. De acordo com ele, a instituição para a qual trabalha tem se mostrado muito impositiva e não abre espaço para diálogo com o corpo docente. “Emocionalmente, eu estou muito abalada. Muita cobrança, muita pressão, pouco tempo, muito trabalho e ainda tenho que lidar com duas crianças em casa”.

Quem compartilha desta queixa é a professora Roberta, que tem observado uma indiferença da instituição para com os professores. “A sensação que tenho é a de ser tratado como uma extensão do aparato tecnológico. A cada dia, somos demandados a promover uma série de atividades, que, inclusive, não faziam parte da nossa rotina, gerando uma sobrecarga de trabalho e, consequentemente, cansaço, estresse e angústia”, indigna-se.

Psicólogo há 13 anos, Rodrigo Monteiro, que também foi professor da rede estadual paulista, afirma que após a quarentena e o trabalho remoto dos professores, vários docentes passaram a procura-los buscando manter a saúde mental.

“Com o início do isolamento social, os atendimentos passaram a ser, exclusivamente, on line. Antes da pandemia eu já atendia pacientes que moram fora do Brasil nesse formato, quando houve a necessidade do isolamento social, de comum acordo com meus pacientes presenciais, optamos por utilizar o formato online. Houve sim um aumento da demanda por meus serviços, não apenas de professores, mas de profissionais da saúde, também”, revela Monteiro.

Ele afirma que falando especificamente dos professores, as queixas mais comuns são relacionadas ao aumento significativo do volume de trabalho. “As plataformas online obrigaram os docentes a investirem um tempo considerável na elaboração e gravação de vídeo aulas (muitos não tinham nenhuma familiaridade com essas ferramentas), além das aulas ao vivo e dos plantões. Ouvi relatos de professores que estavam atendendo alunos depois das 23h, porque esse foi o único horário que o aluno conseguiu acessar uma rede Wi-Fi. Detalhe, o professor já estava trabalhando desde 7h”.

Monteiro não vê apenas aspectos negativos no home office na educação, mas afirma que é um sistema que precisa de ajustes. “Estamos concluindo que esse formato remoto pode ser mantido, em alguma medida, mesmo após o fim da pandemia. Em conjunto com as aulas presenciais, essa ferramenta pode mudar significativamente a dinâmica do nosso sistema educacional. Mas é preciso que haja uma discussão mais seria quanto às questões trabalhistas (jornada de trabalho e modelo de remuneração). A opinião de todos os professores, com os quais tive contato, seja durante as consultas ou no contato pessoal é de que houve um aumento substancial da jornada de trabalho… Acorda atendendo aluno e vai dormir atendendo aluno… Isso porque os alunos também estão se familiarizado com esse modelo remoto, a maioria está pensando que as aulas e os plantões são “Self Service” rsrsrs, eles solicitam o professor a qualquer hora”.

Segundo uma pesquisa divulgada pelo New York Post, houve, durante este período de pandemia, um aumento de 34,1% nas prescrições de medicamentos contra a ansiedade, 18,6% para antidepressivos e 14,8% para remédios que ajudam a dormir. “No caso dos meus pacientes professores, praticamente todos estão tomando algum desses medicamentos. Será necessário quebrarmos a cabeça um pouquinho, para que consigamos extrair todo o potencial desse novo modelo, mas de uma forma que os professores não sejam massacrados”, ressalta o psicólogo.

Monteiro afirma que a pandemia trouxe uma situação nova e totalmente inesperada, que muda paradigmas e mexe com a saúde física e mental das pessoas. “Vivemos aquele velho dilema do brasileiro de consertar o carro com ele em movimento”, conclui.

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