Major da PM sugere que vídeo pode ser “farsa”

21/09/2012 11h13 - Atualizado há 12 anos Publicado por: Redação

O comandante interino do 38º Batalhão da Policia Militar (PM) em São Carlos, major Paulo Wilhelm de Carvalho, afirmou que existe um trabalho conjunto sendo feito com a inteligência da Polícia Civil, em parceria com a PM, na tentativa de buscar outros dois suspeitos de assassinar com seis tiros há nove dias o soldado Marcos Aurélio de Santi, na cidade.

O major Paulo Wilhelm disse ainda que durante a semana foram feitas operações de revista em bares na cidade são constantes e fazem parte da rotina da polícia. “É muito comum nós realizarmos este tipo de abordagem, para localizar indivíduos armados. Essas ações visam reduzir as ocorrências de homicídio. A maioria desse tipo de crime nasce em bares com pessoas alcoolizadas”, relatou.

Ele foi além e disse: “Se houve abuso dos PM nessas abordagens não chegou oficialmente ao conhecimento da Polícia Militar e nem mesmo da Polícia Civil. O cidadão que se sentiu ofendido pode fazer sua queixa e reclamar”, declarou. Leitores do Primeira Página denunciaram truculência da PM durante abordagem em bares da cidade. Obrigando a todos a colocar mão para o alto e ficarem enfileirados com o rosto na parede.

Outro assunto levou o major Paulo Wilhelm a desfiar um tom de ironia. Ele afirmou que o vídeo apresentado pela rede de televisão local que trouxe um policial encoberto pela sombra denunciando que outro PM seria morto na área 16 (o número refere-se ao código de área das operadoras de telefonia), no início da semana, tem características de farsa. “O indivíduo que se propôs a fazer esse papel não pertence à corporação. Eu não acredito que se trate de um policial militar. Pode até ser um ex-PM como já aconteceu anteriormente”.

O major declarou ainda que a entrevista foi reproduzida para toda a tropa de São Carlos, o que levou os policiais ao riso. “Não estamos com medo. O policial sabe dos riscos da profissão e que o serviço é esse mesmo. E a corporação está dando combate à criminalidade como sempre fez”.

Ele disse ainda que essa atitude parece ser alguém mal-intencionado querendo instaurar junto à opinião pública uma possível fragilidade da PM e criar uma situação de medo. “Isso não existe dentro da Polícia Militar. Estamos atentos, até um pouco mais tensos que o normal em razão dos fatos da última semana e influenciados por um volume de informação que chega até nós que acabam não sendo confirmados”, relatou.

O comandante do 38º Batalhão disse que aumentou o efetivo nas ruas suprimindo folgas e férias para aplicar uma estratégia de tolerância zero. “Passamos a verificar muito mais casos que não nos atentávamos anteriormente e a acreditar mais em fatos suspeitos e a averiguar com muito mais intensidade”.

Sobre a falta de policial na cidade que hoje atinge perto de 30% do efetivo, o major Wilhelm disse que a tropa de São Carlos está dentro das especificações do comando geral da PM na capital.

A Organização das Nações Unidas (ONU) especifica um PM para cada 300 habitantes. Estima-se que a cidade tenha na ativa 240, três vezes menos que a recomendação. “O comandante geral, coronel Roberval França, está fazendo uma reestruturação da corporação e até o final do ano coloca mas 7 mil policiais nas ruas. Mas até o momento eu não posso afirmar a cota destinada para São Carlos”, finalizou.

Antidemocrático

Criminalista contesta abordagem da PM

Na avaliação do advogado criminalista, Arlindo Basílio, o Código de Processo Penal, em seu artigo 244, estabelece a permissão para que um agente policial possa abordar pessoas em via pública, em seus veículos ou dentro de estabelecimentos comerciais, aberto ao público, permite ao policial proceder a busca pessoal, mas somente “quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito”.

No caso da chamada “fundada suspeita”, a lei não a define de maneira clara, deixando, portanto, uma lacuna a qual pode dar ao agente de segurança pública um irrestrito poder discricionário para suspeitar. O advogado analisa que tal lacuna da fundamentação legal abre margem para práticas constrangedoras, baseadas em impressões subjetivas e muitas vezes ao arrepio dos direitos e garantias fundamentais.

“Daí, pode-se dizer que essas abordagens policiais, feitas principalmente em bares, lanchonetes ou mesmo essas blitze, em total desrespeito aos direitos fundamentais estabelecidos na constituição, com desprezo à dignidade humana, são totalmente ilegais. A jurisprudência é pacífica no sentido de restringir a discricionariedade do policial no caso de fundada suspeita, sobretudo quando a abordagem, por ela justificada, fere os direitos e garantias fundamentais”, declarou.