De volta ao comando da CBHb, dirigente concede entrevista exclusiva
Após ser afastado pela Justiça, Manoel Oliveira reassumiu presidência
Depois de 23 meses afastado da presidência da Confederação
Brasileira de Handebol (CBHb), por decisão judicial, o sergipano Manoel Luiz
Oliveira voltou ao cargo no final de março. O processo foi extinto na Justiça
Federal de Sergipe, estado natal do dirigente, porque os autores da ação
popular não deram continuidade ao processo. Desde 1989 à frente da CBHb, Manoel
Oliveira era acusado de irregularidades no uso de convênios públicos (confira
abaixo os detalhes do caso). Com a extinção do processo, o dirigente pôde
reassumir o cargo, cujo mandato só termina em fevereiro de 2021. O vice-presidente
Ricardo Luiz de Souza, o Ricardinho, que ocupou a presidência nesse período,
retomou a posição de segundo nome da entidade.
Irregularidades
Inicialmente protocolada na Justiça Federal de Brasília (DF), a ação
popular contra Manoel Oliveira acusava o dirigente esportivo de desviar
recursos do Ministério do Esporte, durante a realização do Mundial de Handebol
Feminino em São Paulo (SP), em 2011. Na ocasião, a CBHb fez um convênio com o
Ministério do Esporte no valor de R$ 5,9 milhões. Só que a parceria foi firmada
exatamente no dia do início do campeonato – 2 de dezembro – e a abertura dos
envelopes, com as propostas das empresas interessadas na prestação de serviços,
ocorreu no dia seguinte, 3 de dezembro de 2011.
Tal procedimento, segundo o tribunal de Brasília, demonstrou que os gestores da
entidade esportiva teriam escolhido, de forma antecipada, todos os fornecedores
das licitações e, mesmo depois do evento já ter começado, tentaram criar lastro
documental que justificasse as contratações já executadas.
Citando “graves prejuízos à execução dos programas de promoção e manutenção do
handebol brasileiro” e “absoluto desrespeito às normas que regulam a aplicação
dos recursos públicos repassados”, o juiz federal Rolando Valcir Spanholo
acatou pedido de liminar de seis federações estaduais e determinou o
afastamento imediato de Oliveira, no dia 6 de abril de 2008.
Retorno à presidência
Um ano e meio depois, o juiz de Brasília declarou-se incompetente para
julgar o processo e passou a ação para a Justiça Federal de Sergipe. O novo
juiz responsável, Ronivon de Aragão, acatou o argumento da defesa de que a ação
popular contra Manoel Oliveira não incluía cópias dos títulos eleitorais dos
denunciantes. Os documentos foram então solicitados aos autores da ação, mas
não foram apresentados no prazo determinado. Com a falta de resposta dos
autores, o juiz de Sergipe decidiu extinguir o processo no dia 9 de março de
2020.
O dirigente falou com exclusividade à Agencia Brasil sobre o período em que
ficou afastado do cargo e sobre o futuro.
Como o senhor recebeu a notícia da sua liberação para retornar ao cargo de
presidente da CBHb?
Manoel Oliveira – Recebi de uma maneira clara, com satisfação e alegria. Fui
legalmente eleito e retirado do mandado por uma ação que não foi correta. A
eleição, na qual fui eleito, foi conduzida de forma clara e transparente e a
vitória foi íntegra. Minha saída foi ruim. Sinto muita alegria por ter voltado.
Eu entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente. Não foi correto
a forma como me tiraram. Porém, também, ao mesmo tempo sei que o momento é
extremamente difícil e preocupante em função das perdas de patrocínios e da
atual situação do esporte em decorrência da pandemia. Inclusive o handebol.
Agora, é fazer o meu melhor nestes últimos dias da minha gestão.
Muitos atletas consideram necessária uma renovação no comando da entidade. O
seu mandato atual vai até fevereiro de 2021. O senhor pretende seguir à frente
da CBHb depois disso?
Manoel Oliveira – Eu acho correto mudanças. Realmente eu fiquei muito tempo e a
sociedade já não aceita isso mais. Porém, eu sempre dei o meu melhor e
conseguimos os melhores resultados na modalidade sob minha gestão. Pretendo
antecipar as eleições e não tenho nenhuma pretensão em continuar à frente da
CBHb. [Segundo a Confederação, o processo interno para essa antecipação já foi
iniciado. A primeira etapa é a eleição para a ampliação do colégio eleitoral e,
somente depois, ocorrerá a Assembleia para a deliberação a respeito da
antecipação da eleição presidencial].
Atualmente, como está a sua relação com o ‘Ricardinho’? [Ricardo Luiz de Souza,
é atualmente o vice-presidente da CBHb, mas ocupou a presidência durante o
afastamento de Manoel Oliveira].
Manoel Oliveira – Da mesma forma como era. Acredito que ele não tenha ficado
muito feliz com meu retorno. Porém, o direito de estar aqui me foi dado pela
lei. A Justiça que me reconduziu e não tinha porque não ser assim. Ele cumpriu
a parte dele e eu estou voltando para terminar o que iniciei.
Qual o seu planejamento em relação à sede da entidade? A ideia é ficar mesmo em
São Bernardo (SP)?
Manoel Oliveira – Os planos não foram alterados. A proposta é que a sede da
Confederação Brasileira de Handebol fique mesmo em São Bernardo do Campo (SP),
nosso grande legado olímpico da Rio 2016. [No período em que Ricardinho
comandou a entidade, além de reduzir o quadro de funcionários e congelar
algumas dívidas, ele também mudou a sede da CBHb de Aracaju (SE) para São
Bernardo do Campo (SP). A mudança, autorizada em assembleia geral em 2014,
possibilitou uma redução orçamentária anual de cerca de R$ 86,4 mil.
E a demissão do técnico espanhol Daniel Gordo? Foi observada mais a parte
técnica ou a financeira?
Manoel Oliveira – O contrato com o prof. Daniel Gordo era previsto até a
realização do torneio Pré-Olímpico, em abril de 2020, na Noruega. Com
determinação de suspender todas as atividades em decorrência da pandemia,
usamos do direito que tínhamos de romper o contrato. A questão financeira
também foi determinante. Não era interessante manter um contrato que naquele
momento, não tinha muito o que se fazer. Foi uma decisão consensual da parte
técnica da Confederação e a da Presidência. (Apresentado no final de novembro
de 2019, Daniel Gordo teve pouco tempo no comando da equipe masculina e
participou de apenas uma competição, o Centro-Sul-Americano de Handebol,
disputado em janeiro passado, no Paraná).
Até quando o senhor pretende anunciar o novo nome? A prioridade será mesmo a
conquista da vaga olímpica no torneio de março de 2021? O Brasil vai disputar
uma das duas vagas com Noruega [dona da casa], a Coreia do Sul e o Chile. A
vaga é viável? [Inicialmente previsto para abril de 2020, o Pré-Olímpico
Masculino de Handebol foi adiado para março de 2021, na Noruega]
Manoel Oliveira – Estamos buscando um novo nome. Temos tempo. De certa forma, a
pandemia [do novo coronavírus, covid-19] nos deu esta possibilidade de pensar e
tomar a melhor decisão. Com relação ao nosso maior objetivo para a seleção
masculina é realmente conquistar a vaga olímpica. Este objetivo está sendo
planejado e vai ter início neste ano, porém vai ser executado pelo novo
Presidente da CBHb.
Uma outra questão envolve o pessoal do handebol de praia. A modalidade criou,
em junho do ano passado, uma entidade própria para gerir o esporte. [A Novo
Beach Handebol Brasil (NBHb) foi criada a partir de um movimento de atletas que
estavam insatisfeitos com a administração da CBHb]. Muita gente se queixa da
falta de apoio por parte da CBHb. O senhor pretende mudar alguma coisa em
relação a isso?
Manoel Oliveira – Temos uma relação muito próxima com o Beach. Na nossa visão,
nunca deixamos de apoiar o Beach. Tivemos problemas em uma competição, mas
demos tudo o que pudemos, dentro da normalidade, e os resultados que temos, as
conquistas que temos, são frutos justamente do que a CBHb possibilitou.
Agradecemos muito a determinação e qualidade que nossas equipes têm, que nossas
comissões técnicas têm e, como consequência, somos os melhores do mundo.
Talvez, eles tivessem a expectativa de receber mais, mas a CBHb nunca deixou de
auxiliar como pode o Beach Handebol. Estamos tendo reuniões com as comissões
técnicas, com os dirigentes e com o diretor da modalidade, e tenho certeza de
que vai continuar tudo muito bem.