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Treinamento prepara o PM para a ação na vida real

05/11/2012 20h34 - Atualizado há 11 anos Publicado por: Redação
Treinamento prepara o PM para a ação na vida real

Era uma manhã normal com pessoas andando calmamente pelo shopping, fazendo compras e olhando as vitrines. Mas, de repente, uma sequencia de fatos interrompe a paz. Alguém dispara um tiro e um homem cai sangrando. As pessoas se assustam e começam a correr. Algumas procuram a saída de emergência, outras, no desespero, se refugiam nas lojas.

 

Ninguém sabe dizer de onde veio aquele tiro ou quem disparou. A única evidência é que há um segurança baleado na barriga que grita de dor no meio do corredor. Ninguém tem coragem de ir até ele, até que uma mulher de branco chega correndo para ajudar.

De alguma forma, alguém ligou para a PM, que chega rápido. De longe, é possível ver uma equipe protegida por um escudo balístico. Os policiais entram no shopping e, conforme vão passando pelas lojas, abordam, revistam e liberam clientes e funcionários. Lá fora, outra equipe recepciona os que saem.

De forma segura, eles conseguem retirar o homem ferido. Os policias avançam até encontrarem uma mulher que não quer abandonar a loja. Imediatamente, eles notam que há algo errado com ela. Antes que possa explicar, dois homens saem de trás das roupas com duas mulheres reféns.

Para a sorte de todos, o cenário aterrorizante é um treinamento para os alunos do 4º ano do curso de Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública da Academia do Barro Branco. O exercício durou o dia todo, aconteceu em um complexo de galpões e shopping center desativados, na Vila Guilherme, zona norte da Capital.

De acordo com o coronel José Maurício Weisshaupt Perez, comandante da Academia do Barro Branco, o treinamento é um exercício prático que procura simular o que os policiais enfrentam no dia a dia. “É um exercício para desenvolvimento da liderança em eventos de crise e tomada de decisão […]. Hoje, é um teste prático de tudo o que eles aprenderam na formação durante quatro anos, em várias situações e em várias ocorrências”, explica.

Segundo o Capitão Eduardo Cruz, responsável pelo departamento de comunicação da Academia, é a primeira vez que o complexo é usado para este treinamento, que ocorre uma vez por ano. A possibilidade de usar um ambiente adequado – como no caso do shopping, deixa o treinamento mais real e intenso.

 

Alunos oficiais

Apesar do treinamento ter foco nos formandos, os alunos dos primeiros e segundos anos também participaram durante todo o dia. Mas ao contrário dos colegas do último ano do curso, que assumem o papel de responsáveis por tomadas de decisões em diversas situações, os outros anos são figurantes. São eles que gritaram e se desesperaram durante o roubo do shopping e são eles que se transformaram em presidiários revoltados durante uma rebelião.

Aproveitando o enorme espaço disponível, os alunos do 3º ano tiveram seus treinamentos transferidos para a Vila Guilherme. Entre as simulações, uma abordagem em um ônibus cheio de passageiros, onde a situação varia desde uma parada rotineira até um suposto roubo em andamento.

 

Bases de treinamento

Além da experiência do roubo em shopping, com direito a tiro, baleado e gritaria, outra base de treinamento que fez muito barulho foi o galpão da revista prisional. Antes de cada atividade, os alunos têm uma aula que aborda o assunto. É durante a essa aula que são avisados sobre o que está acontecendo. Cada simulação é tratada como uma ocorrência real e o final muda, dependendo da postura do aluno oficial.

Por mais que já saibam da situação no “presídio”, é difícil não se surpreender com a rebelião. Vários figurantes só de shorts, com camisetas amarradas na cabeça, armados com pedras e madeiras, fazem uma fogueira no pátio. O fogo, o calor, a fumaça e os gritos dos presos atrapalham a comunicação e concentração dos policiais.

E eles não são dominados facilmente. Os presos atiram pedras nos PMs, que estão protegidos pelos escudos balísticos. As bombas de efeito sonoro explodidas dentro do galpão são ouvidas em todo o complexo mas, por fim, os policiais conseguem controlar a situação, encurralando os revoltos nas celas e retirando cada um por vez, de forma organizada e segura.

Nas outras duas bases, a situação não é fácil. No treinamento de desinterdição de via, os alunos precisam liberar uma avenida bloqueada com galhos de arvores, madeiras e lonas, cheio de manifestantes armados com frutas estragadas.

Enquanto tentam acalmar os participantes do protesto, os policiais são bombardeados com melões, melancias, tomates e abobrinhas. Em compensação, o uso de spray de pimenta é liberado.

 

Tomadas de decisões

A última – mas não menos importante – base de treinamento são, na verdade, 14 mini-bases. Em cada uma delas, há um tema e uma situação. O aluno tem apenas oito minutos para chegar, se inteirar da situação com os policiais que já estavam na ocorrência e tomar uma decisão.

Entre os 14 temas, os alunos precisam passar por situações envolvendo a imprensa, bloqueios policiais, local de crime, mulheres grávidas e condução de pessoas até a delegacia.

Para esse último, foi montado uma Central de Flagrantes da Polícia Civil, com direito a delegado, escrivão, vitima e indiciado.

Assim como nas outras bases, as oficinas de tomada de decisões variam de acordo com a postura dos alunos e nem sempre são aquilo que parecem ser. Em uma das oficinas, a situação parece ser simples: A Polícia Militar é chamada para apoiar um oficial de Justiça. Quando o aluno chega à ocorrência, descobre que outros PMs, em cumprimento a um mandado de busca e apreensão de veiculo, já arrombaram o portão da casa de um homem, que está nervoso e exige explicações.

Além de precisar explicar os procedimentos ao morador, o aluno precisa decidir como levar o carro. Os policiais irão dirigir? Irá chamar um guincho? O guincho passará pelo portão? É nesse ponto, que ele é avisado: houve um engano e, na verdade, o oficial de Justiça não tem um mandado de busca e apreensão. É um mandado de penhora.

 

Experiência

Para o aluno do quarto ano, Rogério Schimidt, o treinamento prepara o aluno para enfrentar situações reais que poderão acontecer após a formatura. “É importante porque o aluno pode estar vivenciando uma situação que irá enfrentar futuramente e, aqui, vivencia com o apoio de um oficial instrutor. Se, por acaso, tiver alguma dúvida ou se executou o procedimento de alguma forma inadequada, o oficial que está na base instruirá o aluno com orientações do que se espera de um futuro oficial”.

Não só os formandos aproveitam o treinamento. Mesmo participando apenas como apoio, a aluna do segundo ano, Vanessa Andrea Jeremias, acredita que o treinamento é uma junção de tudo que foi apreendido nas aulas. Além disso, assim como Rogério Schimidt, Vanessa acredita que a simulação prepara o aluno. “No treinamento que realizamos, somos todos colegas. Se nessa situação hipotética nem sempre conseguimos controla-los, imagine numa situação real, em que há pessoas com quem não tenho relação alguma. Como obedecerão? Por que facilitarão as coisas?”, questiona.

 

Resultados

“A população pode esperar do policial um gestor de segurança pública com uma excelência na prestação de serviços e, principalmente, na orientação de toda a equipe que vai trabalhar junto. Esse oficial estará atento aos mínimos detalhes, desde o tratamento com a imprensa, com as autoridades, com a comunidade, com a população em si e ainda primando pelo resultado que se espera em cada ocorrência da atuação de cada profissional”, finaliza o coronel José Maurício Weisshaupt Perez.

Todas as roupas, brinquedos e acessórios usados na construção das lojas do shopping, na tentativa de tornar o cenário mais próximo possível da realidade foram arrecadados pelos alunos e, com o fim do treinamento, serão doados a instituições de caridades.

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