Protesto nos portos afeta exportações agrícolas do Brasil
Uma manifestação dos trabalhadores portuários iniciada na manhã desta sexta-feira, 22, em Santos e outros importantes portos do país, em protesto contra Medida Provisória 595, interrompeu as exportações de grãos e outros produtos agrícolas nos principais terminais brasileiros.
O protesto afeta os embarques de soja, milho e açúcar nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), num momento em que começa o escoamento de uma safra recorde de grãos do país.
Problemas logísticos brasileiros têm atuado como fatores de alta para os futuros dos grãos negociados na bolsa de Chicago e preocupado importadores, que em casos extremos têm trocado a origem de alguns carregamentos para os EUA.
A paralisação ocorre contra a MP que muda regulamentações portuárias e incentiva investimentos privados no setor, mas fragiliza relações trabalhistas, segundo os sindicatos.
“A adesão é total, começou a mobilização”, disse à Reuters o 1o secretário do Sindicato dos Estivadores de Santos, Cesar Rodrigues Alves. “Os estivadores estão a bordo, parados”, acrescentou.
O protesto de seis horas iniciado nesta manhã paralisou os embarques de soja e milho no porto de Santos, o maior do Brasil, confirmou a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). “Está tudo parado…”, afirmou diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes.
A greve interrompeu as operações em 17 dos 26 navios atracados em Santos, informou a autoridade portuária.
No porto de Paranaguá, o protesto realizado nesta sexta-feira paralisa todas as operações, informou a administração portuária. Com a manifestação, marcada para terminar às 13h, não há operações de carga e descarga em todos os 16 navios atracados no momento no porto, sendo três de grãos e farelo de soja.
“Tem um lineup (fila programada para embarques e desembarques) de mais de 90 navios em Paranaguá, mais de 50 em Santos, tudo isso já começa a atrapalhar sim”, disse Mendes à Reuters.
Segundo ele, o setor já enfrentaria desafios adicionais para exportar uma safra recorde de grãos, considerando a logística e infraestrutura deficitárias do país. E não pode perder tempo.
“Com a quantidade adicional que temos que exportar este ano, não podemos prescindir de nenhuma brecha”, afirmou o executivo da Anec.
JUSTIÇA PROIBIU PARALISAÇÃO
A paralisação ocorre apesar de um pedido de liminar do governo contra a greve ter sido deferido pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). A Justiça determinou que os portuários se abstenham de paralisar os serviços, sob pena de multa diária de 200 mil reais.
“Não cancelamos a paralisação porque elas já estavam marcadas. Por sinal, o governo só aceitou negociar porque íamos paralisar”, disse o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical e um dos líderes do movimento.
Segundo Silva, 30 mil trabalhadores no país pararam as atividades nesta sexta-feira. A afirmação do deputado foi feita antes de uma reunião com representantes do governo para negociar eventuais mudanças na MP.
Na próxima terça-feira, os trabalhadores marcaram outra paralisação de seis horas.
Os sindicalistas argumentam que as mudanças propostas pelo governo, dentro da MP que visa aumentar a eficiência dos terminais brasileiros e realizar investimentos públicos e privados de 54,2 bilhões de reais no setor, vão fragilizar as relações de trabalho da categoria.
A manifestação também ocorre no porto de Vitória. Segundo o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Aéreos, na Pesca e nos Portos (Conttmaf), José Adilson Pereira, apenas no porto capixaba pararam 1.700 trabalhadores do Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), o que teria afetado o trabalho dos outros 10 mil trabalhadores do porto público e dos terminais privados.
O protesto ocorre justamente no início do escoamento de uma safra em que se espera que o Brasil colabore para reforçar os estoques globais da soja após uma quebra da colheita em 2012 nos Estados Unidos, tradicionalmente o líder na produção.
Estima-se que o Brasil deverá liderar a produção e a exportação global de soja na temporada 2012/13.
Representantes das empresas logísticas Santos Brasil e ALL não estavam imediatamente disponíveis para comentar sobre os efeitos da paralisação.
A Triunfo Participações afirmou que o protesto não está afetando operações no porto de Navegantes (SC), pois o terminal é privado e os trabalhadores são contratados pela companhia. (reportagem adicional de Peter Murphy, Ana Flor, Reese Ewing, Roberto Samora e Alberto Alerigi)