Espírito de Porco
O termo “espírito de porco” tem origem na sabedoria bíblica. Mais especificamente no Evangelho de Lucas, em que Cristo expulsa uma legião de demônios de um homem, lançando-os sobre porcos: “Saindo do homem”, diz o texto, “os demônios entraram nos porcos, e toda a manada atirou-se precipício abaixo em direção ao lago e se afogou”.
Independente das crenças religiosas de cada indivíduo, a expressão tornou-se popular, e um espírito de porco significa ser uma pessoa cruel; pessoa que, inspirada por sentimentos e desejos mesquinhos, acaba por complicar situações, invariavelmente levando os que o seguem (ou aqueles que influencia) para o fundo do abismo.
E, no Brasil, o que não faltam são os espíritos de porco; espíritos que ocupam todas as esferas, desde altos cargos da República até os fulanos e Sicranos desconhecidos, que caminham incógnitos pelas ruas.
Exemplo disso foi noticiado ontem, na Folha de S. Paulo. Segundo o jornal, a exposição “Conversas de Graciliano Ramos”, em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo, deve ficar fechada até a próxima segunda-feira (22), após uma caneta que pertenceu ao escritor, que estava exposta, ter sido furtada da mostra nesta semana.
Ou seja, a ação de um espírito de porco vai privar centenas e centenas de pessoas de aproveitar de uma mostra cultural. E por quê? Por puro egoísmo, no mínimo.
Claro, esse é um caso, apenas. Mas e os espíritos de porco que atuam no nosso trânsito, nas nossas escolas, nas nossas muitas instituições de poder político, econômico, social, cultural?
Nessa época eleitoral, quantos brasileiros estarão perguntando, como o presidente americano John F. Kennedy: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”? Até que ponto nossas ações individuais contribuem para o Brasil ser exatamente este Brasil que tanto criticamos?
