70% das vagas de licenciatura em matemática na USP não são ocupadas
Das 30 vagas de licenciatura em Matemática oferecidas pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Usp de São Carlos, apenas 9 foram ocupadas, o que representa 30% do total. E esses números vêm se repetindo desde 2011, informa o ICMC.
Segundo Edna Maura Zuffi, professora e pesquisadora do Laboratório de Ensino de Matemática do Instituto, a relação candidato vaga do curso também reflete a baixa procura pelo curso de licenciatura: “Alguns anos atrás a relação chegou a 9 candidatos por vaga. Agora ela está em 3”.
Ela explica também que alunos começam a cursar, mas desistem por dificuldades de acompanhar a formação: “Como a procura no vestibular é menor, muitos alunos que ingressam têm formação deficitária em relação ao que é esperado no ensino médio”, explica.
A falta de alunos no curso de licenciatura se reflete no baixo índice de formação de professores: “A falta de professores é um problema que ocorre no Brasil há muito tempo”, afirma. Explica, por exemplo, que em regiões como o sertão nordestino e o centro-oeste, existem muitos professores leigos: “Aqui, estamos em uma situação melhor do que nessas regiões, mas de fato precisaríamos reverter esse quadro”.
Edna afirma que percebe que os alunos gostam de dar aula: “Porém, como a carreira não é muito atraente, principalmente no ensino público, alguns ficam um tempo ali e vão para o ensino privado, e alguns deles realmente abandonam a carreira docente”. Ela afirma que alguns seguem a carreira, mas salienta: “No entanto não é em número suficiente para manter o índice necessário de professores”.
O Instituto de Física da USP (IFSC) oferta 50 vagas anuais de licenciatura na matéria: “Das quais entre 30 e 40 são ocupadas”, afirma Osvaldo Novais de Oliveira Junior, professor e vice-diretor do IFSC.
Tanto a professora Edna quanto o professor Osvaldo afirmam que a dificuldade está em manter o professor na carreira, mas também em atrair pessoas que queiram ser professores.
Segundo Osvaldo, o maior problema enfrentado pelo país é a questão da educação básica e fundamental: “Estudos apontam vários problemas relacionados à educação, mas o mais sério é o salário do professor”, diz.
Para ele, a melhoria no salário dos professores deve ser feita de maneira urgente: “Minha maior preocupação não é com o presente, que já está suficientemente ruim, mas é com o futuro: daqui 10, 20 anos não teremos mias professores de qualidade. Nem para escolas particulares, pois não estamos formando professores”.
Falta de professores
Questionada se há falta de professores na cidade, a professora Edna diz: “Há sim. Mesmo aqui, que tem a peculiaridade de ter duas universidades públicas e uma particular que oferecem formação de professores na área de exatas, ainda há falta nas áreas de matemática, física e química”.
Segundo ela, alguns de seus alunos relatam que, ainda cursando o segundo ou terceiro anos, já são chamados para substituir a falta de professores formados.
A Secretaria de Educação do Estado informa que em toda região central (Araraquara, São Carlos e Taquaritinga) existem um total de 6,6 mil professores, e que não faltam docentes na rede.
A Universidade Federal de São Carlos também oferece cursos de licenciatura. A reportagem entrou em contato com a instituição, mas até o fechamento desta edição os dados a respeito de número de vagas oferecidas e ocupadas não haviam sido informados à reportagem.
